Calar o Teatro? Para quê? Versão para impressão
Terça, 27 Março 2012

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Durante a minha formação na Escola Superior de Teatro e Cinema, ouvi uma frase de um professor que me persegue até hoje. Dizia ele, que o Teatro, na antiga Grécia, tinha como função primordial tornar os cidadãos melhores, em favor da democracia. Hoje, olho para a democracia… e olho para a Grécia. Uma premissa também conduziu toda minha formação: fugir do óbvio e dar ao espectador uma leitura aberta. Isto é democracia.

É por isto que a Arte é fundamental para o desenvolvimento social e económico e não se restringe à afirmação da identidade de um povo. Mostra-nos que a vida é partilha de sonhos, de esperanças e de possibilidades infinitas, onde o certo e errado é questionado com beleza e fervor, dando assim a cada um o grande prazer de sentirmo-nos vivos e de ter a liberdade de fazermos escolhas. Não admira que as taxas de ocupação nos teatros tenham aumentado. Há uma necessidade cada vez maior de descobrir coisas novas nos outros, de alguém que nos diga coisas diferentes, que nos mostre outros caminhos.

Há uma nova geração de criadores que perdeu o medo de errar e do ridículo. A qualidade e seriedade do que se faz em Portugal não devem em nada ao que se faz por esse mundo fora. Há um número cada vez maior de novos artistas com formação superior e no entanto, os apoios são reduzidos drasticamente, chegando ao ridículo de apenas aumentarem os apoios à internacionalização. Não tenho nada contra estes apoios, desde que não acabem com os apoios às novas companhias e criadores, que foi o que aconteceu. Agora, o dinheiro dos contribuintes para novas produções vai para aquelas que são feitas fora do nosso território, ou seja, o espectador/contribuinte terá que sair do país para ver o que se faz de novo em Portugal. O que é que o governo ganha com isto? Ganha mais uma classe profissional revoltada e contestatária, que há muito que reclama uma lei de bases para as artes do espectáculo e audiovisual. Uma lei do mecenático consistente e articulada com estruturas de criação artísticas, tecido empresarial, programadores, estado e autarquias precisa-se. Todos ganharíamos com isso e não há desculpa de contenção orçamental que valha. É tudo uma questão de dinâmica e de articulação, que gera emprego e riqueza e que pode dar um contributo fortíssimo no combate à desertificação das nossas cidades, pois uma cidade com uma boa programação cultural é bem mais agradável de viver.

É inútil esta tentativa absurda de nos calarem. Enquanto houver homens e mulheres neste mundo, haverá sempre muitos e muitas com boas histórias para contar e muitos e muitas sedentas de as ouvir.

Pedro Filipe Oliveira

Actor, encenador, director artístico do Teatro do Azeite.