A vitória de Obama, há um ano, nos EUA, veio trazer em alguns sectores, particularmente nos sectores sociais democratas, a ilusão de uma viragem à esquerda nas políticas do Império, no triunfo do multilateralismo sobre o unilateralismo de Bush e da paz sobre a guerra no Iraque e do Afeganistão.

Artigo de José Casimiro

Não se confirmou a emergência de um mundo multilateral e de humanização  da globalização, mesmo com uma gravíssima crise económica, política e ideológica, mesmo com uma derrota ideológica do neoliberalismo.

É pois, no mínimo “precipitada” a leitura de alguns, de que estamos perante a “perspectiva do aperfeiçoamento da democracia americana no domínio dos direitos cívicos e da aproximação ao modelo social europeu, [de que] a legislação de 2010 pode figurar ao lado do New Deal ou de Civil Rights Act.”.

Refutar a aproximação ao modelo social europeu, não significa não reconhecer o enorme avanço para 32 milhões de pessoas, das mais pobres da sociedade americana, que não tinham qualquer cobertura através de um seguro de saúde. Ainda assim, mesmo com esta aprovação, prevê-se que o número de mortos por falta de assistência médica, possa andar por volta dos 45 mil por ano. Num sistema criado em 1960 onde os seguros continuarão a ser a trave mestra no sector, 15 milhões de pessoas, correspondente a pessoas entre os 19 e 26 anos, continuarão a ver-lhes vedado o acesso à assistência médica.

Infelizmente para o povo americano, em matéria de saúde nada temos a “aprender com os americanos” pois o sector continua a estar assente nas acções dos hospitais e das seguradoras em bolsa. Os seguros de saúde americanos variam consoante os planos acordados, a maior parte exige um co-pagamento do utente, cada vez que vai a uma consulta. Esta consulta custa, em média, 15 euros. 

Comparar o sistema de saúde americano com o modelo social europeu é comparar o incomparável. A social-democracia imputada de projecto próprio, está há muito rendida à ideologia neoliberal e confunde o que é um importante avanço para o povo americano com o New Deal.

O combate e a construção de uma alternativa ao neoliberalismo conta com a clareza ideológica de todos os sectores e o empenhamento na luta pela preservação do modelo social europeu, contra “a livre escolha e funcionamento do mercado”.      

José Casimiro