Não há moralidade! Lutamos todos |
Segunda, 09 Agosto 2010 | |||
A revolta das massas populares na Grécia, traduzida em ocupação de universidades, paralizações radicais, confrontos com as forças repressivas, quase uma dezena de greves gerais, dava uma indicação do que parecia vir a ser a resposta europeia, não só à pior crise financeira global mas também àquela em que ressaltaram e foram postos em causa radicalmente três mitos da sociedade burguesa actual: a auto-sustentação do mercado; o mercado livre como garantia da democracia; a ética do capitalismo. Artigo de Mário Tomé Daí termos concluído que o neoliberalismo sofreu uma derrota ideológica. Mas há que perceber que uma derrota ideológica não foi a derrota da ideologia do capitalismo seja ele industrial, agrícola, financeiro A ideologia burguesa dominante o mais que permite ao proletariado é sonhar com um mundo melhor sem injustiça, sem exploração nem repressão. Um mundo de liberdade e igualdade. Afinal o mesmo mundo com que sonha toda a humanidade. O mesmo mundo com que sonha o Jardim Gonçalves, o Zeynal Bava, o António Mexia, o José Sócrates e o Cavaco, o Obama e a Merkel. Só que, dizem-nos todos, isso é assim como que uma utopia, é uma meta praticamente inatingível. E se faltar confiança nos fracos poderes terrenos, então pedir a Deus, não o impossível, há o pecado original, mas o possível que nos redima desse mesmo pecado pelo trabalho árduo e generoso, aceitando o sacrifícios sem os quais isto não anda.A cidadania não é só direitos, implica os deveres correspondentes. O PEC aí está, pedindo sacrifícios a todos e a pensar no melhor para todos o que, nas actuais circunstância, tem que ser a cada um segundo as suas capacidades e de cada um segundo o seu trabalho!!!. O Mexia, por exemplo, que tem grandes capacidades, tem praticamente um monopólio a seu cargo que não se chama assim porque não é do Estado, ganha que nem uma besta. Como não faz praticamente nada, praticamente nada tem que dar. E assim sucessivamente com os que nunca apertam o cinto. A crise que teve início há três anos obteve como resposta dos seus responsáveis a mentira capciosa, a cobardia generalizada, o recurso descarado aos Estados, também eles, aliás, responsáveis e cúmplices, para cobrirem , com o dinheiro público, os buracos das empresas financeiras criados pela «economia» de casino e pela apropriação escandalosa de recursos reais ganhos no mundo fictício do crédito fraudulento e das transacções financeiras totalmente divorciadas da vida económica concreta. Karl Marx foi chamado em último recurso mas, como sempre, além de servir para alguns brilharem com a ousadia, esses mesmos não podiam dar-lhe ouvidos. Estava em causa o sistema. E por mais brilhantes que fossem os analistas e cientistas económicos um círculo de fogo impedia-os de pensar para além das baboseiras contraditórias com que se entretiveram e entretêm. Hoje, mais que nunca, a câmara de descompressão do capitalismo em crise funciona de maneira quase infalível: as grandes massas alienadas e controladas suspensas da esperança que as coisas não sejam piores , que compram se têm, não compram se não têm, passam fome e agradecem aos burlões não as burlarem demais, aos governos que lhes negam os direitos que não exagerem e que as defendam, mais que tudo, do caos e da desordem, da anarquia. E se a procura não dá resposta – a sobreprodução é a causa mais frequente se não, em última instância, a única das crises capitalistas - o crédito atira com os problemas para o plano da ficção e do virtual enquanto der, os off shores permitem as negociatas mafiosas e criminosas e a fuga aos impostos com a cumplicidade dos que deviam cobrá-los. A resposta dos governos em quase uníssono marcou este triénio e lançou as balizas do futuro próximo: a prioridade é assegurar o funcionamento da banca, ou seja os lucros dos bancos que nunca baixaram, é dar mostras de que se consegue, à custa dos serviços públicos e do investimento produtivo gerador de emprego, asssegurar as aventuras da finança e o seguro milionário dos grandes accionistas e dos gestores. Isso chama-se reduzir o défice. Quase toda a gente, embora protestando com maior ou menor vigor, aceita que devemos ter as contas em dia. E como fazê-lo se se gasta o dinheiro pagando subsídios aos preguiçosos, aos imigrantes que vêm roubar o pouco emprego existente, se os estudantes (como se em cada lar não houvesse pelo menos um) não querem estudar e ao mesmo tempo não querem pagar propinas. Os que acumulam fortunas imensas fizeram por isso. Quem, de nós, se pudesse não enriqueceria? O paradoxo maior da alienação revela-se quando se ouve um amigo ou alguém ao balcão do café: «este povo não merece nada; este povo apanha e cala-se; votam neles e depois queixam-se; com este povo não se pode fazer nada». O desligamento de «este povo» que são os outros, significa a desorientação perante uma situação que não se aceita mas para a qual não se encontra saída dentro dos parâmetros traçados pela ideologia dominante, pela mitologia que nos envolve como referência fundamental de vida e comportamento. E, na raiz, a propriedade intocável, sem se questionar que propriedade e qual o proprietário. O sentido de justiça distributiva enganado pela posse dos meios de produção onde começa ou acaba a possibilidade de assegurar a distribuição equânime. A alienação não é algo que se possa ultrapassar sem a revolução. Marx, com a perspicácia que lhe é reconhecida por muita gente boa como George Soros, considera que “a revolução não é apenas necessária por ser o único meio de derrotar a classe dominante, ela é-o também porque somente a revolução permitirá à classe que derruba a outra varrer toda a podridão do velho sistema que se lhe cola às costas (colle aprés), e tornar-se apta para fundar a sociedade em novas bases” (A Ideologia Alemã). Os burgueses, eles próprios alienados da sua condição humana integral, são incapazes de fazer a crítica do capital. «A sua ideologia não é um caso de ilusão nem de manipulação, mas uma problemática de expressão inadequada e imaginária do real, que se compromete ela mesma numa concepção da verdade.»* Na sociedade burguesa é esta a condição do proletariado como classe. Segundo KM em O Capital, “as categorias da economia burguesa são formas de pensamento que têm uma validação social, e portanto uma objectividade para as relações de produção deste modo de produção social historicamente determinado, a produção mercantil”. Esta a ideologia dominante, o proletariado a blindar, ele próprio, o sistema que o arrasa. O proletariado, as massas trabalhadoras estão limitadas na capacidade de resposta necessária a um sistema que as submete, explora e que, quando está aflito, aumenta ainda mais o cerceamento das liberdades e o grau de exploração reduzindo ao mínimo as conquistas só possíveis por um século e meio de lutas e revoluções. A dogmática revolucionária deixa-nos perplexos perante a aceitação da resposta do inimigo, depois de lutas tão radicais que integraram as massas trabalhadoras das chamadas camadas médias, na Grécia. Tanbém pela limitada e fraca resposta ao ataque desembestado do capital financeiro e do Governo PS enlaçado com Cavaco e Passos Coelho, às medidas do PEC que anunciam o agravamento de todos os sinais da crise e das suas consequências nas condições de vida dos trabalhadores. A compreensão do papel da ideologia dominante terá forçosamente que levar-nos a perceber que, enquanto, paralelamente ao desmascaramento ideológico, não só do governo, mas da burguesia como um todo, não se gerar um movimento suficientemente amplo e forte para poder ser audaz para obter vitórias significativas, não contra a ideologia mas no combate político ao capitalismo e ao imperialismo, às suas medidas concretas que afectam a vida das massas populares, o domínio ideológico da burguesia continuará a enfraquecer a capacidade de luta. Mas o mais importante é compreender que.tudo deverá ser feito para integrar as lutas a nível europeu e que a neutralização do movimento grevista na Grécia também se deveu em grande parte à falta de eco e de resposta nos restantes países na ilusão de que em cada capela pode haver um santo protector. A própria burguesia que lançou a UE para facilitar os grandes negócios com base na escala de instituições supranacionais e com um programa de ataque neoliberal às conquistas seculares dos trabalhadores, já percebeu que se conseguir limitar as lutas do proletariado às fronteiras nacionais está a ganhar. Para isso já apareceram as luminárias a prognosticar respostas à crise através da exaltação de respostas nacionais, com o reforço das soberanias nacionais. Hão-de explicar-nos o que é isso no mundo de hoje.
Daí a importância da
jornada de luta europeia marcada para dia 29 de Setembro. Ela será
um sinal que poderá marcar indelevelmente o futuro das lutas dos trabalhadores
europeus
**F. Fischbach, «A ideologia
em Marx...», Actuel Marx nº 43
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A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
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