A espada sobre os custos do trabalho Versão para impressão
Segunda, 22 Novembro 2010

É mais que evidente que a crise não é para todos; que os sacrifícios não são repartidos e que, acima de tudo, os que provocaram a crise são aqueles que a usam como oportunidade para mais negócio, mais acumulação, mais concentração, mais exploração e criação de mais mercados.

É óbvio que, fazendo juz à tradição de uma burguesia dependente do Estado para a sua auto-realização e perpetuação, estas novas oportunidades de negócio abertas com a crise só são possíveis porque os governos têm afirmado claramente o seu cunho de política de classe. Tomaram o lado do burguês contra a maioria da população. Tomaram o lado do ataque aos serviços públicos e do ataque ao salário e aos direitos do trabalho.

Este governo PS representa esse burguês que quer para si a exploração privada de uma série de sectores (monopólios naturais e estratégicos para se pensar o país, a saúde e a educação), que quer assim aumentar os seus mercados de actuação mas quer também aumentar a exploração tendo no centro da sua estratégia o ataque aos salários e aos custos do trabalho.

O ministro das Finanças não podia ser mais claro: os cortes salariais na função pública são permanentes e estabelecem um novo patamar salarial. Representam um recuo de anos e estabelecem um novo abaixamento no preço da força de trabalho e um novo patamar máximo na exploração. Não será difícil perceber que o patronato usará as palavras deste governo para também no sector privado recuar nos salários. Não é também difícil perceber que este é mais um passo do projecto liberal-burguês para a Europa. O objectivo da burguesia é a destruição do Estado Social e o abaixamento dos custos com o trabalho, aumentando-se, claro está, a exploração sobre o trabalhador.

Quando se mexe no salário aquilo que se está a fazer é a mexer na relação de exploração entre aquele que compra e aquele que vende a força de trabalho. Quando se aumenta o salário, a tradução prática é que a taxa de exploração se reduz. Aquilo que o governo fez foi admitir e incentivar o aumento da taxa de exploração por via da redução salarial.

Aquilo que este governo nos disse foi que a sua forma de combater a crise é aumentar a exploração sobre o assalariado para que aqueles que acumulam capital se safem para poder acumular ainda mais capital. O que o Orçamento do PS e do PSD nos mostra é o comprometimento total deste Centrão Político com a burguesia. É uma opção deliberada por um dos lados da balança. Preferiram satisfazer aqueles que são os mais fortes na sociedade: os detentores de capital.

Do outro lado – do lado que o governo quer sacrificar – está a Greve Geral. É um direito, é uma necessidade, é uma contestação, é uma tomada de posição, é a escolha de um lado. É o lado da maioria, é o lado dos que mais contam, dos que realmente interessam. É o lado daqueles que produzem, dos que trabalham e dos que fazem verdadeiramente o país.

A Greve é a voz daqueles que têm na sua força de trabalho o seu ganha-pão; é a voz daqueles que, perante um governo vendido ao projecto liberal-burguês, escolhem lutar contra a exploração. A Greve é a voz daqueles que não têm emprego; daqueles que terão o seu poder de compra reduzido pelos cortes nos subsídios; daqueles a quem se nega a oportunidade de estudar por não ter dinheiro.

Mas a Greve não é só uma voz. É acção. Não é apenas contestação. É ataque. Não defendemos apenas que não se regrida nos direitos conquistados. Defendemos o avanço desses direitos! Porque o capital que tem conseguido multiplicar os seus lucros tem que ser chamado para a redistribuição. Nós diremos: para combater a exploração é preciso o aumento salarial.

Dir-nos-ão que não é possível, que o aumento salarial levará ao aumento dos preços dos produtos; que o aumento salarial representará mais custos e dificuldades para as empresas; apelarão ao patriótico dever de ajudar a burguesia portuguesa contra a burguesia estrangeira. Mas a pátria da burguesia é só uma: o capital!

Tudo isso é chantagem e ganância. Com o aumento do salário a única coisa que acontece é que o burguês vê reduzida a sua taxa de exploração sobre o trabalhador; a única coisa que acontecerá é que o trabalhador verá reduzido o sobretrabalho a que está obrigado; o que acontece é que o patrão é obrigado a uma maior redistribuição do dinheiro que consegue com o trabalho do operário; e é exactamente isso que nós queremos!

De um lado temos PS e PSD a “fazer pela vida” da burguesia; do outro lado, temos a Greve Geral que representa a vida da esmagadora maioria da população.

Moisés Ferreira

 

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