Sobre a Fenomenologia na Arqueologia. Uma dialéctica do Materialismo – entre a paisagem e o sujeito pessoal |
Domingo, 04 Novembro 2012 | |||
Um dos debates actuais dentro das arqueologias prende-se com uma reflexão sobre o tipo de análise que temos sobre o espaço no passado e, mais do que isso, os moldes como essa análise é feita. Ainda que não pareça uma questão relacionada com uma temática política directa, ela representa um exercício teórico à esquerda de como o marxismo olha o passado. Artigo de Luís Monteiro «Cartographic representations of landscape, arguing that these must be contextualized as a product of capitalism economics which represent landscape as a quantifiable resource that can be mapped, measured, bought and sold. (…) The objectivation of landscape – its separated from memory, meaning, personal experience and identity – legitimated this process. » Joanna Bruck in Experiencing the Past? The development of a phenomenological archaeology in British prehistory. Um dos debates actuais dentro das arqueologias prende-se com uma reflexão sobre o tipo de análise que temos sobre o espaço no passado e, mais do que isso, os moldes como essa análise é feita. Ainda que não pareça uma questão relacionada com uma temática política directa, ela representa um exercício teórico à esquerda de como o marxismo olha o passado. «Phenomenology has been used to great effect to critique the Cartesian rationalism inherent in traditional archaeological approaches, encouraging imaginative and valuable reinterpretations of the arquitecture and landscape settings of different monuments.» (Joanna Bruck, 2005) A Arqueologia Fenomenológica e o contributo de Chris Tilley. Importa neste parágrafo perceber o contributo que este arqueólogo oferece mais do que, propriamente, a solução que apresenta. Grande parte das arqueologias que ainda hoje representam uma clara hegemonia tem a ambição de entender o comportamento humano a partir das materialidades encontradas. Isso representa uma ambição ideológica, procurando provas materiais para uma justificação do passado com contornos claramente ideológicos e políticos. Um dos instrumentos essenciais que fazem sobreviver a razão do capitalismo como o sistema económico e social inevitável passa pela manipulação da História. E Chris Tilley, ainda que analisando isso de forma exímia na sua obra »a Phenomenollgy of landscpae» de 1994, a sua resposta cai no mesmo erro, porque, centrando o ser humano no centro do estudo, não admite que o sujeito no passado pudesse ter diferentes sensações e acções, ou seja, continua a ter uma visão estruturalista rígida do passado e continua a ambicionar interpretar o pensamento da sociedade á imagem do pensamento contemporâneo. Materialismo dialéctico: a materialidade ou o ser humano como centro do estudo arqueológico? Ora, parece-me a mim que tanto Christopher Tilley com a Arqueologia Fenomenológica como algumas outras arqueologias caiem no erro de criar uma divisão em torno da matéria – entre a Natureza e o ser humano. Ou colocam o ser humano ou a materialidade e a paisagem/arquitectura como centro do estudo. Alguns arqueólogos marxistas, durante a segunda metade do séc. XX, foram influenciados pelas correntes estruturalistas e a Arqueologia Processual é produto dessa fusão. A verdade é que, independentemente de podermos entender o passado numa evolução estrutural, a arqueologia Uma visão dialéctica do materialismo, marxista, só pode olhar o passado entendendo a acção e a experiência no seu sentido mais lato como uma relação dialéctica de influência e condicionamento entre sujeito e objecto. Uma arquitectura, seja em que período do passado for, é uma obra que se adapta às características da paisagem e esse mesmo espaço vai condicionar e influenciar as acções e sensações de cada indivíduo. É pouco ou nada marxista defender a luta de classes como condição de desenvolvimento e não admitir que o sujeito pessoal no passado pudesse ter sensações, visões e acções diferentes da maioria. Porque nem nós hoje conseguimos saber o que é a maioria e a minoria, o que nos chega do passado e, principalmente da Pré-História, não representa sequer uma amostra plausível e formadora de uma opinião absoluta do passado. A própria intenção de fazer parecer que só existe uma única acção tem o principal objectivo de neutralizar o papel da paisagens e das arquitecturas, tornando-as apenas objectos mercantis, de compra e venda, com valor capital e de recursos vários.
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