Guerra Cambial, uma nova face da crise? Versão para impressão
Terça, 19 Outubro 2010

A reunião entre os vários responsáveis dos bancos centrais, que está a ocorrer por estes dias em Xangai, tem sobre a mesa o cenário de uma guerra cambial internacional.

Artigo de Pedro Filipe Soares

É a instabilidade do sistema monetário mundial que está a causar preocupação. Esta reunião, que terá novos capítulos na reunião do G20 da próxima semana, ainda fará correr muita tinta.

Uma guerra cambial é a tentativa generalizada de cada país, ou região económica, tentar desvalorizar a sua moeda com o objectivo de dinamizar a sua economia através do aumento das exportações, em detrimento das economias de outros países. Tal atitude é facilitada porque há várias décadas que não existe uma moeda fiduciária para transacções internacionais. O dólar há mais de três décadas que deixou de ter um valor sustentado na realidade. Isto aconteceu quando Richard Nixon, em 1971, levou os Estados Unidos a abandonarem o sistema de Bretton Woods, que obrigava a uma relação directa e estável entre o dólar e o ouro. Assim, apesar de o dólar ter continuado a ser a mais importante moeda de reserva mundial, o seu valor passou a ser fixado conforme interessava mais aos Estados Unidos.

A guerra cambial coloca-se a nível mundial como um suposto confronto entre Estados Unidos e China, onde existem enormes pressões para que a China valorize a sua moeda. É curioso notar que, até recentemente, os Estados Unidos utilizaram as taxas de câmbio favoráveis para que a China se tornasse um dos sues principais compradores de dívida pública. Agora que as alternativas de desenvolvimento económico não têm alcançado sucesso, o que era uma virtude está a ser apresentada como um problema.

Contudo, se a desvalorização de uma moeda poderá ter um impacto directo na economia do seu país, a desvalorização mundial de moedas, deixará quase tudo na mesma. A grande diferença é que essa desvalorização não poderá acontecer sem um inevitável aumento da inflação. Por isso, as acções que os Estados Unidos estão a levar a cabo para desvalorizar a sua moeda e que terão reflexos a nível mundial, trarão mais crise a quem mais sofre com a crise. Mais uma vez o capital procura saídas para a crise à custa da degradação das condições de vida dos povos. Engana-se quem julga que esta matéria passa ao lado da Europa e do euro: a Alemanha já disse ao que vinha e não tardará a colocar esta matéria em cima da mesa. E se a tendência se generalizar, mais povos pagarão esta nova factura.

Pedro Filipe Soares

 

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