Um Orgulhoso Arco-íris LGBT em Lisboa Versão para impressão
Quarta, 20 Junho 2012

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Dia 23 de Junho, Lisboa veste-se, orgulhosa, com as cores do arco-íris revelando a diversidade e complexidade do ser humano. Trata-se da 13ª Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa, uma manifestação já histórica que chama a atenção para os direitos ainda por conquistar por todas as pessoas. Orgulho que se opõe à vergonha do anonimato e da opressão de que as pessoas LGBT foram alvo e que ainda continuam a ser.

Tudo começou em Stonewall Inn no ano de 1969 e desde aí o arco-íris libertou-se da clausura do anonimato e saiu à rua. Em Stonewall Inn era comum a polícia efectuar rusgas aos bares gay e trans de modo a assediar os clientes que os frequentavam e prender travestis. Porém, no dia 27 de Junho de 1969, numa rusga policial de rotina no Stonewall Inn, em Christopher Street (conhecido ponto de encontro para gays e trans), a força policial deparou-se com um panorama diferente do habitual uma vez que os clientes, fartos da opressão e violência de que eram alvo, reagiram com indignação ao assédio policial e retaliaram. Esta retaliação apesar de ter levado a dezenas de detenções marcou, sem dúvida, um ponto de viragem importante. Este ponto de viragem ocorreu pela tomada de consciência de que gays, lésbicas, trans estavam a ser atacados e oprimidos enquanto grupo, posto isto, somente unindo forças e organizando-se também num colectivo poderiam fazer face a esta opressão e lutar pelos seus direitos humanos e cívicos.

Foi um primeiro passo para o surgimento de diversos colectivos que lutam de forma activa, social e politicamente pelos direitos LGBT. A partir daqui, grupos LGBT saíram à rua em protestos marcando assim uma mudança na sociedade civil. É neste contexto que nasce o orgulho LGBT, numa década em que se ouviam nas ruas os protestos contra a guerra do Vietname e as marchas em nome dos direitos civis para os negros.

Os grupos LGBT conquistaram o espaço público recusando o anonimato, a opressão, a violência de que eram alvo e ganharam a sua voz política. Todos os anos a Gay Pride marcha em nome dos direitos LGBT pretendendo romper barreiras sociais e politicas e rasgar o preconceito contribuindo, deste modo, para a criação de um mundo mais equalitário e justo.

Em Portugal a marcha do Orgulho desfila em várias cidades, tendo já acontecido a Marcha do Orgulho LGBT de Coimbra e estando para acontecer a marcha do orgulho do Porto e dos Açores que ocorre este ano pela primeira vez.

Como acontece todos os anos, a Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa constrói um manifesto que é reflexo das reivindicações conjuntas dos de 21 colectivos LGBT que compõem a comissão organizadora. Este manifesto pretende trazer para a agenda política temas cruciais para a igualdade de direitos revelando, simultaneamente, as vozes da diversidade.

Neste mês LGBT que é Junho, erguem-se as vozes daquelxs que reivindicam uma transformação profunda da sociedade civil ainda tão marcadamente conservadora e discriminatória.

O Manifesto deste ano aborda diversas temáticas cruciais para mais um passo na conquista de direitos fundamentais das pessoas LGBT, passando pelas questões laborais, HIV, educação, luta contra a violência, despatologização trans, o direito à parentalidade, o direito à sexualidade na velhice, entre outros.

Este ano assistimos a um chumbar no nosso parlamento de uma lei, apresentada pelo BE, que permitiria a parentalidade. Esta rejeição mostra-nos o longo caminho ainda a percorrer. O casamento entre pessoas do mesmo sexo foi conquistado, mas esta vitória tão significativa fica incompleta quando é barrado o direito à parentalidade, seja pela proibição da adopção, perfilhação ou da reprodução medicamente assistida de casais de lésbicas ou de mulheres solteiras. Esta resistência a um direito fundamental como o de constituir uma família é revelador de uma sociedade marcadamente heteronormativa, mononormativa e descolorida na sua concepção. Uma sociedade que é conceptualmente fictícia porque ignora a realidade das pessoas que a compõem.

Educar a sociedade civil revelando a diversidade que ela comporta e o respeito por essa mesma diversidade exige uma reflexão e um romper das barreiras fictícias do binarismo com que fomos educadxs.

As constelações afetivas, identitárias e sociais são variadas e o ser humano é demasiado complexo para o podermos definir de forma simplista e básica. Na verdadeira compreensão da natureza humana não poderão existir dogmas nem verdades absolutas. Ter a capacidade de rasgar estereótipos e observar, pensar sobre, reflectir, compreender e respeitar a nossa diversidade humana é um passo decisivo para a democracia e justiça social.

A mudança de mentalidade na sociedade civil é lenta e por esse motivo é de crucial importância um sistema educativo livre de estereótipos e de ideias preconcebidas relativamente ao género e à orientação sexual. Uma educação inclusiva, formal e informal, desde a mais tenra infância é fundamental para uma transformação de fundo com vista a uma efectiva igualdade de género.

Numa altura de crise, existe uma maior vulnerabilidade à opressão e à violência. A discriminação de género, de orientação sexual, o bullying, a homofobia, bifobia e a transfobia ganham assim terreno. Como salienta o Manifesto, lutar contra estas e todas as outras formas de discriminação é um dever de todo o colectivo.

Já na altura de Stonewall Inn as manifestações afectivas de pessoas LGBT eram remetidas para a invisibilidade pública pela vergonha e opressão. Ainda hoje as pessoas LGBT são potencialmente vítimas de assédio caso manifestem afectividade fora de portas. Remeter para a invisibilidade as manifestações afectivas e relacionais entre pessoas LGBT é também uma forma de discriminação e violência que impossibilita uma vivência relacional livre e autêntica.

O afecto entre humanos é um importante alicerce do bem-estar da sociedade e dos indivíduos permitindo o desenvolvimento de uma sociedade mais justa, solidária e harmoniosa, como tal, não existe qualquer motivo para a vergonha nem para o assédio.

A agenda política deverá integrar e potenciar a diversidade humana não permitindo a existência de leis proibitivas aos direitos de algumas pessoas.

Que este dia 23 de Junho seja uma voz que se multiplique e se expanda não só na sociedade civil mas também politicamente. Que a cegueira se dissipe permitindo por fim uma visão clara, livre, justa e diversa das cores e da complexidade da nossa sociedade humana.

Dia 23 de Junho, pelas 17 horas no Príncipe Real, vem marchar pelos direitos de todxs!

Nádia Cantanhede

 

Sobre a rebelião em Stonewall Inn: http://topics.nytimes.com/topics/reference/timestopics/subjects/s/stonewall_rebellion/index.html

Manifesto da 13ª Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa em: http://marchaorgulholgbtlx2012.blogspot.pt

Comissão organizadora da 13ª Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa: APF – Associação para o Planeamento da Família (www.apf.pt), AMPLOS (www.amplosbo.wordpress.com); ATTAC Portugal (www.attac.pt), Clube Safo (www.clubesafo.com), GAIA (www.gaia.org.pt), GAT (www.gatportugal.org), Grupo Transexual Portugal (facebook.com/pages/Transexual-Portugal), ILGA Portugal (www.ilga-portugal.pt), Janela Indiscreta (www.queerlisboa.pt), Médicos Pela Escolha (www.medicospelaescolha.pt), Não te Prives – Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais (www.naoteprives.org), Opus Gay – Obra Gay Associação (www.opusgay.org), Panteras Rosas – Frente Contra a LesBiGayTransfobia (www.panterasrosa.blogspot.com), PolyPortugal (www.polyportugal.blogstop.com), Precários Inflexíveis (www.precariosinflexiveis.org), Rede ex aequo (www.rea.pt), Rumos Novos (www.rumosnovos-ghc.blogs.sapo.pt) , SOLIM – Solidariedade Imigrante (www.solimigrante.org), SOS Racismo (www.sosracismo.pt), UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta (www.umarfeminismos.org), UGT (www.ugt.pt)

 

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