A “zona de conforto” Versão para impressão
Quarta, 04 Julho 2012

 

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São várias as inevitabilidades que são “impostas” à mais qualificada geração que Portugal alguma vez conheceu. Com a recessão e o ataque imposto pela austeridade, os discursos falaciosos têm vindo a ganhar força. Num contexto em que a meritocracia é rainha, surge associado o empreendedorismo. Na vanguarda deste movimento encontram-se, como não seria de estranhar, o PSD e o CDS. Michael Seufert, deputado do CDS, com o seu discurso no mínimo incoerente tem vindo a tornar-se na figura de proa do empreendedorismo. O deputado estudante, como é apelidado na comunicação social, é o porta-voz desta ideia que será, segundo ele, a solução para a crise e as elevadas taxas de desemprego entre as camadas mais jovens.

Desde os pseudo-programas de incentivo ao emprego jovem que mais se assemelham a institucionalizações da precariedade passando pelos comentários dos supra-sumos da política portuguesa, os jovens continuam a ver os seus direitos negligenciados e o seu investimento na educação menosprezado. Ainda assim, são-nos apresentadas, de forma veemente, duas “soluções” para combater o desemprego jovem em Portugal – a emigração e o empreendedorismo.

Num país em que se tiram licenciaturas num ano ou em que se terminam cursos ao Domingo é no mínimo ridículo aceitar a imposição de um discurso que nos toma a todos por seres acéfalos, acomodados e sem qualquer tipo de pensamento crítico. O discurso dominante apregoa que cada um dos milhares de jovens desempregados deve sair da sua zona de conforto: emigrar, criar a sua própria empresa… Tudo aquilo que não envolva incubar uma ideia, criar um projecto ou atrair investimentos é secundarizado. Num momento em que somos incitados a contrair empréstimos para pagar os nossos estudos, em que as bolsas da FCT foram cortadas de forma brutal e os apoios à investigação científica em Portugal quase não existem, tentam impor-nos a ideia de que apenas terá valor no mercado de trabalho aquele que tiver uma iluminada ideia de negócio. Somente assim poderemos competir no mercado global, capitalista e ser patrões de nós próprios.

A Seufert deixo duas perguntas: será que ele sabe o que é sair da sua zona de conforto quando se pode dar ao luxo de não terminar o 2º ciclo de estudos para arranjar emprego, num momento em que a licenciatura pouco vale e em que Bolonha nos empurra automaticamente para mestrado? Será que Seufert criou o seu próprio emprego? As respostas parecem-me óbvias. Infelizmente, o bom senso não impera no seio dos nossos governantes e tal está claramente espelhado nas políticas de ataque de que somos constantemente alvos.

Em nome da minha geração (e de uma geração que não se identifica com os Relvas e Seuferts deste país) posso assegurar aos nossos políticos que não nos iremos acomodar e iremos sair da nossa “zona de conforto”. Não será decerto da forma que eles esperam. Não aceitamos que façam escolhas por nós, não aceitamos a imposição de um futuro que apenas visa favorecer o feroz mercado capitalista no qual somos apenas meros peões.

Cláudia Ribeiro

 

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