Um ano de 2012 “tão bom quanto possível” é a mensagem dirigida por Cavaco Silva a todos os portugueses. Durante o conselho de ministros extraordinário Miguel Relvas deixa o aviso de que 2012 será “extraordinariamente difícil”; adivinham-se mais medidas a somar às que são já insustentáveis. Passos Coelho diz que só “sairemos da crise empobrecendo” e apresenta a emigração como solução. Os governantes de Portugal, os mesmos que desistiram do país, que nos negam um futuro digno, apelam à resignação. Dizem-nos que temos de aceitar o que chamam de inevitável, dizem-nos que temos de respeitar as decisões de políticos cobardes e submissos que não reconhecem soberania ao país. Dizem-nos que temos de viver mal, viver pior e ficar calados, temos de aceitar apenas o que a austeridade torna possível. Só quem se recusa a analisar a imposição de medidas que aceita como dogmáticas pode desacreditar a revolta social. O curso da austeridade, da recessão, do empobrecimento não é inevitável e está muito longe de ser a opção correta. Mas este é o curso escolhido por PS, PSD e CDS. O PS abriu caminho para o retrocesso económico e social. Desde a aplicação dos sucessivos PEC’s até à entrega do país à troika, o PS apresentou o preâmbulo desta sentença de ruína. O mesmo PS que recusa votar contra o orçamento mais penoso de que há memória, o mesmo PS que aceita as imposições colonialistas dos limites do défice. É, no entanto, caricato o discurso ludibrioso que pratica este PS. Insurge-se contra as mesmas medidas que aprova e, no seio do partido, elevam-se algumas vozes que apresentam soluções radicais mas, efectivamente, comungam das opções ultra-liberais da direita. Estes são os políticos que desacreditam a política. Estes são os políticos que retiram a confiança do povo, por um lado teatralizando o discurso por outro roubando a esperança. Mas desenganem-se os que pensam que este país está adormecido, que conseguem anestesiar o povo. Se estes são tempos de dificuldades são igualmente tempos de mudança, em que a consciência social renasce e a união trará a resposta. O discurso da resignação está a esvair-se. Os portugueses sabem que as dificuldades que lhes são apresentadas são o resultado de escolhas erradas, carregadas de um fanatismo ideológico sem qualquer estratégia para o futuro. Se vamos viver pior é porque a escolha é agudizar as desigualdades, fomentar a vantagem da elite financeira. A escolha incide sobre o lucro privado em detrimento do investimento público; desvalorizar a força do trabalho em vez de apostar na produção qualificada; escolher o desemprego e a precariedade em vez da estabilidade; negar o acesso gratuito e universal à saúde e educação para perversamente engordar os papões dos grandes grupos económicos; entregar empresas, que são de todos, a capital estrangeiro; aumentar a carga fiscal de uns para que as grandes fortunas continuem intocáveis; reduzir a contribuição social para aumentar as aplicações em planos de poupança privados. Se vamos viver pior é porque a escolha foi nacionalizar bancos falidos e perdoar dívidas aos mais ricos; não condenar os burlões; entregar 12 mil milhões à banca privada em vez da recapitalizar a CGD para assim dinamizar a economia; pagar 35 mil milhões de juros a agiotas em vez de renegociar a dívida. Nós sabemos que, se vamos viver pior, é porque a opção é retirar liberdade e dignidade. Porque estes políticos, os mesmos que têm alternado a governação entre si, escolhem o lado que está a ganhar nesta luta de classes. As mensagens anestesiantes não têm mais lugar, não nos digam que temos de aguentar anos difíceis nem nos iludam com discursos vãos. A consciência política e social está cada vez mais acesa e 2012 será, certamente, um ano bem melhor do que o possível!
Odete Costa
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