Maré alta Versão para impressão
Quinta, 02 Fevereiro 2012

marealtaA S&P “atirou Portugal para o lixo” e assistimos logo a exculpações esfarrapadas e a queixumes incoerentes do governo. Aconteceu o que se previa, afinal o nosso rumo em relação à Grécia só nos diferencia na contestação social. Muitos, só agora começam a entender a fraude da doutrina dos bons alunos e da austeridade ao estilo salazarista como panaceia adequada. O “trabalho de casa” é um logro porque as fórmulas estão erradas, mas curiosamente as sondagens reiteram os resultados eleitorais, dando a maioria a um governo insolvente, sem soluções que diz uma coisa e faz outra. Um estudo recente foi explorado no sentido de demonstrar que a democracia não serve e transmite a necessidade do autoritarismo. É a manifestação do populismo e da demagogia que aproveita a conjuntura através dos argutos arautos de serviço, manipuladores de mentalidades e inspiradores da acefalia, onde só lhes falta orientarem as pessoas a usar o buçal para não comerem, ou quiçá, não “morderem”, não esquecendo as imprescindíveis palas nos olhos.

A “Regra de ouro” agora aprovada em Bruxelas é o xeque-mate aos estados, qual maré negra de medidas avulsas e levianas perdidas entre o keynesianismo e o monetarismo. O risco de falência de Portugal e a indefinição da Europa instrumentalizada confirmam o seu desnorte e o caminho do desastre provocado pela falta de medidas assertivas e da subordinação aos mercados financeiros. O BCE de costas voltadas para a Europa está ao serviço do terrorismo financeiro que afundou a Grécia e arrasta Portugal. Resultado, conceitos como democracia, soberania e solidariedade sofrem do síndroma “merkosiano” que ameaça o sistema social em processo de desumanização.

Passos Coelho regozijou-se com o “proençal” ou providencial sucesso das negociações, ao garantir um país submisso e prostrado, qual sacrifício humano em nome do capitalismo imparável. É a insaciedade de acumulação e da desforra ideológica, perante os falhanços de um modelo perigoso que escraviza e explora para sobreviver. Se as leis de Dracon foram escritas com sangue como afirmou Dêmades, as atuais estão escritas com sangue e veneno, o veneno paralisante do capitalismo predador.

A hipocrisia não tem limites e o FMI vem alertar para o perigo da austeridade qual alambazado que avisa para a necessidade de dieta e o risco de AVC. Sabemos que a austeridade não fica por aqui e de seguida virá uma nova maré de desculpas e promessas cobrindo um novo resgate impondo mais medidas violentas sobre a sociedade, misturada com adulterações criminosas às leis laborais. O governo e a troika continuam a fracassar nos cálculos, nas políticas e de falhanço em falhanço avançam de desculpa em desculpa. Enquanto isso, a pobreza e a fome aumentam assustadoramente. O SNS revive uma realidade há muito considerada proscrita e na educação assistimos a um retrocesso na tentativa de termos uma escola pública capaz de desenvolver um país. Dos desvalidos e esfomeados aos desempregados, não podemos esquecer aqueles que ainda a trabalhar e a contribuir, vão sentir o peso da exploração e da humilhação neste novo modelo de escravatura.

Neste contexto coloca-se a questão: Como podemos lutar para inverter este sistema? As greves são desgastantes para os trabalhadores sem produzir alterações e as manifestações não passam disso mesmo; Contudo, são indispensáveis e sem elas, seria a rendição total ao capitalismo avassalador que está a aproveitar e bem, a especulação internacional. Se não conseguem acalmar a tirania financeira dos mercados, temos nós de estar calmos quando nos atacam desta forma brutal? Aceitarmos a escravidão, é matar a liberdade e aceitarmos o empobrecimento, é rejeitar o progresso.

A resposta aponta a urgência de uma revolução e em democracia a revolução tem de ser a das mentalidades. Se a mudança político-parlamentar não muda, resta-nos uma vigorosa reação popular à asfixia provocada por uma enchente de austeridade. A realidade é outra e mostra-nos a angústia de quem está a morrer na praia quando a maré enche de tragédias. Ao fundo, vão também as lamúrias dos papalvos distraídos na sua letargia, estrebuchando para sobreviver, tolhidos também pela maré alta… Recordo que para nos fazermos à “faina”, é preciso perder o medo e é importante aproveitar a maré alta…

Paulo Cardoso

 

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