Europa ou Eurotroika? Versão para impressão
Terça, 03 Junho 2014

votosNeste contexto de crise em que as regiões mais desfavorecidas são as mais punidas, o protesto dos covilhanenses, ao boicotarem a votação para as Europeias, mostrou-nos a ambiguidade nas formas de luta.

 

Artigo de Paulo Cardoso

 

Concordo que é imoral fechar uma Escola no interior por ter apenas 15 alunos, mas, pergunto: o voto nos candidatos que também estão contra esse fecho, não teria mais efeito? A troika saiu e ficou com uma mão cá dentro e um pé na Europa inclinada à direita, na defesa desta austeridade destrutiva; por isso, os cidadãos perderam uma oportunidade de dizerem o que lhes vai na alma, com os roubos nos salários, cortes na saúde, na educação, fecho de serviços públicos, desmantelamento da ferrovia, privatizações criminosas, etc. Temos uma União Europeia que forjou Tratados contra os Estados, como o Tratado de Lisboa que se antecipou a uma Europa social para dar lugar à Europa desigual e austeritária ao serviço dos mercados e da banca. Assim, nestas eleições europeias ficou garantido o ataque aos direitos laborais, aos serviços públicos e o completo abandono do interior à sua sorte, sem que os atingidos mostrassem uma atitude de repúdio.
A "vitória" foi daqueles que nada decidiram e deixaram os outros escolher por eles. Arredondando os números, apenas 34% dos portugueses foram votar e 29%, deram o seu voto à troika portuguesa. Os eleitores revelam que a vida política os afasta das decisões e da participação, o que não deixa de ser uma dura realidade, confirmada pela aversão dos governantes a referendos. Não admiram também, os 7,5% de votos brancos e nulos, onde este eleitorado podia ter elegido dois eurodeputados. As políticas dominantes e em curso são responsáveis pela abstenção! Já em 2009, um em cada 3 portugueses não usaram a sua possibilidade de fazer escolhas e em 2014 o problema agravou-se, não conseguindo esconder um problema que levou uma minoria de portugueses a eleger o comprometido Cavaco Silva, nestas políticas e no ataque à Constituição da República.
Seria interessante saber qual é o modelo de escolha política que os abstencionistas defendem... Sem ironizar, infelizmente são mais eficientes, "as manhãs" na TVI do que distribuir manifestos com propostas... Os portugueses vão perceber o logro das suas decisões; preferiram o populismo fácil, anti partidário/político, onde pululam os reacionários defensores do autoritarismo e com tiques xenófobos, sexistas e homofóbicos. Nem querem perceber que 80% das decisões políticas têm origem no Parlamento Europeu e muito menos, sabem propor alternativas ou fazer escolhas coerentes quando apostam de cruz num partido/candidato do qual não conhecem uma proposta. Depois, acabam por ficar revoltados, vítimas das suas próprias decisões. E, injustamente, colocam tudo no mesmo "saco" porque se deixam iludir, em especial, com aquela zona cinzenta da política que é o centrão. O analfabetismo político é tramado...
O resultado global é claro e rejeita de várias formas esta União Europeia que está contra os povos e trabalha para os mercados. A extrema-direita é a terceira maior força política no Parlamento Europeu, com especial destaque nos resultados alarmantes da França e Reino Unido e um reforço preocupante em países como a Dinamarca, a Hungria, a Áustria, a Finlândia, e a neonazi Aurora Dourada na Grécia. Ironia do destino, o grande vencedor destas eleições e candidato do MPT, defendeu o líder dos skinheads... O capitalismo responde com todas as suas forças às crises que o seu sistema apresenta ciclicamente em todo o mundo e o resultado é que, com estes resultados os ricos vão continuar a ser protegidos e os corruptos a serem poupados. E quem fez as escolhas?
A bancada europeia, à qual pertencem o BE e o PCP, o Grupo GUE/NGL, foi a que mais cresceu nestas eleições num cenário entrelaçado para quem insiste numa União Europeia diferente e indica uma alternativa europeísta para uma outra Europa sem a austeridade destrutiva. A mudança por agora perdida contra a austeridade, não condenou de todo como seria esperado, os partidos que aprovaram o Tratado Orçamental que eterniza o ataque ao Estado Social. E, para o interior em especial, coloca-se a questão: Existe alguma mudança nas políticas que nos têm conduzido ao desastre? Claro que não!
Com o crescimento dos movimentos anti sistema, anti partidos e da extrema-direita nazi na europa, está em causa a própria democracia; mas as batalhas que perdemos são aquelas em que desistimos de lutar. Face ao alheamento de muitos a estas questões, fica a pergunta: Europa ou Eurotroika?

Paulo Cardoso

 

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