A coerência do mal menor |
Segunda, 28 Junho 2010 | |||
Nos últimos tempos, muito se tem falado em “coerência”, em “males menores” e na “responsabilidade da Esquerda” para justificar, nuns casos, a radicalização do combate socialista ou, noutros casos, a cooperação face à conjuntura. Artigo de Ricardo Salabert Não querendo descurar a importância da responsabilidade da Esquerda Socialista, em especial neste momento de crise, pretendo abordar a problemática da coerência, dado que é o que melhor desmonta essa falácia da “responsabilidade” e aborda os tais “males menores”. Sobre coerência e incoerência temos alguns exemplos, a nível internacional, com que nos deparamos quotidianamente. A incoerência dos EUA no que toca aos seus aliados no Médio Oriente, nomeadamente nos apoios de décadas passadas a Saddam, no Iraque, e ao regime talibã, no Afeganistão; e a sua coerência no reiterado apoio à política armada de Israel. Num e noutro caso, a posição é a do afamado “mal menor”, à qual foi acrescentado um ingrediente precioso, a retórica demagógica da guerra ao terrorismo. Por cá, temos assistido à coerência do Partido Comunista Português no apoio a regimes (ditos) socialistas da Ásia e da América Central, com particular relevo para os regimes norte-coreano e chinês, famosos pelo seu desprezo por valores básicos do Socialismo, como a promoção do respeito pelos Direitos Humanos, a Liberdade de Expressão e o fim da estratificação da sociedade. Em suma, não basta ser coerente para ser consequente. Encaro, pois, com bastante apreensão que me falem em posições de coerência, que resultem num mal menor. Geralmente, escondem o discurso social-democrata da “tal” responsabilidade. A isso, só posso responder que a nossa responsabilidade, enquanto comunistas, é a de enfrentar as contradições sociais, apostadas na preservação do capitalismo, quando da exploração querem fazer uma cooperação. Ser anticapitalista, não pode ser apenas uma aglutinação de conceitos; tem de ser uma postura de afrontamento ao status quo. Essa é a nossa responsabilidade, a da luta de classes, consequente e sem “males menores”. Porque não queremos colaborar com o capitalismo, mas derrotá-lo. Não podemos almejar um socialismo à chinesa, que explora as/os trabalhadores, estrangula os caminhos do debate interno e colabora com a globalização capitalista, contribuindo para a chantagem da precariedade em todo o mundo. O equilíbrio entre estas coerências cegas e o jogo de cintura que reflecte uma ímpar falta princípios (a incoerência típica do imperialismo) é difícil de alcançar, mas foi esse equilíbrio que nos permitiu formar o Bloco de Esquerda. Foi a clareza dos nossos objectivos que nos permitiu, não um mal menor, mas um espaço de intervenção com clara relevância social e que temos o dever de reforçar. Ricardo Salabert
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A Comuna 33 e 34
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