Os melhores dias da nossa luta são aqueles que ainda não chegaram! |
Segunda, 10 Maio 2010 | |||
Boa tarde a todos os camaradas da UDP e também aos nossos convidados, camaradas da luta bloquista a aos amigos gregos, que vieram assistir hoje aos trabalhos desta 5ª Conferência Nacional da UDP. Aproveito para reafirmar a nossa solidariedade com o povo grego e com a sua luta contra a ofensiva brutal das políticas liberais. A vossa luta é a nossa luta. Queria felicitar a todos e todas pela discussão enriquecedora que tivemos durante o dia de hoje, de onde saíram contributos valiosos para o debate das nossas teses. Estes momentos representam mais uma prova de que a UDP está viva e que continua a reforçar o seu papel de corrente comunista no seio do Bloco de Esquerda. Camaradas Há dois anos atrás, a UDP reunida em Conferência aprovou um Novo Impulso e iniciou um novo ciclo para o desenvolvimento do ideal comunista. A tarefa que então nos era então exigida tinha a força de mais de três décadas de história: repensar o papel do contributo marxista no actual quadro do capitalismo mundial, e reavaliar a razão da nossa existência enquanto colectivo comunista no seio do Bloco de Esquerda. A decisão que em conjunto tomámos representou uma reivindicação e uma promessa de futuro, e foi ela que traçou o caminho que nos trouxe até aqui. Pensar a luta de classes, resgatar o marxismo, reforçar o campo revolucionário para o combate de todos os dias contra as imposições da ofensiva liberal. Estes foram os desafios lançados aos militantes da UDP e o compromisso assumido pela anterior Direcção Nacional. O reconhecimento de que o papel de uma corrente como a nossa é marcar ideologicamente o movimento revolucionário, através dos ganhos que obtém no debate das ideias foi fundamental para este passo. E com ele abrimos caminho para a criação do Bloco de Esquerda, recusando a estagnação e o estado de coma, destino fatal de todas as organizações que ao se deixarem afundar em posições dogmáticas e sectárias, abdicam de influenciar politicas e conquistar maiorias. Não concluímos hoje o Novo Impulso, tarefa sempre inacabada, mas respondemos ao compromisso assumido. Durante estes dois anos percorremos algumas das teses mais importantes de Lenine. Chamámos a esse esforço Pré-Revolução. Que Estado e que Partido queremos para uma sociedade socialista. Que Estado serve os interesses de classe e que Partido cumpre as exigências da transformação revolucionária. Estes foram os debates escolhidos para um confronto entre a teoria marxista e as condições objectivas e subjectivas da luta de classes hoje. Da mesma forma, avançámos com uma reflexão sobre a estratégia que deve presidir à acção política de uma força revolucionária no actual quadro do desenvolvimento do capitalismo. O resultado desse debate afirmou-se e fez caminho na direcção política do Bloco de Esquerda: atacar os PS’s europeus e socavar as bases da social-democracia em decadência como estratégia de acumulação de forças, numa ampla frente contra as politicas liberais. No centro da táctica, a defesa dos serviços públicos contra o programa privatizador e a resistência anti-guerra revelam-se hoje, em plena crise económica e perante o duro ataque do PEC, como escolhas acertadas. Para além destas, outras questões foram-se impondo no debate político actual, como a ascensão do populismo de direita e os desafios levantados pela crise económica. A todas tentámos dar uma resposta no campo teórico do marxismo. Porque a rotina não se compadece com a velocidade da luta política de hoje, as teses que enformam estes debates significam todos os dias, como dissemos antes, a escolha da política para milhões. É ela que nos deve orientar no trabalho de activismo diário no Bloco de Esquerda e em todos os movimentos em que estamos inseridos. Este percurso é longo e exige um esforço permanente. Há oito anos, numa evolução teórica em contra-corrente, a UDP confrontou as afirmações de Lenine sobre o Império com os desenvolvimentos verificados no sistema capitalista internacional.
Estudar o impacto que globalização financeira e a transnacionalização dos capitais tiveram no Império permitiu-nos avançar com a tese do Imperialismo Global. Esta actualização foi fundamental para a compreensão do alinhamento das potências em momentos como a Guerra do Iraque e a resposta à crise financeira, permitiu-nos definir um posicionamento político quanto à construção europeia e deu-nos instrumentos para compreender melhor o papel das potências emergentes na hegemonia do Império. A crise económica abriu-nos campo para regressar a este debate e levantou-nos novas questões sobre o Imperialismo Global. O papel das potências emergentes na gestão do Imperialismo Global, a ascensão da China como parceiro estratégico dos Estados Unidos na cabeça e cérebro do Império, o balanço de um ano de Obama, foram algumas das questões que debatemos e aprofundámos durante o dia de hoje. São estas discussões que nos dão instrumentos teóricos para enfrentar o combate político. E esse trabalho é contínuo. Hoje foram já levantadas pistas para novos debates e novos temas de estudo: as contradições internas do capitalismo, seja na Europa ou na China, a importância da disputa do espaço público pela esquerda, a evolução da NATO, o nosso papel na refundação democrática da Europa, as respostas socialistas à crise… São questões que merecem toda a nossa atenção. Da mesma forma devemos continuar a acompanhar as transformações que ocorrem na arquitectura do Imperialismo Global por via da ascensão de novas potências que o Império vai cooptando para satisfazer os interesses do capital. Estaremos atentos ao papel da China neste processo, mas também do Brasil, da India, da Rússia e dos tigres asiáticos. A equação da geometria variável domina hoje as alianças hegemónicas que se estabelecem no centro do Império, mas o capital será eficaz na formação de novos arranjos se as condições concretas assim o impuserem. A deriva neoliberal da Europa traz novos desafios à esquerda. A oportunidade que se levanta é de sermos agentes de uma transformação profunda nas bases que sustentam a construção europeia. A falência do projecto da social-democracia europeia e a sua cedência às políticas neoliberais colocou o velho continente numa situação de grande fragilidade. A braços com gigantescos desequilíbrios orçamentais e com o aumento da pobreza, do desemprego e da desigualdade social em todos os países, a Europa cede à doutrina liberal do FMI e ao seu programa privatizador. A Europa transformou-se no elo mais fraco do Imperialismo, as pressões internas provocadas pelo agudizar das condições de vida dos povos aumentam, e é cada vez mais necessário um grande movimento europeu que junte em torno de reivindicações comuns muitos partidos, movimentos sociais, sindicatos e activistas. Em Portugal, o Bloco de Esquerda conseguiu retirar a maioria absoluta a Sócrates, mas não tem ainda a força da maioria que faz recuar as politicas liberais. Para consegui-lo teremos de ganhar combatentes para defesa do Estado Social e dos Serviços Públicos. A disputa dessa força terá nas eleições Presidenciais um dos seus momentos mais decisivos, e é contra o PEC e em nome dessa aliança estratégica que apoiamos Alegre como o único candidato capaz de derrotar a direita de Cavaco. A tarefa actual dos comunistas é contribuir para a construção dessa frente anti-liberal, sabendo sempre que no momento presente representamos também o futuro do movimento. A Direcção Nacional votada e aprovada nesta Conferência assumirá com responsabilidade este compromisso com o futuro. Pesem embora todos os factores objectivos que em qualquer leitura materialista nos sussuram a emergência de um rápido agudizar da luta de classes, os materialistas – marxistas – de hoje – têm também de contar com as adversidades no avanço das consciências, ou seja, com as condições subjectivas que determinam a radicalização da luta. A derrota ideológica do neoliberalismo sinaliza novos tempos no combate político. Quando já nem instituições financeiras – nem mesmo o FMI - podem ignorar o papel do Estado na Economia, quando o capitalismo é obrigado a socorrer-se da intervenção do Estado para se salvar, a doutrina sofre. Sofre porque não tem soluções e não pode ser aplicada. Mas esta derrota da doutrina neoliberal não esconde a evidência da sua hegemonia política e económica. Morto e enterrado que está, no campo teórico, o fatalismo do Fim da Histórica, o discurso dominante é ainda o da inevitabilidade da ciência liberal e o da relação umbilical entre o mercado e a liberdade democrática. É por isso que a conquista de maiorias sociais se joga hoje também no campo do senso comum, na disputa comunicacional de massas, roubando espaço ao discurso dominante. Só dessa forma a esquerda conseguirá combater ao mesmo tempo os argumentos populistas da direita e ideia da falta de alternativas. Ao apontar directamente os responsáveis pela crise, ao mostrar de forma clara quem está a ganhar com ela e quem a está a pagar, ao afirmar sem descanso as nossas propostas, ganharemos mais gente para o combate contra as políticas liberais. Essa ofensiva avançará nos espaços que a social-democracia vai deixando livres à sua Esquerda à medida que se afunda nos programas de estabilidade e crescimento impostos pelo neoliberalismo. Camaradas Será na construção dessa grande aliança anti-liberal que vai crescer e que se vai formar uma nova geração de revolucionários anti-capitalistas. Esta ideia não é nova na UDP: é tempo de os sectores jovens escolherem o Estado que querem. Para ganhar a juventude para esse combate é preciso tornar atraente uma alternativa do ideal. A luta contra o conservadorismo não se pode separar da luta por um Estado Socialista, que cumpra as reivindicações da modernidade e das liberdades individuais no quadro das conquistas mais avançadas da luta de classes. Esta é a principal tarefa a que uma corrente ideológica tem de dar resposta hoje. O descrédito público do neoliberalismo permite-nos forçar esse espaço e aprofundar desta forma a brecha aberta nos alicerces do sistema capitalista. Ganhar os jovens para o debate sobre o papel do Estado significa a radicalização da luta e a superação de muitas das debilidades que as forças revolucionárias enfrentam desde a queda do socialismo real. Tornar atraente uma alternativa do ideal exige um contínuo aprofundamento e constante actualização do pensamento marxista. A UDP deu já passos consistentes na prossecução deste caminho. Também o Bloco de Esquerda despertou já para esta necessidade, lançando uma nova campanha nacional dirigida à juventude. Cabe-nos agora, enquanto colectivo marxista, ajudar a encontrar e a ganhar para o projecto alternativo de sociedade que o Bloco representa, milhares de jovens, futuros activistas e militantes. A UDP assumiu ser esta a sua grande tarefa, e deve continuar a alimentar e a projectar para o exterior os debates e as polémicas em torno do pensamento marxista. É por isto que estamos já a ver crescer dentro da UDP uma nova geração de revolucionários que ajudará a marcar o próximo tempo político no Bloco de Esquerda. Esta nova geração de combatentes é também ela marcada pelas características do seu tempo próprio, e possui por isso novos instrumentos travar novas e velhas batalhas. É uma geração que cresceu já sem o muro e sem referenciais de alternativa. É uma geração mais cosmopolita, mais apetrechada do ponto de vista das novas tecnologias de informação e comunicação e com um conhecimento diferente da Globalização. Mas é também uma geração que não experimentou as conquistas de Abril, apenas os resultados da era Cavaquista. É uma geração que conheceu menos segurança social e mais precariedade e é por isso uma geração mais explorada.
A complexidade dos tempos que vivemos representa desafios para todas as forças de esquerda. Desde o perigo do sectarismo enquanto tentativa defensiva de afirmação identitária até às tentações de experimentar alianças no arco da governabilidade, os exemplos são vários à escala europeia, e sempre com os mesmos resultados. É também neste campo que se fará a disputa pela direcção política dentro do Bloco. Neste sentido, ganhar a juventude para o campo marxista significa, a longo prazo, projectar a UDP como centro de ideias, manter o Bloco de cor de vermelha e exercer influencia nos sectores mais à esquerda da sociedade portuguesa. Para isso é necessária mais produção ideológica. Mas é preciso também exercer influência juntos dos movimentos sociais, aproximar novos activistas, sindicalistas e militantes, para conseguir que essa nova geração construa um Bloco com uma forte implantação de massas, um Bloco pronto e preparado para conquistar as maiorias sociais que nos permitem determinar políticas e afirmar o nosso projecto socialista. Esta é a nossa tarefa dentro do Bloco, e é nesse sentido que a nova Direcção Nacional orientará as suas forças. A Comuna tem-se afirmado como o principal instrumento desta estratégia e por isso devemos e queremos desenvolve-la, ampliando os contributos, chamando mais gente e mais jovens para debater e escrever, e melhorando os meios técnicos que nos permitem projectar essa discussão para o exterior. O debate e a participação no seio na nossa organização têm de ser reforçados. Mas também a construção de pontes com todos aqueles que connosco lutam numa base diária não é só necessária como desejável. A capacidade de disputar lideranças políticas no campo do debate das ideias é aquilo que define um colectivo ideológico. O Bloco só tem a ganhar com o debate político e ideológico entre as suas correntes e também aí daremos o nosso contributo. Vamos chamar as outras correntes para iniciativas conjuntas, para debates amplos que solidifiquem as bases do nosso projecto comum, que é a afirmação de um projecto socialista em Portugal e na Europa. Contamos com todas e todos nesta tarefa de ganhar mais revolucionários para a UDP e acrescentar forças ao Bloco. O nosso projecto continua a ser armar a esquerda para os combates futuros. Camaradas Só uma Esquerda profundamente fiel à sua História, mas livre dos freios do dogmatismo e do sectarismo que travam o seu avanço; Só uma Esquerda profundamente enraizada nos princípios da democracia e da liberdade, poderá enfrentar os desafios impostos pela luta contra o capitalismo moderno e pela sua ofensiva neoliberal. Essa é a esquerda que decide a política para milhões. Em Portugal e na Europa, o papel da UDP é fortalecer no campo ideológico a construção dessa enorme força transformadora. Camaradas Os melhores dias da nossa luta são aqueles que ainda não chegaram! Saudamos a sociedade que é o nosso sinal e o nosso marco: O Socialismo.
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A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
A Comuna 33 (I semestre 2015) "Feminismo em Ação" | ISSUU | PDF | Revistas anteriores
Karl Marx