A moda do empreendedorismo Versão para impressão
Quinta, 21 Novembro 2013

Hello Kitty Pop Corn flickr.com.pakittO Ministro da Economia, Pires de Lima, defendeu na última terça-feira (12/11/2013) a implementação da disciplina de Empreendedorismo no programa do ensino obrigatório. A medida em concreto encontra-se na Medida 8.7.7 da Estratégia de Fomento Industrial para o Crescimento e o Emprego, 2014-2020. Eu espanto-me com as ideias que surgem nestas coisas dos planos e questiono-me até se quem os elabora terá alguma meta de produção a cumprir. Sinto-me até impelido a transcrever a justificação da medida, é uma pérola de fé, "Esta meda irá dar um contributo significativo para a qualificação dos empreendedores do futuro e, sobretudo, para fomentar uma cultura de valorização e reconhecimento do empreendedorismo".

É que nem bem me ocorre palavras para descrever esta medida, e desde já refiro que estudei numa escola em que a disciplina de empreendedorismo é obrigatória em todos os cursos. Nem bem consigo descrever o quão empreendedor fiquei depois de um semestre a ouvir bonitas histórias importadas diretamente dos EUA, em que o espirito inventivo e empreendedor vencia todas as batalhas, nem que fosse depois de umas centenas de respostas negativas. Gostava de deixar um recado ao Sr. Ministro, bem como ao brilhante criador desta medida, meus caros, nós não somos os EUA e nem lá a coisa funciona como se tem contado nos livros. É muito interessante dar formação em empreendedorismo, e dar condições aos empreendedores? Paris pode ser a cidade da alta-costura, mas de facto Portugal é o país das modas, vamos em quase todas, quais peregrinos ao santuário atrás de milagres. Com o empreendedorismo não podia ser diferente, até porque se trata igualmente de milagres.

Do meu semestre 'empreendedor', em que ouvi lições de quem, qual frei Tomas, nunca havia empreendido o que quer que fosse, tirei o ensinamento prático zero. Em Portugal não existem condições para criar ou empreender, não há condições para arriscar, em breve não há condições para nada. De que serve encher a cabeça dos jovens com tretas sobre o "poder das ideias" se, e mesmo que isso resultasse em ideias práticas, estas nunca dariam frutos. Gostava de perguntar ao Sr. Ministro em que fica um empreendedor depois de ouvir centenas de 'nãos' de eventuais financiadores? Qual é o fundo de maneio de um empreendedor até que alguém aceite a sua ideia? É que os empreendedores também comem, ou pelo menos suponho que sim. E falo das respostas negativas de eventuais financiadores porque quem dá crédito a alguém para empreender em Portugal? Os bancos? Não me parece. Se eu, que já frequentei um curso com a disciplina obrigatória de empreendedorismo, qual cobaia, tiver uma ideia de negócio capaz produzir riqueza e emprego que hipóteses tenho de a ver concretizada? Escusado será dizer que Portugal não é um país de business angels. Na melhor das hipóteses, a disciplina de empreendedorismo vai criar uma geração ainda mais frustrada que a anterior, por perceber que o empreendedorismo é uma trata e que não vivemos numa sociedade meritocrata. Deixo uma sugestão ao Sr. Ministro, e se em vez de empreendedorismo implementasse uma disciplina de Discussão politica e social? Pois, não dá jeito...

Óscar Santos Batista

20 de novembro de 2013

Imagem: "Hello Kitty Pop Corn", flickr.com/pakitt

 

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