Lembramos-nos, hoje melhor do que nunca, das promessas eleitorais do PSD e do CDS. Da efabulação dos cortes nos custos intermédios do Estado às suas gorduras, ao partido do contribuinte, às exclamações da austeridade tangente, que não incidiria em salários e no consumo, todas e todos as ouvimos. Por onde passou a campanha dos partidos, da atual coligação governamental, as promessas fizeram o seu caminho. Do mercado à lota, da escola à fábrica, do comício ao jantar, do continente às regiões autónomas dos Açores e da Madeira, do interior ao litoral, do norte ao sul do país, não ouvimos o registo de cortes salariais, aumento de impostos, confisco de subsídios de natal e férias, aumento do IVA e alterações nos escalões do IRS. Supostamente, isso era o legado da governação Sócrates, se a memória não nos falha, o chumbo do PEC 4 foi o basta da direita parlamentar para o aumento da carga fiscal. Haja decência e limites diziam-no na altura. Aterrou novamente o FMI na Portela, desta vez, acompanhado pelos gémeos – BCE e Comissão Europeia - por força da inevitabilidade, pois claro. Foi assim que, PS, PSD e CDS, nos apresentaram a terceira intervenção externa e, concomitantemente, a terceira captura de soberania popular, em tempos de democracia. Os deuses não o queriam de outra forma (!) gritaram-nos até à exaustão. À troika externa, somou-se lhe a congénere partidária interna. Subscrito o memorando de entendimento, a imaginação política deu asas para todos os voos. Se Passos e Portas prometiam aplicar o programa cortando apenas no despesismo estatista, nunca em quem trabalha, Sócrates garantia que iria, somente, cortar no Estado Social, para garantir a sua sustentabilidade. O mesmo fizeram Berta Cabral, Artur Lima e Vasco Cordeiro, os rostos regionais desta , correram as nove ilhas, dizendo que a receita do vizinho do lado é que era mal-intencionada, tendo a sua a bênção da virtude. Escusado, será, sublinhar que o programa eleitoral de facto era o mesmo, disputavam apenas quem o iria aplicar. O resto era música e florido de época, como as nossas vidas o constatam. Os cortes salariais, o aumento de impostos, a destruição dos serviços públicos, a vingança com as conquistas e os direitos sociais estavam lá desde o início. Quando olhamos, para as eleições à Assembleia Legislativa Regional dos Açores, temos oportunidade a um puro e sublime deja vu político. Qualquer cidadão ou cidadã tem direito a um PSD de Berta Cabral, a ferro e fogos, contra as medidas de austeridade do governo da República, ao líder do CDS/Açores, a ameaçar com a demissão da vice-presidência do partido, se o governo não recuar com as medidas da TSU e a um Vasco Cordeiro recheado de promessas, que em 16 anos de governação, o PS, não quis implementar na Região. Austeridade? Nem falar nela, a troika atlântica, está na sazonalidade da sua oposição. Os mosqueteiros rejeitam, agora, o seu D'Artagnan, é o que sopram todos os ventos, das crónicas dos jornais e da rádio, às intervenções e entrevistas televisivas, a espada para os cortes sociais, é, novamente, propriedade do companheiro de armas do outro esquadrão, a sua nunca sairá da bainha. A pergunta que, o tempo e a memória, nos deve colocar é: onde estiveram eles nas legislativas nacionais passadas? Pois, nós sabemos onde estiveram, Berta Cabral, Vasco Cordeiro e Artur Lima. Ao lado da promoção do governo da troika. E onde estiveram os deputados, do PSD e do eleitos pelos Açores à Assembleia da República, quando se votou o Orçamento de Estado? Entre abstenções violentas e anuências convictas, colocaram-se ao lado do problema, contra as pessoas, o povo português, os e as Açorianos/as e a Região. E não é curioso, que os mesmos que promoveram o desastre económico e social, num novo momento eleitoral, se queiram desfazer de tudo o que defenderam e promoveram até agora? Qual é mesmo o nome que se costuma dar a isto? Feiticeiro, sei que não é de certeza. Se não se pode dizer que se esteve num sítio onde nunca se teve, também não se pode estar em dois sítios ao mesmo tempo. O apoio à troika na República é incompatível com a defesa da autonomia efetiva, a sustentabilidade da economia, a criação de emprego e a promoção de políticas sociais na Região. Deixando de lado a culinária, em política, o agridoce não serve, pede-se seriedade. O Bloco de Esquerda disse no passado que era preciso cortar com a troika, renegociar e anular a dívida abusiva, em nome das pessoas, da economia e do emprego, continuamos firmes e convictos disso, na Região como no continente, fomos e somos coerentes. É assim, com soluções e alternativas concretas que, desafiamos as açorianas e os açorianos, a tomar um rumo diferente, para a Região, já no próximo dia 14 de Outubro.
Fabian Figueiredo
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