Socialismo e direitos humanos Versão para impressão
Sábado, 13 Março 2010

Quando Marx olhou a sociedade e pensou uma forma de organização política, económica e social alternativa, fê-lo porque constatou que o homem vivia na miséria, fruto da exploração e da opressão a que o capitalismo o submetia. Essa preocupação humana foi condição essencial do seu pensamento, e a esquerda anti-capitalista moderna, não pode aceitar que em nome do socialismo se pratiquem verdadeiros atentados aos Direitos Humanos. Isso é paradoxal, porque socialismo e Direitos Humanos são conceitos quase siameses.

Cuba, um dos poucos Estados que ainda tem a ousadia de se auto-caracterizar socialista, faz uso de uma retórica anti-guerra, anti-imperialismo e pelos Direitos Humanos. Advoga toda essa malha discursiva com a teoria anti-império (legitima por si só, mas não legitimadora de tudo). A Esquerda anti-capitalista tem de perceber que existem precedentes, que para lá de um discurso floreado existe toda uma organização política que se afastou no ideário humanista que Marx protagonizou.   

Em Cuba não existe liberdade de expressão, de associação e de crítica. É um facto incontornável. Em pleno século XXI, é inconcebível que um Estado se caracterize de Socialista e utilize os seus órgãos repressivos para prender e deter quem pensa de maneira diferente. O império faz isso com a teoria “pensamento único” de forma encapotada, e também ai a Esquerda tem uma palavra a dizer e um ponto de exclamação a acrescentar. Porque superioridade da Esquerda mede-se pelos seus valores.

Um partido de esquerda socialista tem de olhar para os cerca de duzentos presos políticos, para a morte de Tamayo (e a repressão pós morte), para a repressão sobre os movimentos feministas, para os desaparecimentos (presumivelmente mortes) dos líderes de oposição, para o exílio de Cubanos críticos, e para os milhares que morrem na travessia, e perceber que esse é um caminho por onde não queremos ir.

Sem direitos humanos não há alternativa socialista. Quando há uns tempos li o “Conta-me coisas de Cuba”, de Jesus Diaz percebi que a questão Cubana era mais complexa do que se pensa. O autor não é propriamente de fiar, mas a análise é séria. A história da personagem que ele cria podia ser a história de qualquer Cubano, oprimido no seu país que acabou perdido no mar entre dois países e duas realidades concepcionais…

É verdade que Cuba é segregada e que o seu povo é brutalmente desrespeitado. Que existe uma ofensiva brutal sobre a sua economia. Mas isso não desculpa por si só, que o regime ignore os Direitos Humanos. Que, no fundo, deviam ser a pedra angular de qualquer regime socialista. 

João Nuno Mineiro

 

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