Domingo, 07 Fevereiro 2010 |
A expansão do discurso da pós-ideologia ancora-se também muito no social liberalismo e na sua assumpção de que hoje não existe esquerda nem direita e que a via única é a do capitalismo mais ou menos regulado, do capitalismo mais ou menos humanizado. É óbvio que desde a queda do comunismo como bloco ideológico, o pensamento único tomou lugar. As várias gerações de jovens que nasceram pouco antes ou depois da queda do muro de Berlim, em regra geral, cresceram com apenas um referencial ideológico: o do capitalismo entretanto evoluído para neoliberalismo. Essas gerações de jovens assimilam mais facilmente a falsa assumpção do pensamento único.
Sobre isto, vale a pena citar Paul Krugman quando escreve que “pela primeira vez desde 1917, vivemos num mundo em que os direitos de propriedade e os mercados livres são encarados como princípios fundamentais e não como expedientes mesquinhos; onde os aspectos desagradáveis do sistema do mercado -a desigualdade, o desemprego, a injustiça – são aceites como contingências da vida”.*
É preciso, portanto, que a Esquerda socialista empreenda como um dos seus principais objectivos a discussão e contraposição ideológica junto das massas mais jovens. Que encare uma política para a juventude como uma política que aborde as questões do imperalismo, da globalização capitalista, da exploração pela apropriação dos instrumentos de produção.
A política e a discussão na juventude não pode ficar refém das causas; isso é empurrar toda a juventude para o social-liberalismo, para a aceitação do capitalismo como referencial económico, desde que ele se mostre humanista e disponível a ser tão liberal nas chamadas liberdades individuais como é efectivamente na economia.
Pode argumentar-se, a certa altura que o que conta são as condições objectivas no real e não tanto a ideologia; que se as condições materiais estiverem presentes, tanto jovens como outros sentirão a necessidade de defender e combater por uma ruptura de regime e de sistema. Não me parece verdadeiro.
Na Psicologia tem feito linha incontestada a ideia de que a realidade não existe, o que existe são as interpretações sobre um objecto ou situação. Isso justifica a forma como perante um acontecimento objectivo as interpretações subjectivas se multiplicam. O quadro ideológico é um potente referencial interpretativo da realidade. Sem ele, acontece aquilo para que Krugman chama a atenção: poderemos vir todos a considerar que as injustiças, que o desemprego e que a desigualdade é uma contingência inevitável e incontestável.
Moisés Ferreira
* Paul Krugman, em O regresso da Economia da Depressão e a Crise Actual
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