É possível não tomar posição? |
Quarta, 03 Outubro 2012 | |||
Vivemos o tempo de todas as recomposições. O capital tenta a sua recomposição, projetando um novo quadro social caracterizado pela desvalorização do trabalho, pela eliminação gradual do salário indireto e pelo fim da segurança dos trabalhadores, generalizando-se a precariedade e eliminando-se a proteção no desemprego. Acontece que o capital não é a única força a recompor-se. O 15 de setembro, a manifestação de 29 de setembro e o apoio crescente à esquerda anti-troika mostram que do lado do trabalho, também há vontade para lutar por uma recomposição de forças que destrua a austeridade. Nestes tempos em que se joga a construção do quadro social para o futuro não há lugar para se ficar em cima do muro. Ou se está pela austeridade (e por isso, está-se com o modelo de regressão social que o capital tenta impor) ou se está contra a austeridade (e por isso, está-se pelo modelo de redistribuição da riqueza e valorização do trabalho e do salário). O 'nim' é que não existem, porque geralmente se absorve dentro do 'sim' `à austeridade. A esquerda que luta por um outro mundo, pela construção de um outro sistema, pelo resgate da democracia e dos valores da igualdade não pode nem ser um 'nim' nem ter receios ou desconfianças da evidente vontade popular materializada na manifestação de 1 milhão de pessoas de dia 15 de setembro. Que muitas pessoas sairam à rua descontentes com a política, fartas dos sucessivos governos, descrentes no sistema político, é verdade. Pudera! Cortam-lhes o rendimento a cada dia que passa! Esse sentimento é, não uma divisão, mas sim uma ponte de contacto. Porque nós que militamos politica e partidariamente por uma alternativa profunda e radical também estamos fartos deste sistema, também estamos fartos dos sucessivos partidos que se pavoneiam pelo governo e também estamos descontentes com as políticas seguidas. Não estamos cá para proteger status quo nem o tal sistema. Estamos apenas para proteger aquilo que realmente importa: os interesses e os direitos do povo que vive do seu trabalho e que merece ter uma vida condigna. Por isso ouvimos a voz da rua, a voz da população, a voz das vitimas que se revoltaram e, pelo menos, em parte já se emanciparam deste governo opressor; por isso, traduzimos as suas reivindicações, seja no nosso movimento no dia a dia, seja com a moção de censura no Parlamento. As manifestações foram claras: romper com o memorando da troika; mandarembora o FMI e o seu Governo Passos/Portas. São as saídas para defender quem trabalha e quem é a vítima neste país. Escusar-se a ouvir a população e abster-se de tomar posição é, no momento histórico que vivemos, bater em retirada e abandonar a defesa da população; é permitir que o capital continue a sua ofensiva. É um 'nim' transformado em 'sim'. Falo, como é óbvio, da abstenção do PS à moção de censura ao Governo da austeridade em Portugal. Uma abstenção anunciada em nome da estabilidade. Pergunta-se: que estabilidade? A dos trabalhadores que a cada ano que passa perdem mais um salário ou a estabilidade do mihão e trezentos mil desempregados, mais de metade sem subsídio de desemprego? É essa a estabilidade que querem preservar? Ou será apenas a estabilidade do Goveno? E se é esta última, impõe-se que respondam à pergunta: Por que razão querem a estabilidade de um governo que apenas semeou a instabilidade nos bolsos e nas vidas das famílias em Portugal? Combater a austeridade de todas as formas possíveis é a obrigação da esquerda que está do lado do povo. A moção de censura é uma dessas formas. Incompleta, talvez. Necessária, certamente. Incompleta porque não haverá transformações fundas o suficiente sem conjugar a luta partidária com a democracia participativa. Por isso, a esquerda não só não tem medo da rua como deve incentivar a participação cidadã, unindo forças entre a democracia representativa e a democracia participativa, caminho para romper com a austeridade!Moisés Ferreira
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A Comuna 33 e 34
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