A política do encaixotamento Versão para impressão
Terça, 13 Março 2012

abandonoidosos

Os e as idosas têm sido notícia nos últimos meses. Mortes solitárias lançam um alerta para o qual o país não está preparado. Mesmo ao nosso lado podem estar pessoas completamente sozinhas, sem os mínimos que garantam dignidade de vida e sem meios para pedir ajuda em situações limite.

Artigo de Helena Pinto

As situações no interior do país, nas aldeias despovoadas, são muito preocupantes, mas sabemos que nos centros das cidades grandes ou médias, muitas delas também despovoadas, as situações repetem-se.

Ninguém desmente, nem pode ignorar, que os idosos e as idosas estão abandonados e a sociedade não está preparada para o envelhecimento crescente da sua população.

A este problema, já de si dramático, junta-se a vulnerabilidade que os expõe de forma particular enquanto vítimas de vários tipo de crime, desde a burla, a extorsão financeira à violência doméstica quer praticada por familiares, quer em instituições.

Este sábado, o Ministro Mota Soares, ministro da solidariedade social, apresentou mais uma medida de apoio aos idosos: mudanças na lei vão permitir que os lares, assim como num golpe de mágica, criem dez mil novas vagas.

Já conhecíamos esta tática, foi aplicada nas creches e jardins de infância e é muito simples: onde antes cabiam três passam a caber cinco e onde cabia um, cabem dois. Nem mais nem menos, “encaixotemos” mais idosos, eis a solução.

A problemática dos idosos e idosas é um dos desafios mais sérios da atualidade. Como vamos lidar com o envelhecimento crescente? Como vamos fazer com que estas pessoas sejam úteis e se sintam úteis? Como resolver o problema do isolamento? Como garantir cuidados médicos àqueles que deles necessitam? Como respeitar a sua dignidade e a sua vontade própria?

É óbvio que a família tem um papel fundamental, mas há que analisar, em primeiro lugar as medidas do Governo e o seu impacto nas famílias e nas pessoas idosas.

Este governo e as medidas de austeridade impostas pela troika não têm um mínimo de sensibilidade social e todas as políticas trazem uma marca - são contra os idosos: a nova lei do arrendamento, os cortes nos apoios sociais, os cortes no financiamento às instituições de solidariedade social que estão a ficar impossibilitadas de continuar o apoio que prestam, a política em relação ao transporte público, as taxas moderadoras, o corte no transporte de doentes “não urgentes”, a redução dos serviços de saúde e de outros serviços públicos, como os correios, etc., etc., a lista não tem fim. A tudo isto se junta a política de empobrecimento, do desemprego, dos baixos salários, que leva a que as famílias disponham de menos meios para apoiar os seus idosos.

Empobrecem os filhos que têm que ajudar os pais, eles próprios pertencentes a gerações que tanto trabalharam, mas hoje recebem pensões miseráveis. Os aumentos nas pensões são ridículos e persiste-se na política cega que impede a desburocratização do Complemento Solidário para Idosos.

E perante este cenário, a resposta limita-se a apostar na sobrelotação dos lares. Não é criar mais estruturas adaptadas às necessidades das pessoas, incluindo lares, mas não só, centros de noite, serviços que garantam apoio e vigilância 24 horas por dia, apoio domiciliário. Não, a resposta é “encaixotar”. Se se confirmar o anunciado, que instituições que hoje têm 60 pessoas passam a ter 120, o dobro, a pergunta impõe-se: qual vai ser o reforço dos recursos, com particular destaque para os recursos humanos, que estas instituições vão ter? Vão duplicar os funcionários? Ou quem trata de 60, trata de 120?

Esta medida, anunciada com a pompa do costume é um insulto aos idosos e idosas, da parte de um Governo que todas as medidas que toma são exatamente em sentido inverso, daquilo que deveria ser motivo de mobilização nacional – encontrar as políticas certas, no nosso tempo, para as gerações mais idosas, valorizando os seus saberes, a sua vontade e garantindo a sua DIGNIDADE!

Ou será, que a solidão é a única certeza, em casa ou numa instituição?

 

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