Elas continuam a morrer |
Quarta, 07 Setembro 2011 | |||
Há poucos meses atrás o autocarro do Benfica foi apedrejado na auto-estrada. Notícias de abertura nos telejornais, comentários e mais comentários, entrevistas, sucederam-se umas atrás das outras. E até teve honras de declaração do Ministro da Administração Interna (na altura Rui Pereira). O ano passado, também pela altura do verão, foram assassinadas quatro mulheres, em quatro dias seguidos. Denominador comum? O autor do crime foi o marido. Parece que a história se repete e só esta semana (até hoje) já foram assassinadas quatro mulheres. Denominador comum? O autor do crime foi o marido. O que é que isto tem a ver com o autocarro do Benfica? O episódio com o autocarro do Benfica serve para ilustrar como as autoridades policiais, o governo e também os órgãos de comunicação social tratam os diversos tipos de violência e sobretudo como tratam o crime que provavelmente mais mata no nosso país. A violência doméstica é o crime contra as pessoas, e sublinho contra as pessoas, que mais e maiores efeitos tem: produz mais vítimas (muitas vezes mortais), filhos e outros familiares, tem efeitos devastadores na saúde das vítimas directas e indirectas e, retira a Liberdade e a Cidadania a milhares de mulheres. É um crime público na verdadeira dimensão da palavra. Quando a Liberdade e a Cidadania estão em causa todos e todas temos a ver com o assunto. Ontem a notícia da morte de uma mulher em Setúbal teve mais destaque porque o autor do crime é agente da polícia. Mas, ao contrário da notícia do autocarro do Benfica, não houve entrevistas a contextualizar a situação, não houve apelos, e, nenhum responsável policial ou governamental deu a cara pelo combate a este tipo de crime. E esta diferença diz tudo sobre a importância que lhe é atribuída. As autoridades estão à espera que seja uma por dia para despertarem para este CRIME e para encararem de vez e com firmeza o fenómeno da violência contra as mulheres neste país de brandos costumes? As poucas linhas que o Programa do actual Governo dedica a esta importante questão, suscitam preocupação séria: “Será dado um especial enfoque à prevenção da violência exercida em contexto doméstico sobre crianças, idosos, pessoas dependentes e com deficiência”… E o enfoque na violência contra as mulheres no seio da família, ela própria central em relação às outras vítimas? Parece que as mulheres não têm lugar no curto parágrafo que o programa do governo dedica à violência doméstica. Está aqui em potência um retrocesso cujas consequências são muito perigosas. É pois tempo de não deixar cair no esquecimento nenhuma das vítimas.
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A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
A Comuna 33 (I semestre 2015) "Feminismo em Ação" | ISSUU | PDF | Revistas anteriores
Karl Marx