Capitalismo Agressivo Versão para impressão
Terça, 30 Agosto 2011

capitalismo

A incapacidade das elites burguesas em gerar soluções em plena crise capitalista está à vista de todos, a alternância nos diversos países do eixo ocidental tem feito o seu caminho  com a mesma fluidez que se degrada o regime. Europa e Estados Unidos enfrentam agora os dilemas de como superar o problema da crise soberana. Na europa o Banco Central Europeu quebra os seus dogmas e admite comprar divida soberana para responder à crise Espanhola e Italiana (o Bloco de Esquerda propôs semelhante processo para Portugal através da CGD) e nos EUA as agências de rating, que até então serviam de protetorado do dólar, vêem se obrigadas a descer (ainda que continue com avaliação bastante positiva) o rating da dívida pública norte americana. Quando o capital começa a pisar os seus dogmas é porque o cenário é mesmo grave, as nacionalizações de bancos privados falidos foram a ante-câmara desta crise sem paralelo.
Neste processo de contorcionismo ideológico a agressividade do capital tem crescido e evidenciado a sua verdadeira natureza até para aqueles que não ouviam o ranger de dentes que esperava pela machadada final nos direitos do trabalho (aquilo a que o capital chama de privilégios, mas que na realidade são as migalhas da exploração seccionadas de forma a parecer mais do que são).  O capitalismo liberal dá lugar ao capitalismo musculado, não que haja uma verdadeira reformulação, simplesmente em tempos de crise a face violenta deixa de se poder esconder atrás de uma falsa liberdade de escolha.
Em Portugal, os defensores irracionais dos mercados irracionais viram-se contra as agências de rating expondo assim a sua incoerência. A esquerda sabia que não há amigos quando a crise se instala e que aqueles que queriam ser os "bons alunos"  aderiram ao processo de exclusão da Europa (seja essa exclusão formal ou social). O processo de exclusão tornou-se evidente agora que o BCE manifesta intenção de comprar títulos de dívida pública. Este revisionismo surge como resposta à crise italiana e espanhola, o que por sua vez pode ser justificado pela dimensão das duas economias expõe também que há uns "pigs" mais "pigs" que outros. Portugal, Irlanda e Grécia podem ser alvos de um processo de extorsão pelo trio FEEF/FMI/Comissão Europeia, aparentemente, Itália e Espanha não. Fica claramente demonstrado que a Europa, e o BCE em particular, sabe que as intervenções externas não são solução mas parte do problema.

Pedro Passos Coelho tirou um tempo das suas férias para dizer que sacríficios há muitos na calha, já sinais de recuperação económica e emprego ficam para as calendas. Uma maioria no parlamento de partidos que subscreveram o programa da troika e no entanto a capacidade de resposta está espelhada no facebook de Primeiro Ministro: não existe.

Onde andam os arautos da estabilidade? Depois de uma maioria absoluta PS de 4 anos e de 2 anos de maioria relativa onde PSD e CDS aprovaram PECs e Orçamentos (só interrompida pela sede de ir "ao pote"), agora com uma maioria absolutíssima de partidos pró-troika e cumprido o sonho da direita...como explicarão o fracasso político e económico de uma maioria tão esmagadora?
E onde estão os arautos da instabilidade dos mercados? Aqueles que, entre outras coisas, diziam que as medidas do BE provocariam uma reação negativa dos mercados, sabendo-se agora que as bolsas espanhola e italiana se valorizaram no dia em que o BCE anunciou a compra de títulos de dívida pública. Se nem os mercados seguem as regras de chantagem política, quem resta para dar o minímo de coerência a esta burguesia desamparada?

Mas na ausência de soluções, a violência social assume contornos que erguem túmulos em Santa Comba Dão. Desempregados obrigados a trabalhar à borla, cortes diretos e indiretos nos salários como é exemplo a subida dos preços dos transportes públicos. Isto enquanto a dívida pública continua a assumir os encargos das negociatas privadas.

Percebemos hoje que o caso do BPN é fraude múltipla.  O banco que financiou a compra das ações da Galp a Américo Amorim não recebeu o dinheiro emprestado. Estando o buraco a ser pago pelos trabalhadores portugueses, percebemos como os bons negócios são pagos em duplicado e que, por oposição à ideia de fraude isolada, o BPN é a face da fraude do sistema.

Resumindo, os portugueses perderam quando o estado vendeu as ações da Galp a Américo Amorim porque, perdendo o Estado as receitas enquanto acionista de uma empresa monopolista em troca de receita de curto prazo a súbida de impostos para compensar essa perda era previsível. Como o bloco central não taxa o capital a fatura ficou para ser paga pelo trabalho. Mas a estória não acaba por aqui. Os 1600 milhões de euros que serviram de empréstimo para que Amorim adquirisse a posição acionista que lhe permite obter dividendos do lucro da Galp não foram pagos. E para quem é que ficará essa fatura? Mesmo que seja o BIC a assumir essa dívida da Amorim Energia, na prática como o acionista maioritário do BIC é a Santoro Holding Financial que, por sua vez, é acionista da Amorim Energia trata-se de o devedor liquidar a dívida pagando a si mesmo. Dado o calibre das personagens, não me admirava que ao pagar a dívida o banco BIC ainda viesse dizer que estava a capitalizar o banco.

Bem se percebe a insustentabilidade do Estado Social, quando a sua função passa a ser a de sustentar as maiores fortunas do país este torna-se indiscutivelmente insustentável. Amorim, o rei da lumpen burguesia. O BPN vai ser entregue ao banco BIC, de Amorim e Isabel dos Santos, por 40 milhões tendo a coligação PSD/CDS comprometido o Estado a capitalizar o mesmo em 550 milhões de euros, a suportar os custos indemnizatórios do despedimento de metade dos trabalhadores do BPN e a suportar o buraco de 2400 milhões de euros.   Belo negócio este cozinhado em Luanda por Paulo Portas, mais um troféu a somar aos 1000 milhões de euros dos submarinos.

João Dias

 

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