Cuba conta para quê? Versão para impressão
Sábado, 13 Março 2010

Cuba desperta paixões. A beleza do país, a simpatia das suas gentes, a alegria da sua música ou a imagem de uma resistência anti-imperialista favorecem as perspectivas românticas. Muitos homens e mulheres, de coração à esquerda, encantam-se com os discursos inflamados de Fidel, “revolucionarizam-se” nas brigadas internacionais de apanha da cana-de-açúcar e sonham não perder mais uma referência de poder “socialista”.

Mas o romantismo político e ideológico não se pode sobrepor à razão, por muito que a razão doa e signifique desilusão.

As recentes greves de fome de activistas (mais ou menos) políticos cubanos trouxeram de novo para a cena internacional o “problema” cubano. E, mais uma vez, o imperialismo e suas gentes aproveitaram a oportunidade para destilar propaganda reaccionária e anti-comunista - em nome da defesa dos direitos humanos.

De imediato demarcamo-nos  da propaganda capitalista sobre Cuba e valorizamos a sua oposição nacionalista ao imperialismo que o mantém cercado há dezenas de anos, mas não aderimos à proclamação para sustentar ilusões ideológicas.

Aos comunistas que querem reerguer a mensagem que mobilizou milhões de pessoas não basta um olhar acrítico e romântico; a luta ideológica exige resposta responsável mas corajosa.

Obama, aquando da sua reeleição, deu um cheirinho de desanuviamento das relações com Cuba, mas logo deixou cair as aparências para seguir a política Bush e o embargo continuou. A razão é a manutenção da posição agressora e militarista que caracteriza o império e o seu centro, a razão é a força da dominação e da agressão. Obama saberá, presumo eu, que estes “castelos” tomam-se melhor por dentro do que por fora. O fim do bloqueio poderia fazer mais pela política capitalista e por uma transição (chinesa) rumo ao “socialismo com economia de mercado”. Conhece-se que o rápido desenvolvimento do turismo para a ilha teve pilar na criação de empresas de capitais mistos com capitalistas estrangeiros.

Cuba permanece, assim, um pouco ao lado do mercado até pela sua reduzida dimensão e capacidade económica. Apesar disso, crescentes negócios têm sido feitos com a China, Brasil, Venezuela…

Cuba não conta na resistência anti-imperialista - apesar das ilusões da “fé ortodoxa” - e não se conhecem a Raúl Castro reacções entusiastas ou sequer favoráveis à proposta da V Internacional de son ami Hugo Chávez. Essa nova internacional, que chegou a despertar algum interesse em esquerdas europeias, parece ter sido fogo-fátuo ateado por Chávez para resolver questões internas. Os “socialismos” chinês e norte-coreano também nunca construíram alternativas de esperança anti-capitalista – nem tão-pouco com o populismo neo-peronista do líder venezuelano.

Se economicamente Cuba conta pouco, ideologicamente conta cada vez menos nas relações internacionais e na luta ideológica. E não consta que a proibição do direito à greve entusiasme o “internacionalismo proletário” em qualquer marxista.

Pode ser engano, mas parece que o farol chinês ilumina os caminhos da frágil elite cubana.

Victor Franco

 

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