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Terça, 09 Abril 2013

FotoexposicaoEmbora muitos sejam os avanços na esfera política e pública portuguesa nas últimas décadas no que respeita à intervenção da mulher, este é um caminho que não se encontra esgotado, bem pelo contrário. As mulheres continuam a ganhar menos 18% que os homens, de acordo com dados da Comissão para a Igualdade e Emprego (CITE) publicados no primeiro trimestre do presente ano.

Artigo de Rute Simão

 

 "Da esquerda à direita, sem sectarismos. Porque têm trabalho feito, porque de formas diferentes e com diversas opiniões sobre o feminismo lutam pela igualdade das mulheres. São quinze mas podiam ser quinhentas.". É desta forma que Pedro Medeiros me explica a escolha dos diversos retratos de mulheres que se encontram diante de nós. reescrita é o nome que batizou a exposição de fotografia inserida no projeto Em Poder Delas – Projecto sobre a Participação das Mulheres na Vida Política organizado pela Associação de Profissionais de Cuidados de Saúde dos Países de Língua Portuguesa – Saúde em Português e que desde Novembro de 2011 procura promover a igualdade de género e sensibilizar os diversos públicos para uma maior participação das mulheres na vida política, pública e associativa.

Inaugurada no dia 8 de Março, durante um mês a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra foi a casa que acolheu a homenagem de um homem a 15 mulheres: Inês Pedrosa, Irene Flunser Pimentel, Isabel do Carmo, Joana Vasconcelos, Maria Manuela Cruzeiro, Manuela Tavares, Margarida Medina Martins, Maria de Belém Roseira, Maria José Magalhães, Maria Teresa Horta, Marisa Matias, Raquel Freire, Rita Rato, Sara Falcão Casaca e Virgínia Ferreira.

Sara Carvalho, compositora e professora na Universidade de Aveiro, é a responsável pelas obras musicais que nos sussurram à porta e convidam a entrar.  São as mulheres o mote desta exposição. Em jeito de homenagem pelas suas lutas individuais mas também em tom de alerta coletivo a todos os que se passeiam por entre os retratos a preto e a branco e se perdem nos olhares serenos e nas conquistas que Pedro Medeiros imortalizou.

Nas últimas décadas várias têm sido as vitórias femininas no campo da política. Em 1911 Carolina Beatriz Ângelo, médica de profissão e militante  do Comité Português da agremiação francesa La Paix et le Désarmement par les Femmes, membro do  Grupo Português de Estudos Feministas e posteriormente da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, enfrentou a primeira luta pelo direito ao voto. De acordo com a legislação de 1911 podiam exercer o direito a voto cidadãos maiores de 21 anos que soubessem ler e escrever ou fossem chefes de família. Carolina Beatriz Ângelo cumpria todos os requisitos – uma vez que também era viúva e portanto assumia o lugar de chefe de família – e conseguiu desta forma através de decisão do Tribunal o direito a votar sendo a primeira mulher portuguesa a fazê-lo. Contudo, a lei foi alterada a 3 de Julho de 1913, devido a este episódio, e ficou claro que apenas cidadãos do sexo masculino poderiam votar. O direito ao voto para as mulheres só foi legislado em 1931 ainda com restrições; só poderiam votar mulheres com o secundário completo ou com um curso universitário. Só a partir de 1975 o voto foi concedido sem quaisquer restrições.

Em 1970 uma outra conquista no campo político para as mulheres: Maria Teresa Lobo, advogada de profissão, é a primeira mulher a integrar o Governo. Exerceu as funções de Subsecretária de Estado da Saúde. Maria de Lourdes Pintassilgo foi a primeira e única mulher até ao momento a exercer funções de Primeira-Ministra em Portugal em 1979. Uma outra conquista mais recente, em 2006, é a Lei da Paridade que estabelece que as listas para a Assembleia da República, para o Parlamento Europeu e para as Autarquias Locais são compostas de modo a assegurar a representação mínima de 33% de cada um dos sexos.

Embora muitos sejam os avanços na esfera política e pública portuguesa nas últimas décadas no que respeita à intervenção da mulher, este é um caminho que não se encontra esgotado, bem pelo contrário. As mulheres continuam a ganhar menos 18% que os homens, de acordo com dados da Comissão para a Igualdade e Emprego (CITE) publicados no primeiro trimestre do presente ano. Traduzindo, significa que as mulheres têm de trabalhar mais 65 dias que o sexo oposto para conseguirem o mesmo ordenado nas mesmas funções. Apenas um terço dos cargos de chefia são ocupados por mulheres embora estas apresentem uma maior qualificação em relação aos homens - 36% das mulheres tem formação superior contra 30% dos homens, avança o Instituto Nacional de Estatísticas na sua publicação Trabalhar no Feminino.

É através da simbiose entre fotografias e depoimentos que Pedro Medeiros deu mais um contributo para a luta na igualdade de género. Uma exposição que prima pela simplicidade provida de uma mensagem clara, de uma imperativa necessidade: a história tem de ser escrita daqui para a frente de forma mais igualitária.

A re-visão é o acto de olhar para trás, de ver com um olhar renovado, de penetrar num texto antigo com uma perspectiva crítica nova – significa para as mulheres mais do que um novo capítulo na história da cultura: constitui um acto de reescrita, um acto de sobrevivência. Adrienne Rich

 

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