Desde que a crise do capitalismo neoliberal estalou na Europa tem-se assistido a uma subida significativa da extrema-direita na maioria dos países do velho continente.
Se é uma constante histórica que os pólos periféricos do centro político tendem a crescer e a merecer a confiança dos eleitores em alturas em que a crise sistémica do capitalismo mais se acentua e as suas contradições inatas aumentam exponencialmente o exército social de reserva, arrastam milhões para a pobreza, agudizam o ataque ao Trabalho, estão geralmente reunidas as condições objectivas para o fortalecimento das forças progressistas de esquerda, anticapitalistas e comunistas.
Mas não foi só a isso que assistimos nestes últimos tempos.
Entre eleições europeias, autárquicas/regionais, legislativas e presidenciais a extrema-direita europeia cresceu forma galopante. Vendo alguns casos como a Suiça (SVP) e a Itália (Liga do Norte e Força Itália), apesar de terem particularidades sociais e culturais distintas, as forças mais reaccionárias mantiveram o seu apoio de massa de forma siginificativa em relação aos partidos de esquerda.
Nos restantes países europeus como a Áustria (Partido da Liberdade) Holanda (Partido da Liberdade), Hungria (Jobbik), Reino Unido (Partido Nacionalista Britânico) e França (Frente Nacional) assistiu-se a vários fenómenos políticos distintos. Se por um lado em alguns destes países as forças ultra-nacionalistas obtiveram pela primeira vez expressão política significativa, que é o caso da Holanda – o partido não tem parado de crescer desde das eleições legislativas de 2006 onde conseguiu eleger 9 deputados, em 2009 4 eurodeputados e afirmou-se como segunda maior força autárquica nesse mesmo ano, acompanhado por uma perca de eleitorado das forças à esquerda – e do Reino Unido – o BNP conseguiu pela primeira vez eleger 2 eurodeputados em 2009. Por outro lado partidos como a Frente Nacional Francesa voltaram a recuperar força eleitoral, o Partido da Liberdade Austríaco e o Jobbik caminham a passos largos para se cimentarem como segundas forças políticas nacionais em todos os campos.
E onde pára a esquerda?
Este é o grande debate, porque é que há um crescimento da extrema-direita desproporcional com o crescimento da esquerda revolucionária?
Obviamente que cada amostra dos países citados, e todos os outros do universo de países europeus, têm as suas complexidades sociais, culturais e históricas. Não se pode desligar de forma alguma o crescimento dos movimentos fascistas no leste com o forte preconceito anti-sindical, anti-comunista e anti-esquerda que é hegemónico, e para os restantes existem outros indicadores como o fraccionarismo na esquerda e experiências fracassadas de alianças com os sociais-liberais.
Mas de um ponto de vista analítico estruturalista conseguem-se encontrar sinais, tácticas e estratégias comuns em toda a Europa.
A esquerda não tem conseguido, em demasiados países europeus, ser o banco de raiva das massas populares e agregar o descontentamento para as suas fileiras, numa altura em que todos/todas trabalhadores e trabalhadoras são directa ou indirectamente afectados pela crise e há condições materiais para o despertar da consciência de classe.
A extrema-direita tem conseguido ser o albergue do descontentamento que a crise provocou, recorrendo à culpabilização da escassez de moral na sociedade, dos/das emigrantes, dos subsidiários e “preguiçosos... Dai se explica muito do crescimento do seu apoio.
O Discurso como Ideologia
O desafio da esquerda é a disputa do discurso. Numa altura de fragilidade sistémica, também a ideologia dominante e o seu discurso são postos em causa e abrem espaço para a penetração e a contaminação com outras ideias.
Se a esquerda não o fizer fá-lo a extrema-direita, o que não significa que se use as mesmas armas retóricas, mas sim disputar o senso comum.
Sabemos todos que a culpa de qualquer crise é do capitalismo e da burguesia, porém a disputa hegemónica pelo senso comum faz-se numa estádio diferente: o dos rostos claros. São os banqueiros, os “boys”, os grandes empresários (...) aqueles que têm face palpável e que a massa consegue reconhecer, é contra estes que a esquerda capitaliza apoio e constroi o seu banco de ira.
Todos sabemos que as nossas previsões e análises sobre o Capital e a sua crise estavam e mantêm-se certas, mas não basta, é preciso contaminar a massa, disputar o senso comum, o que obriga a uma descodificação clara do nosso discurso como arma de disputa ideológica.
Artigo de Fabian Figueiredo
Este artigo foi inicialmente escrito e publicado na Tribuna 2 da 5ª Conferência Nacional da UDP, realizada a 8 de Maio de 2010
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