De Abril a Maio... Aqui chegados... Versão para impressão
Domingo, 23 Maio 2010
Finalmente o 25!

Cravos em quase todas as lapelas do PSD. Até algumas bestas se desferraram porque precisavam dos cravos para as lapelas.

Aguiar Branco, prestes a preconizar a ditadura do proletariado, aconselhou-se com Lenine e com Rosa Luxemburgo antes do seu discurso do 25 de Abril. Não haviam o BE e o PCP de rir-se, meu velho BB*?

«O bagaço, o andaço, o cagaço», nunca se sabe quando o pessoal perde as estribeiras. É preciso dar-lhe sinal de que também somos povo de Abril. A «revolução do cravo» foi feita para todos lembrou Aguiar Branco… Para quê o preconceito?

Amemos o Zeca Afonso. Amemo-nos uns aos outros sob a bandeira da liberdade, a ambição de todos nós. Não nos deixemos separar pela semântica: povo ou iniciativa privada e social (cá está, social!) é tudo a mesma coisa.

«Dar ao povo o que o povo produzir» como preconiza o Sérgio Godinho. Os da finança nada produzem e engordam astronomicamente. A produção estiola, o povo fenece no desemprego. Porquê? Porque o Estado tolhe a livre iniciativa!

O PSD, pela voz de Aguiar Branco quer mudar a Constituição. Um Estado «neutro», tanto como o PSD, para nos salvar da crise e da dívida externa. 

Ex-ministros que trocaram as conquistas de Abril pela engorda da finança apelam a Cavaco, o homem que liquidou quase toda a estrutura produtiva portuguesa, da metalomecânica pesada à industria naval, dos caminhos-de-ferro às pescas, que entregou a liquidação da agricultura aos JEEPs (Jovens Empresários de Elevado Potencial). Que pagou as indemnizações das privatizações de acordo com as avaliações feitas pelos próprios indemnizados, que trocou o apoio ao ensino público pelo estímulo a sinecuras em universidades privadas, que lançou o ataque feroz ao SNS e com isso e muito mais gastou um milhão de contos por dia que vinha da CEE. Não é difícil ver por que se constituiu a enorme dívida, apontada pela rezinguice de Medina Carreira.

Que fazer então? Mudar a Constituição.

A «evolução na continuidade» trouxe-nos próximo do «reencontro com a nossa história» que Sá Carneiro, tendo Cavaco como ministro das finanças, anunciava em 1980 quando esperava eleger para Presidente da República o fascista general Soares Carneiro e liquidar a Constituição de Abril.

Num encontro com militares Manuel Alegre é insultado quando comparam a sua luta anticolonial na Rádio Portugal Livre ao apoio ao terrorismo da Al Qaeda. O coronel Morais da Silva - que no 25 de Abril, chefiando quatro oficiais deixou fugir o comandante de Cavalaria 7 que devia prender -, estimulado pelo andar da carruagem chamou, neste semanário, «garimpeiros» e «ladrões» aos militares que cumpriram as suas missões e se bateram pela democracia política e social, pela revolução de Abril e por isso viram liquidadas as suas carreiras em 76 que só em 2000 foram reconstituídas, sem qualquer indemnização, aliás.

O sonho carneirista/cavaquista está a cumprir-se – uma maioria (PS, PSD, CDS) para o PEC e tudo o que é fundamental; um Governo – Sócrates tem sido o primeiro-ministro da finança e a finança dirige o PSD; um Presidente – Cavaco, que o PS se prepara para ajudar a reeleger com um apoio displicente, renitente, envenenado, a Alegre.

O Portugal que começou a ser concretizado em Abril, da liberdade ao serviço da igualdade, que só um Estado democrático forte controlado pela participação cidadã pode garantir, necessita que se derrote a equipa socrático/cavaquista adquirida por tuta e meia pelo cartel da finança.

 *Crónica no DN de 28 de Abril

Mário Tomé

 

 

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