“Anti-demagogia” demagógica Versão para impressão
Terça, 19 Outubro 2010

Portagens nas SCUTS significa menos mobilidade e menos justiça, não significa mais e melhores transportes públicos.

Artigo de Bruno Góis

Os projectos-lei do PCP e de BE para revogar a introdução de portagens nas SCUT foi chumbado no Parlamento, no passado 14 de Outubro.

As razões para a revogação da introdução de portagens não são complexas: as auto-estradas SCUTS, conforme dizia o próprio programa do governo, deverão continuar sem portagens enquanto se mantiverem as razões da excepção: indicadores de desenvolvimento abaixo da média e ausência alternativas.

A direita parlamentar lava as mãos e embrulha o discurso: desde o “sempre fomos a favor do princípio do utilizador-pagador” , passando pelo “o PS é que inventou isto” e pelo “desde que haja uma excepção para moradores da nossa rua…”. Este último é o discurso que usam, pelo menos, numas quantas assembleias municipais do Interior. Chumbam as propostas contra as portagens nas SCUTS tentando que pareça o contrário. E desde os presidentes de junta rosa laranja à aos deputados e deputadas laranja-rosa da Assembleia da República, as surpresas são poucas e, lágrimas de crocodilo à parte, o resultado é: portagens em todo o lado.

Mais grave é o discurso da ex-secretária de Estado dos Transportes. Ana Paula Vitorino afirmou sobre os referidos projectos-lei : “Quando estão em causa cortes de salários não se pode falar em auto-estradas sem custos". Com argumentos destes temos a certeza que há demagogia, mas deve ser da parte de quem acusa.

Primeiro, a base é errada: estão em causa cortes de salário com toda essa gravidade porque o Governo aposta numa política de austeridade para muitos para o bem de poucos, porque aposta numa política económica recessiva que não resolve mas agrava a crise. Se estão em causa esses gravíssimos cortes de salários, sabemos a quem os devemos. Este argumento assemelha-se ao discurso dos mafiosos que oferecem protecção contra si próprios.

Em segundo lugar, a resposta é qualquer coisa entre a táctica dos maus mentirosos, “mudar de assunto”, e o discurso da “emergência” tão querido pelos conservadores: variante particular do “mudar de assunto”. Uma pessoa fala nos direitos à educação, nos direitos laborais… e respondem-nos que “morem crianças em África”. Encontram sempre algo pior e nada fazem de fundamental para alterar uma ou outra coisa.

Não podemos cair ingenuamente nestes discursos. Embrulhado neles até o argumento do “ver o lado bom das coisas” surge. Dizem que incentiva os transportes públicos! Se vivessem no Interior, com tudo o que isso implica, e dependessem realmente dos transportes públicos que aí vão persistindo, então entenderiam a pequenez desse pensamento. Ser de esquerda e ecologista não é obrigar as pessoas, por via da sua condição social subordinada, a viver pior. Enquanto outros, com mais dinheiro, podem “comprar” e pagar a portagem da sua quota de poluição. Portagens nas SCUTS significa menos mobilidade e menos justiça, não significa mais e melhores transportes públicos.

 

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