Fiquem com a caridade, queremos democracia Versão para impressão
Segunda, 09 Agosto 2010

Bill Gates e Warren Buffet, duas das pessoas mais ricas do mundo, fundaram a organização Giving Pledge, que pretende angariar cerca de 600 biliões de dólares para filantropia. Até agora, imensos milionários e bilionários juntaram-se à ideia, comprometendo-se a doar parte significativa da sua fortuna para fins sociais.

Artigo de Fabian Figueiredo

Em tempos de crise, a caridade filantrópica aparece, na opinião pública e publicada, como um raio de sol imenso numa tempestade que se prevê longa e pesada, uma autêntica esperança de ruptura com o situacionismo.

A ideia não tem deixado de ganhar adeptos e de receber elogios por todo o globo, no entanto um olhar crítico sobre a raiz da existência da filantropia e da caridade, levam-nos directamente às disparidades de acumulação de capital e às assimetrias sociais.

 Para poder existir filantropia, isto é, doação de uma quantia avolumada de capital para fins sociais, significa que à priori existiu uma acumulação de capital extrema,  ou seja uma exploração intensa do factor trabalho.

E é esta a norma que encontramos quando estudamos o percurso de toda a selecção internacional de milionários, todos eles lucram com a pobreza mundial, com o saque dos recursos naturais nos países mais desfavorecidos, com a especulação em toda a extensão do termo, com a desregulação dos mercados, com a criação de monopólios e ou oligopólios, com o subemprego, a precariedade, a destruição dos serviços públicos …

Porque quando a política pública é orientada para orçamentos redistributivos, ordenados justos, equidade fiscal, serviços públicos fortes e acima de tudo exista democracia na economia, liquida-se a pobreza, combate-se a exploração, a acumulação de capital é distribuída a favor dos povos, logo, não se necessita, que exista aparente boa vontade milionária para distribuir as suas migalhas por onde já semearam o desespero, na verdade a existência de milionários está directamente interligada à condenação de milhares à pobreza, sempre foi assim na história, já quando o termo filantropia surgiu na Civilização Romana, e continuará a ser assim…

“Eu pergunto aos economistas,politicos,aos moralistas,se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria,ao trabalho desproporcionado,à desmoralização,à infâmia,à ignorância crapulosa,à desgraça invencível,à penúria absoluta,para produzir um rico?”

Almeida Garrett

 

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