A Crise e os novos escravos Versão para impressão
Segunda, 09 Fevereiro 2009

No meu dia-a-dia, não consigo deixar de pensar que algo falhou na sociedade portuguesa, na transição para o século XXI. Sendo que 1836 marcou a abolição do trabalho escravo em Portugal, sinto que algo de errado terá acontecido, sempre que olho as 200 cabeças emolduradas por auscultadores que me fazem companhia nas jornadas de trabalho.
 
Chega a ser obsceno ser e estar rodeado de eternos temporários e temporárias, sabendo que somos um dos pilares da estratégia da empresa em que estamos inseridos.  Chega a ser obsceno privarem-nos de pensamento crítico, condenando-nos ao entorpecimento mental, e sermos informados da proibição de se verbalizar pensamento político e religioso, entre outros. É indiscutivelmente obsceno ser bombardeado por mensagens do compromisso social da empresa e a fundação que criou. Pura propaganda assistencialista, quando sabemos a política de não contratação, recorrendo ao aluguer de mão-de-obra.
 
Quem aqui passa parte dos seus dias, apercebe-se dos efeitos da precariedade na condição humana. Neste mundo muito próprio, não se conhecem os termos 'lei' ou 'direitos', nem o significado de 'dever de informação'. Neste mundo muito próprio, só se conhece instabilidade e a sede de objectivos.
 
Qual é, afinal, a essência deste 'sistema' que gere lucros imediatos, ao arrepio de tudo e todos?
 
Não oferecendo compensação por trabalho com qualidade, mas penalizando verbal e psicologicamente quem não atinge os níveis ideais de 'produtividade', qual é o futuro dos serviços prestados e o seu impacto na confiança das e dos consumidores?
 
Aparentemente, o 'pensar fora da caixa' teima em não chegar aos gabinetes de administração, que não conseguem atingir a lógica de 'cultivar o trigo, para comer o pão', adaptada à empregabilidade.
 
Restringe-se ao máximo a força assalariada, limitando a vários níveis o seu poder de compra, adiando eternamente o estímulo económico gerado pelos ciclos de consumo.
 
Não é, pois, de admirar as notícias das falhas do Governo naquele que é um dos seus papéis fundamentais, ao ser promotor de filosofias retrógradas no que concerne ao papel social do rendimento e do trabalho (remunerado ou não). Muito menos nos podemos admirar com a promiscuidade entre a governação e a gestão de grandes empresas e interesses.

Texto de Ricardo Salabert 

 

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