Sócrates perdeu a maioria absoluta. PS e PSD foram fortemente penalizados. O futuro governo vai depender muito mais do parlamento. A governabilidade é tema de discussão.

Van Zeller, o patrão dos patrões, veio logo no dia seguinte às eleições, dizer o que defende e o que o preocupa. Para ele, que em tempos disse "felizmente há Sócrates", o PS "tem margem para governar", a "estabilidade" passa pelos acordos do PS com o PSD e/ou o CDS, mas nunca com os partidos à esquerda. Quanto ao Bloco, Van Zeller é muito claro ao considerar que seria "fatal" qualquer entendimento do PS com o Bloco.

Está dado o mote: a governabilidade só pode ser garantida por PS, PSD e CDS, porque a esquerda seria o desastre e o Bloco fatal. Van Zeller sabe o que quer: a continuidade das privatizações e da precariedade, novos cortes nos serviços públicos, novos ataques ao direito do trabalho. Esta governabilidade é o governo contra os direitos dos mais pobres e da maioria do povo português, é o governo da entrega dos bens públicos a privados, é o governo da continuidade na evasão fiscal e do alastrar da corrupção. Por isso, o governo está proibido à esquerda, que provocaria a instabilidade aos interesses instalados que Van Zeller defende.

Em Sócrates ele confia, os últimos quatro anos deram-lhe razões para isso: as privatizações e negociatas, o Código de Trabalho, a precariedade e o trabalho temporário, o ataque a professores e funcionários públicos. E, ele também não esquece que Sócrates expulsou do grupo parlamentar do PS todos os deputados que se opuseram, mesmo pontualmente, à política que tanto agradou ao patrão dos patrões.

O Bloco é "fatal" para os grandes interesses que lucram à custa dos bens públicos, é verdade. Perante a crise em que o país está mergulhado, o reforço do Bloco é a maior esperança para quem deseja uma política diferente. A luta do Bloco vai naturalmente ser a luta por um bom governo para quem trabalha e contra o mau governo, e os maus governos que têm agravado a exploração e a vida precária.

Por tudo isto vale a pena aprofundar à esquerda o debate da governabilidade, os artigos desta revista são um contributo.

Carlos Santos