Recensão com sabor amargo |
Terça, 27 Março 2012 | |||
A obra "4 ismos em foco" de William Ebenstein[1] transmite-nos a análise deste politólogo sobre os principais modelos de governação, o comunismo, o fascismo, o capitalismo e o socialismo. Tal abordagem conduz-nos do totalitarismo agressivo, a uma sociedade equilibrada e livre, contextualizada na dialética política espaço/tempo, na primeira metade do século XX, em plena guerra fria. Este facto ajuda a explicar o ponto de vista do autor e nele “se percebe” a tendência de promover a via do capitalismo, ao condenar o nazismo do Terceiro Reich: apologista do antiparlamentarismo, do nacionalismo, do racismo, da eugenia (“pureza da raça”), do antissemitismo, do anticomunismo, e do totalitarismo. Ebenstein condenou, também, o comunismo, conotando-o de forma desacertada à então URSS e em relação às críticas que fez a Karl Marx, o autor poderia constatar hoje o quanto se enganou, ao mencionar os fundamentos marxistas (económicos - “teoria do coveiro”) como profecias. Em rigor, o comunismo nunca existiu e por certo, a sociedade do "pão e das rosas" em que as "classes se extinguem", não será possível num futuro próximo. O comunismo está nos antípodas do fascismo e do nazismo, assentes no poder de uma ditadura sanguinária de uns poucos sobre milhões. O socialismo e o comunismo só o poderão ser se alcançarem a democracia e a liberdade dos milhões. Mais ainda se equivocou quando considerou o socialismo como utópico, defendendo a sua exequibilidade, apenas associado ao capitalismo e, hoje percebemos que a social-democracia, o braço político do capitalismo dito democrático, é a marca do grande desastre neoliberal e além de derrotada, a social-democracia confronta-se com a sua substituição mais à direita. O Socialismo enquanto modelo de governação nos estados de leste originou uma evolução social e económica enorme, com grande desenvolvimento dos serviços públicos e do bem-estar social. Mas à medida que degenerou e foi absorvido pelo capitalismo de estado, tornou-se num sistema não democrático e ditatorial, completamente reprovável por quem defende o verdadeiro socialismo. As crescentes manifestações autocráticas emanadas da UE, o apoio parcial ao governo de extrema-direita da Hungria, com tecnocratas a substituírem governos e os referendos a serem proscritos como políticas democráticas non gratas, são avisos sérios da transformação sociopolítica da Europa que ainda não recuperou do nazi-fascismo de Mussolini, Hitler, Franco e Salazar. Atualmente o neofascista Berlusconi mostrou-nos como o poder associado ao populismo manipula as massas através da imprensa populista; Sarkozy, em campanha, deu ordens às forças de segurança pública para reprimirem os trabalhadores siderúrgicos; a candidatura da extrema-direita xenófoba, em França, por Marine Le Pen é o sinal do incremento da direita racista na Europa; a envolvência de um membro de várias organizações de extrema-direita pan-europeia, no terrífico duplo atentado neonazista na Noruega, foi mais um aviso que a extrema-direita está ativa e perigosa. Inclusive, aproveita bem o crescimento do eurocepticismo e os acontecimentos como os de Toulouse para reforçar as teses dos defensores da ditadura universal assente numa “democracia” que serve o capitalismo. Ao nível dos estados, a França e a Alemanha dão sinais de quererem anular o “Acordo de Schengen” acompanhando os sinais protofascistas nacionalistas que aparecem um pouco em todo o lado, trasvestidos nos corredores da política europeia. Estes servem-se do poder, dito democrático, acompanhando as progressões do capitalismo sem perder a capacidade de se manterem aliados ao poder, mesmo que demonstrem o contrário. Igualmente, Joseph Ratzinger, chefe de estado do Vaticano, de visita ao México e a Cuba, alerta contra o marxismo, quando o mundo vive asfixiado pelo capitalismo, lançando a confusão sobre a dimensão e a definição do mapa geopolítico. Ao contrário, a esquerda arredada dos centros de decisão, não só, não consegue contrariar os avanços da direita, como apresenta ruturas sintomáticas na sua organização… Ainda a contrapor as alternativas de esquerda os gurus, arautos “iluminados” na imprensa, vão maquilhando a estratégia da direita e do poder cleptocrático assente nas democracias de mercado dominadas pelos mercados financeiros. Os recentes casos de censura na imprensa e a manipulação de níveis de audiência e de sondagens, mostram bem os bastidores de uma democracia refém da corrupção, resultado de um capitalismo que Ebenstein não previu, nem soube ler nas “profecias” marxistas… É urgente que esta realidade seja compreendida, que se esclareçam todas as transfigurações e discursos da inevitabilidade. Cada dia que passa é um dia em que a “besta” capitalista fica mais forte e devastadora. Se o combate agora parece difícil, amanhã exigirá mais sacrifícios e sofrimento. Os 4 ismos foram apresentados como a grande decisão das escolhas de um novo paradigma para a sociedade. O autor foi assertivo quando referiu o totalitarismo e a democracia como conceções diametralmente opostas, nesta análise filosófica de cariz sociopolítico e quando se pensava que o fascismo não teria lugar numa sociedade moderna. Mas o conservadorismo ensaia, enraíza e capitaliza com tiques protofascistas apoiados no populismo. Entretanto por cá, o regime mudou e o capitalismo não resolveu os problemas económicos do país com séculos de sacrifícios por parte do povo. Mais próximos da “tragédia grega” e perante a apatia popular ao bom estilo salazarista de “pobrezinhos mas honrados”, são dados a provar os enchidos e vinhos de Santa Comba Dão com a marca Salazar, que é de per si um sabor amargo… Paulo Cardoso
[1] William Ebenstein, Professor da Universidade da Califórnia, Santa Barbara (1910/1976)
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