Precariedade: desafios postos ao sujeito psicológico Versão para impressão
Quinta, 06 Setembro 2012

 

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Ao analisarmos o percurso dos significados associados à atividade trabalho, apercebemo-nos de um movimento da periferia para o centro. Se para os gregos e os romanos - falando-se obviamente das sociedades clássicas – o trabalho se ancorava na periferia e era reservado aos excluídos sociais, já no séc. XVIII o trabalho é o fator de organização social. É também um fator fundamental na nossa construção identitária e na nossa ancoragem no real; isto é, no nexo sujeito-mundo.

Esta deslocação muito deveu às revoluções burguesas, em particular a dupla revolução – a Industrial e a de 1789 -, ainda que as condições se tenham estabelecido anteriormente: a luta religiosa com a ascensão de um ascetismo calvinista, determinista e que não abominava o lucro; a decadência da organização social feudal, rentista e amorfa; e o florescimento cientifico e ‘iluminista’. Com este terreno, a dupla revolução veio colocar o trabalho no centro, organizando socialmente as novas classes em geografias que gravitam em torno da atividade trabalho.

Ao mesmo tempo, e não menos importante, o trabalho no centro, veio a tornar-se fundamental na nossa construção identitária e na organização do sujeito psicológico.

Do trabalho podemos destacar os seus benefícios latentes e os seus benefícios manifestos, provados pelo impacto psicológico do desemprego. No entanto, não podemos esquecer os desafios que são trazidos pelo modo de produção.

Adam Smith alertava para a desumanização criada pela divisão científica do trabalho, aprofundada por Taylor e por uma psicologia ultra-positivista e por uma economia ultra-produtivista; Marx falava da proletarização como perigo inerente às formas de produção capitalista. Nesta, o produtor (trabalhador) era expropriado do controlo e significado do trabalho; da proletarização resultam estados de não-sentido e de anonimato.

A nova economia coloca outros desafios ao sujeito psicológico: a fragmentação das experiências, as trajetórias yo-yo abundantes em incerteza, a precarização e volatilização das relações laborais, dificultam a narrativa e a apropriação da historicidade autobiográfica, impondo ao sujeito psicológico as mais profundas dificuldades de construção identitária e de  posicionamento no mundo real. A instrução do desejo precarizado é feita através da narrativa ideológica da flexibilização, do empreendedorismo e da dinâmica como sucesso; é este o substrato subjetivo para o trabalhador como consumidor, como consumista, como proletário em relação ao seu desejo. O trabalhador enquanto sujeito psicológico organiza-se cada vez mais como consumidor e menos como produtor; nessa demanda é expropriado da construção autobiográfica e proletariza-se não só enquanto força de trabalho, mas também enquanto desejo.

Moisés Ferreira

 

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