Lutas na China, de que lado está a direcção do PCP? Versão para impressão
Domingo, 27 Junho 2010

As recentes greves na China tiveram uma forte mediatização internacional. As greves mais fortes atingiram as empresas da fileira automóvel e trouxeram algumas melhorias aos parcos salários.

Artigo de Victor Franco

Há muito que se falava em conflitos sociais devidos ao aumento das contradições de classe, em particular devido à gigantesca onda de privatizações e de despedimentos desencadeada pela aceleração do capitalismo chinês, mas a mediatização global da luta operária chinesa é uma boa novidade.

O capitalismo chinês profundamente imbricado no capitalismo global, em particular no norte-americano, teve um forte impulso ideológico e concreto em Deng Xiaoping e fez disparar o número de milionários e as diferenças entre regiões. É do ideólogo Deng a famosa frase: «É impossível aumentar o nível de vida de todos os chineses ao mesmo tempo. Algumas regiões e algumas pessoas devem ser autorizadas a enriquecer mais depressa do que outras. Socialismo não é pobreza. Enriquecer é glorioso».

Os empresários, que entendem estar a «combinar o materialismo histórico com as modernas técnicas de gestão», engrossaram as fileiras e os órgãos dirigentes do partido a partir do lançamento, em 2001, da famosa teoria das três representações. Com ela o partido passou a “representar” a «cultura avançada, as forças produtivas mais desenvolvidas e a maioria do povo». A teoria é consagrada nos estatutos do XVI Congresso, de 2002, que elege o actual líder Hu Jintao.

Devemos recorrer às infindáveis denúncias de violações dos direitos dos trabalhadores, à mortandade laboral (em particular nas minas de carvão), à ausência de elementares direitos civis e democráticos (Deng previu a realização de eleições para 2037), à brutalidade da repressão é à prática generalizada da pena de morte, à total interligação entre o capitalismo chinês e norte-americano, às posições da China na ONU e à sua anuência à política da guerra e da NATO para demandar o carácter de classe deste regime.

É interessante verificar que o PCC, com presença assídua nos Encontros Internacionais de Partidos Comunistas e Operários, não tenha subscrito a Resolução «Pela paz, não à Nato», de Março de 2010, que exige, entre outras coisas, «o fim da corrida aos armamentos, o desarmamento nuclear começando pelas maiores potências nucleares do Mundo como os EUA, a completa destruição das armas químicas e biológicas, o fim das bases militares estrangeiras, (…) a solidariedade aos povos que resistem às ocupações, agressões e ingerências do imperialismo e que prosseguem duras batalhas pela sua autodeterminação e independência, (…) a retirada imediata de todas as tropas do Iraque e do Afeganistão e de todas as outras intervenções imperialistas no Mundo» ou «a dissolução da NATO».

O regime burguês-militarista chinês não é referência solidária, muito menos comunista, para o movimento operário internacional – é uma referência de opressão burguesa que merece combate.

A solidariedade com os trabalhadores chineses é uma obrigação do internacionalismo proletário.

A conquista de vitórias sociais para os trabalhadores chineses é um progresso nas lutas sociais mundiais.

O facto do Avante apenas ter atribuído, até hoje, uma única e escassa nota de resumo narrativo de vinte palavras sobre as greves dos trabalhadores chineses deve significar qualquer coisa.

De que lado está a direcção do PCP?

Victor Franco

P.S. Já depois da publicação deste artigo a China (do camarada Hu), o Brasil (do camarada Lula), a Índia e a Rússia bloquearam, no G20, uma maior regulação financeira colocando-se ao lado da máfia especuladora mundial que gerou a actual crise. 

 

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