A crise abalou os mercados financeiros e propagou-se pela política. O modelo neoliberal mostrou os pés de barro e muitos se apressaram a cortar relações com esse moribundo...
A esquerda, que tinha virado direita, assustou-se e, agora, diz-se
enganada. Aparentemente, terá sido algum problema na escolha da
direcção numa encruzilhada em que, segundo consta, de três vias
escolheu a do centro. O equívoco deu-se, afinal, com as indicações nas
placas...
Texto de Pedro Filipe Soares
A terra prometida estava carregada de nuvens negras e o sonho não durou mais que uns instantes. Agora, ainda em fase de recusa da verdade, tentam negar o engano e o caminho seguido. Dizem que foram por uma terceira via, mas tirando algumas curvas, o resultado não é muito diferente do que se tivessem virado assumidamente à direita.
As tentativas, agora, são as da reconstrução da encruzilhada. Essa esquerda, que virou direita, quer apagar o passado, fazer de conta que a escolha não existiu e que as opções se colocam em cima da mesa nos mesmos moldes que outrora. Assistimos ao esforço de enquadrar a realidade na ideologia, sem aprendermos com a história. A terceira via já demonstrou onde desemboca e não trouxe nenhuma novidade: o pendor reformista que se dizia servir para mediar a hegemonia capitalista capitulou e, ao mostrar os interesses que verdadeiramente defendia, agudizou as desigualdades e promoveu uma maior acumulação.
À Esquerda, face à reabilitação actual do estado, surge como tarefa o propagar dessa inevitabilidade, pensando-o não meramente num carácter reformista, mas fundacional, lançando as sementes de um novo mundo.
Pedro Filipe Soares
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