Populismo, o Xanax político… |
Terça, 11 Outubro 2011 | |||
Não passou um dia das eleições na Madeira e o Concelho de Ministros reuniu para analisar as medidas a implementar, para “tapar” as contas desastrosas de Jardim. Exigia-se do Governo PSD/CDS honestidade política de apresentar as medidas antes das eleições. O sufrágio com mais ou menos batota está feito e os madeirenses votaram na ilusão e no populismo. Um passo em falso! Jardim, sectarista e anti continental, roçou o ridículo ao prometer que vai enfrentar o governo da República para evitar medidas de austeridade. Mesmo com a sua credibilidade manchada por uma governação inconsequente e a sua idoneidade questionada pelas suas sucessivas tempestades de insultos, o líder do PSD Madeira conseguiu a esperada, mas paradoxal maioria absoluta. O embuste não fica por aqui, um dos eleitos e que já faz parte dos algozes da Madeira, José Manuel Rodrigues do CDS, traiu o eleitorado ao optar por continuar em Lisboa. Como explicar então estas votações? Uma boa explicação é o fenómeno José Manuel Coelho, um antigo militante do PCP que foi outrora candidato pelo PND e agora faz um sucesso no PTP, ao afirmar ipsis verbis - não pagamos nem mais um tostão. Este é o “programa” do J. M. Coelho, não se conhecendo sequer as posições e projetos do PTP. Coloca-se então a questão: Para que serve ter um partido organizado, com fundamentação política, um programa alternativo e uma linha de coerência? Infelizmente serve pouco num país em que o Secret Story prende as atenções de muita gente. Mas o assunto é muito mais sério e tem uma forte relação com a crise. É um dado adquirido que em tempo de crise, o populismo tira dividendos da situação. Não foi por acaso que bem cedo, vimos Paulo Portas rumar à Madeira e demarcar-se de Jardim. Este foi o seu grande trunfo e poder de antecipação de quem conhece bem este jogo. Jardim e Coelho parecem uma jangada de salvação engalanada no alto mar ao negarem o pagamento do buraco financeiro num mero exercício populista. O populismo tem sido a estratégia da direita que troca políticas sérias no campo social, por caridade e mecenato. As palavras de Jardim e Coelho não apresentam qualquer sentido mas é o que as pessoas querem ouvir. Eles não têm uma política alternativa mas dizem que, nos madeirenses ninguém toca. É mais fácil empurrar as culpas risíveis para o comércio chinês ou para o RSI dos ciganos do que resolver os grandes problemas, as grandes fraudes e alterar o status quo deste país que continua sem um projeto de crescimento e sustentabilidade. Temos vários exemplos deste populismo, Cavaco Silva só comenta o que lhe interessa e diz palavras agradáveis como competitividade e inovação; Paulo Portas que no estrangeiro diz não comentar notícias portuguesas, fala também o que todos querem ouvir, mérito e competência… Outros políticos e mandarins falam muito de empreendedorismo, enfim… Será que as pessoas têm consciência de que estes chavões, nada têm a ver com as políticas destes senhores? Repito, é o que as pessoas querem ouvir. São resistentes à mudança e a aposta em políticas que vão contra os interesses dos poderosos, é para muitos, algo perigoso. Tudo em nome desses que detêm os empregos, controlam o poder político e congregam as famílias milionárias que defendem os seus interesses dizendo: vocês têm a democracia que merecem e a que nós queremos que tenham. Como é possível enfrentar o sistema neste país em que impera a subserviência? A precariedade e a pobreza caucionam a política do medo e este efeito, é tanto mais devastador quanto mais insular ou do interior do país se situarem aqueles que lutam contra os caciques e os capitalistas locais, perante a passividade daqueles que votam estas regiões ao abandono. Os que sustentam o poder a qualquer custo e não olhando a meios escudam-se na “democracia”. É por isso que vão aparecendo movimentos como os “Precários Inflexíveis” em Portugal e os “Occupy Wall Street” a nível internacional entre outros, porque os movimentos sociais são cada vez mais uma resposta às limitações e contradições naturais da democracia... E por falta de atitude e responsabilidade cívica para não dizer política, fica a questão: Ou os eleitores decidem “partir” a cabeça a pensar em soluções justas e exequíveis ou descansadamente atiram-se ao populismo, o Xanax político… Paulo Cardoso
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A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
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