Multinacional Philips incluiu Ovar na redução de trabalhadores em 2009 Versão para impressão
Quarta, 11 Março 2009

A multinacional holandesa, que começou a desmembrar a unidade de Ovar mal terminou o século XX, surge estranhamente a incluir uma empresa de que supostamente há muito se tinha desresponsabilizado, contabilizando-a agora no processo de reestruturação para eliminar 6 mil postos de trabalho.

Texto de José Lopes

Na lógica capitalista, que se tem tornado ainda mais visível na actual fase, em que ao sinal de menores lucros a solução mais prática passa pela redução de trabalhadores, entre várias medidas como o lay-off ou mesmo o encerramento de empresas, assistimos ás mais repugnantes formas de lançar para a rua os produtores de riqueza, explorada a sua força de trabalho e sujeitando as famílias a dramas sociais resultantes do desemprego cada vez mais jovem.

Esta é a mais recente, anunciada razão, para a multinacional Philips Electronics declarar friamente, que teve baixas de um milhão de euros ao fechar o quarto trimestre no vermelho, pela primeira vez desde 2003, e daí a medida de redução de 6 mil trabalhadores durante este ano ao nível das suas empresas no mundo. Com tal solução de cortes de custos, que resultarão na economia de 400 milhões de euros por ano, cinicamente permitiu que as acções da companhia na altura do anúncio desta estratégia, subissem mais de 7 por cento.

Curiosa foi a notícia que relacionou o mais recente encerramento de uma empresa ex-Philips em Ovar com 70 trabalhadores (a RCS / Remoto Control que produzia comandos) com as medidas de reestruturação da multinacional, dando como ponto final à unidade produtiva da Philips que se tinha instalado em Ovar em 1970. Ou seja, a multinacional holandesa, que começou a desmembrar a unidade de Ovar mal terminou o século XX, surge estranhamente aos olhos das muitas centenas de operárias que foram sendo despedidas durante a última década, a incluir uma empresa de que supostamente há muito se tinha desresponsabilizado, contabilizando-a agora no processo de reestruturação para eliminar 6 mil postos de trabalho.

Dividir para reinar

Dividida em cinco sociedades, jurídicas e economicamente independentes, a Philips em Ovar, começava não só a dividir para reinar também ao nível das organizações sindicais dos trabalhadores, como dessa forma a passar a ideia da sua estratégia para Portugal, que passava já em 2002 por alienar património (que levou a que em 2005 o terreno e o edifício deixasse de ser propriedade da Philips e tenha passado para o Banco Millenium) e venda de algumas sociedades anónimas resultantes dos mecanismos jurídicos que espartilharam esta empresa de material eléctrico e electrodoméstico como os televisores, que arrancou em Ovar a 6 de Maio de 1970 com a produção de bobines, destacando-se como grande empregadora de mulheres a partir da década de setenta.

Das cinco Sociedades Anónimas (S.A.), SPVV, SEDS (parte comercial e marketing que está em fase de encerramento), SSI (mais tarde Bosch Security Systemas a única a laborar) e a RCS (Control Remoto, a última a encerrar, com produção de comandos também em Marrocos). A que veio a representar um significativo ataque ao direito ao trabalho, num período igualmente negro vivido ao nível do desemprego em Ovar (2005), foi a SCBO (Sociedade de Companhia Bobinados de Ovar) mais tarde designada Bobitraens ligada aos espanhóis com grande parte da produção de componentes para TV e das máquinas deslocalizadas para Marrocos. Era a que empregava mais trabalhadores, cerca de 800, tendo encerrado em 2005.

De despedimento em despedimento, facilitados pela cisão em cinco empresas, a Philips, que chegou a atingir cerca de 2.300 trabalhadores em Ovar e que ainda no ano 2.000 produzia ao ritmo de 24 sob 24 horas, apagou definitivamente a sua marca da vivência operária das últimas três décadas, deixando na memória das várias gerações a luta pela dignificação da mulher trabalhadora, as lutas sindicais por melhores condições de trabalho e direitos laborais. Por conquistar e por reconhecer por parte da multinacional ficou a doença profissional, "tendinites", que o trabalho repetitivo afectou muitas trabalhadoras, que nos últimos anos têm engrossado o preocupante número de desempregados no concelho.

José Carlos Lopes (Ovar)

 

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