Junho 1922: o nacionalismo irlandês Versão para impressão
Domingo, 06 Junho 2010

A Guerra Civil Irlandesa, entre 28 de junho de 1922 e 24 de maio de 1923, é desencadeada pela criação do Estado Livre Irlandês como uma entidade independente do Reino Unido, mas dentro do Império Britânico.

Artigo de Diogo Barbosa  

Neste conflito opuseram-se dois grupos de nacionalistas irlandeses: as forças do novo Estado Livre, que apoiou o Tratado Anglo-Irlandês através do qual o Estado foi criado, e os republicanos, para quem o Tratado era uma traição ao ideal da República da Irlanda. A guerra foi ganha pelas forças do Estado Livre.

Vale a pena recuar no tempo e lembrar que a Irlanda esteve desde o século XII anexada a Inglaterra e o espírito nacionalista deste povo sempre se fez notar na luta pela sua independência e pela sua autonomia face a um governo imperialista que pouca ou nenhuma representatividade dava a esta colónia intra-europeia.

Ainda antes do acontecimento que transformou toda a Grã-Bretanha numa espécie de reino do protestantismo oficial já o espírito nacionalista deste povo se verificava e a vertente da religiosidade católica serviu de apoio ao nacionalismo tradicional por parte do povo da Irlanda.

Este nacionalismo irlandes veio a desenvolver-se contra o unionismo representado pela elite protestante. A escalada do conflito desencadeia-se com o surgimento de um partido nacionalista, o Sinn Féin, em 1905 que tinha o intuito de libertar a Irlanda. A declaração de independência surge logo em 1918. Ainda que, logo em 1921, seja alargada autonomia da Irlanda com a criação do Estado Livre da Irlanda, esta fica sob hegemonia da coroa inglesa e o território do Ulter (Irlanda do Norte) permanece sob o jugo directo dos britânicos.

Quando em 1922 se inicia a guerra civil, a força nacionalista anti-tratado toma forma no Exército Republicano Irlandês ou IRA. O IRA perdeu esta guerra civil mas manteve-se activo após todo este processo e tinha como apoio politico o Sinn Féin, cosiderado à época (mas não hoje) o seu braço político.

Fazendo uma breve analise deste processo o movimento nacionalista que ressurge nos anos 20 na Irlanda com o propósito da independência total do seu país face a uma potencia europeia que colonizava este povo e se achava no direito de o subjugar, este nacionalismo faz algum sentido. Note-se que os trabalhadores irlandeses de maioria católica foram por séculos oprimidos pela aristocracia e burguesia protestantes de origem inglesa. É à exploração do seu trabalho, totela social e política, somava-se o atentado contra os direitos culturais e de liberdade religiosa. Tudo isto contribuia para a sua vontade de emancipação face ao jugo britânico que tomava as aparências de uma guerra religiosa.

 As acções de independência do IRA, nomeadamente durante a guerra civil de 1922 a 1923, custaram a morte a milhares de pessoas e o IRA perdeu. Apenas com o desmantelamento do gabinete do governador-geral e, meses depois, a Constituição de 1937: o Estado Livre da Irlanda é substituido pela actual Republica da Irlanda. A tão querida independência total só foi conseguida em 1949 com a revogação da “lei ordinária do Rei da Irlanda como um órgão do Governo irlndês”, que resultou na saída automática da Comonwealth – nessa altura as republicas não podiam fazer parte da Comonwealth. Já a Irlanda do Norte permaneceu e permanece como território britânico.

Este nacionalismo irlandes tem de ser analisado numa perspectiva diferente dos nacionalismos como o da alemanha nazi, pois não tem como objectivo a subjugação de outros povos nem a tentativa de expansão imperialista como a protagonizada por Hitler ao querer controlar o mundo com a sua ideologia e poderio militar. Arrisco-me a escrever que o movimento nacionalista irlandês e principalmente na fase da guerra civil de 1922 é um movimento virado para si, um nacionalismo que tem como único objectivo a obtenção da liberdade, a obtenção dos direitos por parte de um povo que se vê nas mãos de um colosso colonial como foi a Inglaterra.

Na construção de todo este processo nacionalista e de construção do Estado irlandês, este nacionalismo não está de fora da identidade europeia, podendo mesmo ser compatível com o europeismo. Isto faz com que se possa chegar á conclusão de que, como já referi a cima, este é um nacionalismo virado para si, um nacionalismo emancipatório.

Já no que se refere ao pendor irredentista do nacionalimo irlandês, que visa a reunificação da ilha da Irlanda, a questão complica-se com existência de uma maioria unionista e protestante na Irlanda do Norte. Podemos sempre lembrar que essa maioria é fruto da demorada colonização. Mas vale mais dizer que: só um verdadeiro internacionalismo pode olhar desapaixonadamente para estas questões e lutar por soluções que não só tornam irrelevantes as fronteiras, como tornam superior a emancipação.

 

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