Os becos “sem saída” das lutas das mulheres Versão para impressão
Domingo, 07 Março 2010

À ideologia burguesa e suas manifestações «libertadoras» da mulher submissa, vítima da dominação masculina, pela primazia masculina, contrapõe-se a ideologia e prática revolucionárias pela emancipação das mulheres, que se fundamenta na luta de classes, nos princípios revolucionários pela transformação social e na eliminação de todas as formas de exploração. Ontem como hoje é preciso dar combate a caminhos que visam levar a luta das mulheres para becos sem saída, afirmando a justeza e a actualidade da luta do PCP e das mulheres pela transformação social e pelo socialismo.


(Centenário da proclamação do Dia Internacional da Mulher, Site do PCP, 4/3/2010)

 

Em 2010, comemora-se o centenário da segunda conferência internacional de mulheres socialistas em Copenhaga, em que Clara Zetkin propôs a criação de uma jornada internacional de luta pelos direitos das mulheres.

Clara Zetkin (1857-1933) constitui uma referência na acção internacionalista e na mobilização das mulheres. Socialista-Marxista, Clara Zetkin foi defensora da perspectiva dos interesses não homogéneos das mulheres, dada a sua pertença a diferentes classes sociais e colocava como factores de emancipação os direitos políticos, entre os quais, o direito ao voto e a integração das mulheres na produção.

Inspirada nas feministas socialistas norte-americanas que, em Chicago a 3 de Maio de 1908, haviam celebrado um dia da mulher com a participação de 1500 mulheres e denunciado a opressão e exploração a que estas se encontravam submetidas, reclamando a igualdade entre os sexos, a autonomia das mulheres e o seu direito ao voto, Clara Zetkin fez a proposta de uma jornada internacional das mulheres, em 1910, sem referir um dia especial para essa jornada. No jornal alemão Diegleichheit de 28/8/1910, Clara Zetkin referiu que o tema principal dessa jornada seria a luta pelo direito ao voto.

Deste modo, é importante ligar este centenário da jornada internacional das mulheres, à luta das feministas portuguesas do tempo da República pelo direito ao voto. Os encontros e desencontros políticos entre republicanos e feministas, causando fortes desilusões, não deixaram, todavia, de marcar uma época em que um conjunto de mulheres1  assumiram papel histórico relevante, ousando reivindicar direitos cujo alcance ainda se reflecte hoje, 100 anos depois. Para além do direito à educação, ao divórcio, à igualdade entre mulheres e homens no código civil – em que artigos vexatórios das mulheres como seres humanos precisavam de ser revogados2  - é a própria Carolina Beatriz Ângelo que, numa entrevista ao jornal O Tempo de 3/5/1911, reclama “todas as medidas necessárias para modificar a situação deprimente em que se encontra a mulher, entre as quais a igualdade de salários e a ocupação de certos cargos públicos” (SILVA, 2005:21).


Um século não chegou para que a igualdade salarial entre mulheres e homens fosse uma realidade. Persistem no século XXI discriminações inadmissíveis na área do trabalho em relação às mulheres. Contudo, este facto não restringe as lutas das mulheres às lutas operárias. Essa visão limitada das lutas feministas, que continua a persistir em alguns sectores da esquerda, nem sequer favorece as lutas das mulheres trabalhadoras. Isola-as, não alarga a dimensão das diversas opressões e limita o alcance das transformações profundas da sociedade.


As mulheres são diferentes em função da classe social, da idade, da etnia, da orientação sexual, das regiões de origem e as diferentes discriminações cruzam-se e agravam-se numa sociedade capitalista e patriarcal em que um modelo de masculinidade hegemónica continua a ter muito peso. Que o digam as vozes de mulheres silenciadas pela brutalidade de homicídios conjugais. Que o digam as mulheres que fogem a esse domínio porque já não podem aguentar uma vida de violências nas relações de intimidade. E todas estas mulheres são trabalhadoras, pertencentes a diferentes classes sociais e a diferentes etnias.


Fechar os olhos a estas realidades, isto sim, é colocar as lutas das mulheres em becos sem saída.

Artigo de Manuela Tavares


 

1 Adelaide Cabete, Ana de Castro Osório, Angélica Porto, Maria Clara Correia Alves, Aurora de Castro Gouveia, Carolina Beatriz Ângelo, Carolina Michaelis de Vasconcelos, Deolinda Lopes Vieira, Maria Veleda, Elina Guimarães e Maria Lamas são algumas das mulheres que marcaram os feminismos na primeira metade do século, sendo que a acção das duas últimas se prolongou pelas décadas seguintes.

2 Autorização do marido para exercer uma profissão, restrição na administração dos bens do casal ao marido (art.1189º), proibição de publicar sem autorização marital (art.1187º), obrigação da mulher prestar obediência ao marido (art. 1185º), entre muitas outras questões.

 

 

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