Uma estratégia, uma ideia para Lisboa: De uma cidade fantasma, a uma cidade de charme Versão para impressão
Domingo, 08 Março 2009

Após se ler com atenção e se ouvir a intervenção do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa sobre o seu relatório trimestral à Assembleia Municipal de Lisboa, ficam-nos as maiores dúvidas sobre que estratégia pretende António Costa para Lisboa.

Escreve e afirma António Costa que Lisboa precisa de uma estratégia, de uma ideia, de um objectivo. Evidente. Linear, diria mesmo mais: Elementar!

Mas que estratégia, que objectivo, que ideia para Lisboa?

Simples para o presidente da CML, nomeia-se mais uma comissão para elaborar a Carta Estratégica da Cidade - 2010/2024. Eis a estratégia de um presidente da capital do país: nomear uma ampla e multifacetada comissão para elaborar uma carta estratégica para a cidade, já que o presidente não tem ideia pelos vistos.

É verdade que define seis desafios estratégicos para a cidade no seu relatório.

Mas qual a estratégia? Qual a ideia? Qual o objectivo central?

Eis o que o presidente da CML resolve com um passo de mágica tirando da manga mais uma comissão para estudar a estratégia da cidade.

Mas é tão simples podermos hoje definir qual é essa ideia, esse objectivo e essa estratégia.

O relatório do Presidente da CML nas páginas 2 e 3 dá dados demolidores que, nem o terramoto conseguiu.

A saber:

Lisboa perdeu nos últimos 30 anos 300.000 habitantes. Está escrito no referido relatório.

Lisboa, segundo o INE, continua a perder em cada 10 anos mais 100.000 habitantes. Está escrito no referido relatório.

É o relatório de António Costa que escreve!

Ora este é o principal cancro que corrói a cidade. A perda de 300.000 habitantes em 30 anos, e de mais 100.000 em cada 10 anos segundo os dados oficiais.

Como diria o António Silva, as contas fazem-se já aqui: nos próximos 50 anos se nada for feito que inverta esta situação, Lisboa será uma cidade deserta de habitantes, será uma cidade fantasma.

Como afirmou António Costa, em cada época histórica, é preciso uma estratégia histórica.

E se podemos dizer que há 20 anos com a entrada na CML, da coligação das esquerdas, que elegeu Jorge Sampaio, com tudo o que fez de mau ou de bom teve uma estratégia que ficará escrita na história: pela primeira vez se elaborou um PDM - Plano Director Municipal para a cidade de Lisboa, ou seja começou-se a por ordem na anarquia dos interesses do betão, nos interesses da especulação imobiliária anárquica que comandava o crescimento de toda a cidade.

Se podermos dizer que há cerca de 16 anos com a a coligação de esquerda que apoiou João Soares houve uma estratégia central e histórica, de que nos orgulhamos de ter no nosso património, dos que deram origem ao BE, de lutar durante dezenas de anos sob o lema de "Casas Sim Barracas Não", acabou-se com as barracas, realojou-se 100.000 pessoas em casas no meio de muita coisa má e boa dessa gestão.

Já não sabemos com que estratégia ficará conhecida historicamente a gestão da CML dos 6 anos do PSD de Santana Lopes/Carmona Rodrigues, dos quais a cidade apenas se lembra da célebre obra do túnel do Marquês durante seis anos! e ainda hoje inacabado, de um aumento da dívida estrutural da CML em cerca de meio milhão de Euros e da corrupção que levou à queda do executivo a meio mo mandato, facto inédito em Lisboa, e que ficará escrito na história.

A arte da política é saber qual é o fio da meada! Qual é a tarefa principal, qual o objectivo central, qual a contradição principal de todas as contradições com que se debate esta capital do país.

A arte na política não é definir seis pontos estratégicos, 60 objectivos e 600 tarefas. Há muito para se fazer em Lisboa. Sem dúvida! Mas qual a estratégia central?

Hoje a estratégia central, a ideia central, o objectivo dos objectivos para a cidade de Lisboa só pode ser a repopulação da cidade, a recuperação urbana e reabilitação urbana necessárias e em função do repopulacionamento de Lisboa.

Repopulacionar a cidade, estancar os 100.000 que abandonam a cidade em cada 10 anos., é a estratégia, a ideia, o objectivo em função a qual tudo se poderá fazer.

No início a revisão do PDM há cerca de 4 anos os dados fornecido à Assembleia Municipal era de que existiam 70.000 fogos devolutos e já vão quatro anos anos. No tempo do primeiro PDM há 18 anos eram 30.000 vamos deixar prosseguir o caminho inegável de Lisboa chegar a uma cidade fantasma sem gente e num aumento exponencial de casas devolutas?

Façamos uma simples conta: 70.000 fogos devolutos, devidamente recuperados, em vez de novas construções, e colocados no mercado a preços controlados, corresponderá necessariamente a mais 210.000 a 280.000 pessoas em Lisboa invertendo o caminho para a cidade fantasma. O que tem de ser encarado como a tarefa das tarefas tal como foi o PER para a erradicação das barracas. Basta de nova construção! Inicie-se a reabilitação em massa dos fogos devolutos. Ainda não aprendemos com a bolha imobiliária? Será cegueira ou ofuscamento pela avidez do lucro dos bancos para colocar nos offshores?

Esta é a estratégia das estratégias: Reabilitar e repopulacionar a cidade.

Perdemos 300.000 habitantes em 30 anos. Perdemos mais 100.000 em cada 10 anos. De que se está à espera? Ficar com uma cidade fantasma?

Ou ficar com uma cidade de atravessamentos, com TGV's, 3ªs travessias do Tejo, novos aeroportos e uma cidade fantasma?

Pode-se fazer muitas obras em muitos campos. Pode-se intervir na malha urbana com ou sem acupunctura, pode-se tratar de muita e muita coisa que falta a Lisboa, no ambiente, no trânsito, na segurança, na qualidade de vida, no saneamento, nos bairros sociais, etc, etc, etc.

Mas se não definirmos a repopulação como a estratégia das estratégias estaremos a fazer obras para uma cidade fantasma no futuro.

E lembremos que quanto menos gente habitar a cidade tudo se agravará:

- Teremos mais carros a entrar na cidade (hoje entram 450.000 mil por dia, escrito no referido relatório) para as pessoas trabalharem nas empresas sediadas em Lisboa, com o consequente aumento do gasto de combustível, o correspondente aumento da dependência energética, e maior produção de CO2;

- Teremos que gastar muito mais dinheiro com a estrutura rodoviária de acesso à cidade pois quem cá trabalha é cada vez mais gente que virá de fora, mais circulares, mais viadutos, mais pontes, etc., etc., etc.;

- Teremos menos receitas para tratar da cidade pois menos gente habita na cidade e logo menos gente pagará seus impostos nesta cidade (IMI, IMT, Imposto de circulação, etc.);

- Teremos menor segurança pois onde existe a desertificação humana existe mais insegurança e portanto maior despesa com a segurança.

E podíamos continuar a enumerar os prejuízos de uma cidade fantasma.

Lisboa precisa com URGÊNCIA, e com CORAGEM uma ideia central e um programa especial de recuperação do fogos devolutos e todas as restantes medidas para a sua repopulação, invertendo de vez esta desertificação até à cidade fantasma.

È por isso que a tarefa das tarefas é a reabilitação e repopulação da cidade, através de Um Programa Especial de Reabilitação de Lisboa e de repopulação de Lisboa.

Esta é a tarefa das tarefas. Esta é a ideia das ideias. Lisboa precisa urgente mente, como o Bloco de Esquerda já definiu de um programa Polis de desenvolvimento sustentado da capital do país para não se transformar numa cidade fantasma.

Mas que propõe António Costa como solução imediata para resolução deste estratégico problema da cidade?

Qual mágico, tira da caixinha das surpresas a solução: LISBOA CIDADE DE CHARME!!!

Parece bonito!

Mas em que consiste tal ideia?

Lisboa iria colocar em hasta pública cinco palácios históricos para serem construídos cinco hotéis de charme !!!!!!!

Deixemos de lado eventuais negociatas que estejam por detrás de tal hasta pública! Vamos dar como assumido que tudo seria transparente, o que nos dias que correm, e com tudo o que cada dia sabemos, cada vez acreditamos menos nessa transparência.

Mas 5 Palácios para hotéis de charme?

Valha-nos Sto António padroeiro da cidade!

Será que não atravessamos uma crise global financeira e económica que atravessa todo o mundo que tem feito o turismo de Lisboa que estava ao seu mais alto nível ter iniciado queda e entrado em uma situação de crise?

Será que António Costa não sabe que as taxas de ocupação hoteleira de Lisboa que era a maior de Portugal está em queda vertical com hotéis em profunda crise?

Estão previstos depois de todos os hotéis que nestes últimos anos pulularam a nascer pela cidade, a inauguração ou construção de mais 7 hotéis. E vamos propor como solução central para Lisboa a venda de 5 Palácios para a construção de mais 5 hotéis de charme?

Haverá hipótese de Lisboa continuar a ser atractiva para o turismo internacional transformando-se numa cidade fantasma, de trânsito e acessibilidades insuportáveis, deserta, insegura e fantasma?????

Lisboa só poderá ser uma cidade de charme para o turismo quando for uma cidade de charme para os seus habitantes.

Não há cidade que possa acolher com doçura, simpatia, qualidade, os seus visitantes estrangeiros se essa cidade em vez de ser de charme para os seus habitantes seja uma cidade fantasma, deserta e insuportável de entrar e sair dela.

Lisboa Fantasma nunca será uma cidade de charme para o turismo.

E definir tal num relatório do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa à Assembleia Municipal de Lisboa, é no mínimo uma fantasia, para não dizer um deserto de ideias, comandado pelo encandeamento dos negócios fáceis que nos levaram à crise que o mundo hoje atravessa e que Portugal sofre diariamente nas suas famílias com o recorde de 70.000 desempregados só no mês de Janeiro de 2009.

Lisboa precisa de um Programa Polis de Desenvolvimento Sustentado, de reabilitação, recuperação e repopulacionamento da cidade como do pão para a boca. Eis a estratégia das estratégias. Eis a ideias das ideias. Eis o objectivo dos objectivos.

Lisboa não precisa de mais construção completamente em crise que nem as casas novas construídas estão ocupadas em 50%, como afirma o relatório do Presidente, na Alta de Lisboa.

Paremos a construção nova e dirijamos todos os esforços para a reabilitação, para a recuperação, a preços controlados, e abaixo dos preços especuladores do mercado imobiliário, é disto que Lisboa precisa.

Carlos Marques

 

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