...o último a sair que apague a luz do aeroporto! Versão para impressão
Quarta, 21 Dezembro 2011

 

emigrao

Passos Coelho aconselhou os professores desempregados a emigrar para Angola ou para o Brasil. Já tínhamos ouvido o Secretario de Estado da Juventude e Desportos a desafiar os jovens a “saírem da zona de conforto” e emigrarem. A mensagem foi reforçada pelo Ministro da Economia (o Álvaro, lembram-se?) e o vice-primeiro ministro, Miguel Relvas, saíu em defesa do tal Secretário, considerando “extremamente positivo” que os jovens quadros qualificados procurem emigrar. Agora é o próprio primeiro ministro deste país à beira mar saqueado que vem exortar-nos : Emigrai! Emigrar liberta...o país de desempregados. Eis a “solução final” deste governo PSD/CDS para o desemprego.
Ocorreu-me imediatamente o slogan propagandístico da ditadura militar brasileira, “Brasil, ame-o ou deixe-o!”, a que a oposição democrática respondeu “O último a sair apague a luz do aeroporto!”. A única diferença é que os nossos democratas “a la merkosy” preferem dizer: “Portugal, se o ama, deixe-o!”
Mas os portugueses que também já passaram as agruras de uma ditadura assumida e brutal que, a despeito do patriotismo e nacionalismo exacerbado, tolerou a emigração clandestina de milhares de homens, “a salto”, ao mesmo tempo que dificultava, por lei,  a emigração das mulheres para assegurar as remessas dos francos e marcos que constituíram o “milagre financeiro” de Salazar,  não esquecem a humilhação e indignidade dos “bidonvilles” e não querem que os seus filhos passem por situações semelhantes.
Já o historiador Oliveira Martins considerava, em 1885, que a indústria portuguesa de  “gado humano” que envia do Brasil a moeda que evita que por cá muitos vão à falência “é o termómetro do nosso bem estar económico e até da nossa estabilidade constitucional”.   E até Afonso Costa, num estudo de 1911, declarava que “o interesse do Estado corresponde ao do emigrante”. “(...) no seu sofrimento e infelicidade, o emigrante contribui mesmo assim e de um modo tão eficaz para a salvação das nossas finanças”.
Acontece que tanto Passos Coelho como Paulo Portas e os restantes ministros sabem que hoje os jovens que emigram não enviam dinheiro para Portugal, antes tentam viver uma vida mais ou menos normal nos países de acolhimento. A única razão que os move a apelar à emigração dos jovens é tentar reduzir o desemprego que sabem que irá aumentar (uma vez que nada fazem para promover o desenvolvimento e melhorar a economia) e, por arrasto, reduzir uma das bases mais aguerridas da contestação ao governo, os jovens indignados da “geração à rasca”. 
Contradizendo-se, o governo acaba de enviar, a 30 de Novembro, cartas de despedimento a 49 professores de português junto das comunidades emigrantes (20 em França, 20 na Suíça e 9 na Espanha). E em Portugal, ao aumentar o número de alunos por turma, entre outras medidas, também vai lançar mais professores para o desemprego. De resto, os nossos emigrantes naqueles países estão em pé de guerra contra o governo português não só por este reduzir  o ensino da nossa língua, como por estar a fechar consulados (700 emigrantes manifestaram-se em Clermont-Ferrand, a 400 km de Paris, contra o fecho do vice-consulado e mais tarde 100 deles foram manifestar-se junto à embaixada de Portugal em Paris, enquanto 600 outros emigrantes se manifestaram em Andorra contra o encerramento da embaixada de Portugal).
Enfim, talvez o governo tenha razão: quando, segundo António Vilar, especialista em Direito do Trabalho, “Portugal está à beira de uma nova escravidão laboral”, talvez emigrar seja um mal menor.
Cá por mim, que também tenho uma filha com um curso superior que, depois de vários trabalhos precários (incluindo dar aulas), acabou no desemprego e foi ter com amigos em França à procura de trabalho, prefiro lutar para despachar, em grande velocidade,  Passos e Portas para Berlim, com indicação expressa de “devolvidos ao remetente”. Auf Wiedersehen! Bardamerkel!

Carlos Vieira e Castro

 

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