Para a rutura com a miséria, é preciso um governo de esquerda Versão para impressão
Quarta, 06 Junho 2012

 

austeridade_escolha

Os novos instrumentos do capitalismo são a austeridade e o autoritarismo. O primeiro serve de moralização sobre a economia doméstica, passando a mensagem de que vivemos acima das nossas possibilidades e que, por isso, nos resta viver pobres e honrados; o segundo serve para impor a austeridade e a resignação, dando a entender que não há outro caminho possível. É assim que o capitalismo se tenta recompor da crise provocada por ele mesmo.

A resignação popular não pode ser entendida como aceitação. Entendamo-nos: não há aceitação popular sobre o aumento de impostos; nem há aceitação sobre os cortes nas pensões e nos salários; não há aceitação sobre o despejo de dinheiro nos bancos e a razia feita aos bolsos dos portugueses. Não há aceitação, mas há resignação. Ela resulta da dificuldade de se perspetivar alternativas. Resulta também de um intenso trabalho de formação de pensamento único.

Para a resignação muito têm contribuído os social-liberais e os social-democratas que, experiência atrás de experiência, têm advogado a estratégia ir para o governo para impor a austeridade e a exploração soft. Todos os outros que à esquerda – os Verdes na Europa são disso exemplo – têm como tática ir para o governo com os social-liberais, ficando a administrar o ataque sobre o povo, não têm servido para mais nada do que amplificar a resignação. Cohn-Bendit é disso exemplo no seu ataque desesperado à Syriza.

Percebemos todos que estamos, mais do que nunca, num momento de construir alternativa pela acumulação de forças e não num momento de construir a resignação pela venda de princípios e esperança popular. É por isso mesmo que a esquerda deve apostar na construção popular de um governo de esquerda e não na aritmética possibilista de governação com social-liberais.

A tarefa contra a resignação passa, em primeiro lugar, por traçar a geografia das trincheiras. O governo de esquerda é anti-austeritário; logo, traça o seu campo do lado daqueles que são contra a austeridade, contra a troika, contra a essa gigantesca transferência de dinheiro para o topo da pirâmide. A esquerda que quer um governo de esquerda não só não está presa a acordos com o FMI, como rejeita toda e qualquer austeridade para o povo; é uma esquerda que se opõe aos instrumentos de dominação do capital e, por isso, também se opõe à NATO e aos dispositivos de autoritarismo.

O governo de esquerda não se faz da aritmética; deve fazer-se pela conquista da maioria social, pelo envolvimento de movimentos e sindicatos e com alicerce na democracia participativa.

Para o governo de esquerda não pode haver programa menos exigente do que o que contemple a auditoria e renegociação da dívida, a recusa de submissão a juros usurários, a nacionalização dos setores estratégicos do Estado, o relançamento da economia pelo aumento do poder de compra (com aumento de salários e de pensões) e pela reconquista dos direitos laborais, a redução de impostos sobre as pessoas. O governo de esquerda não paga dívidas de corrupção e passa as faturas aos de cima e não aos de baixo.

É um programa que não agregará, provavelmente, a esquerda resignada – veja-se o PASOK na Grécia - e vendida à troika; mas é um programa pensado para a maioria social e popular e não para a aritmética partidária. É um governo para quebrar com a resignação e conquistar a alternativa. É o desafio de uma vida para a esquerda comprometida com a população e com a alteração radical do regime que protege apenas os de cima.

Moisés Ferreira

 

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