Quando é que isto pára? |
Quarta, 11 Janeiro 2012 | |||
O Boletim Económico de Inverno do Banco de Portugal prevê uma diminuição do rendimento real das famílias, durante este ano, superior a 10%. Disso resultará uma diminuição do consumo privado “(...) particularmente marcada pelas medidas de consolidação orçamental consideradas, entre as quais se destaca a redução dos salários nominais no setor público e o novo aumento da tributação direta, o que implica uma deterioração das perspetivas de crescimento do rendimento disponível, num contexto de manutenção de condições particularmente adversas no mercado de trabalho, em particular do forte aumento do desemprego”. São as esperadas más notícias de um ano que começa sob o signo do aumento das rendas e da subida do IVA para 23% em muitos produtos, entre os quais produtos alimentares. Ao aumento do preço dos bens alimentares e da habitação junta-se ao aumento do preço da electricidade e do gás de outubro de 2011 (subida de 6 para 23% de IVA). Sabemos, pelo Eurostat e por um estudo da CGTP, que a taxa de desemprego jovem em Portugal é de 30,7% e que mais de metade dos jovens sub-25 ganha menos de 500 euros. Acrescendo que todos os meses a precariedade gera novos pedidos de subsídio de desemprego: 42% dos novos pedidos decorrem de um contrato de trabalho que não foi renovado. Infelizmente estes e outros números da miséria e da desgraça já não nos surpreendem. E nem sequer nos surpreendemos quando o Governo ora confirma, ora desmente novas medidas de austeridade por causa do desvio ao défice resultante da operação com os fundo de pensões da banca. A única confiança que podemos ter num governo que, após eleito, nos prometeu pobreza e submissão externa é a de que vai levar isso até ao fim e que a todo o momento nos chegarão mais provas materiais do sucesso desse empreendimento de destruição do país. À margem das promessas eleitorais de que o Governo não seria uma agência de empregos para amigos, ficam as nomeações para a CGD e a EDP como símbolos máximos, com o ideólogo laranja Catroga à cabeça. É que, hoje, para os trabalhadores e as trabalhadoras já nem as longínquas fábulas e cantigas da "flexigurança" têm para vender, apenas austeridade. Já para Catroga, companheiros, amigos e afilhados há sempre uma segurança dourada numa empresa estatal, numa empresa privatizada, numa empresa que prestou altos serviços e faturas ao Estado sob o alto patrocino de um padrinho, ou do próprio coelho, ou gato por lebre, ou qualquer coisa assim. O Estado é o seguro de vida destes senhores. A parasitagem e a destruição da economia e das condições de vida do povo é um realidade e uma tendência de futuro. Olhamos para nós e olhamos em redor e vemos democracias europeias cercadas pelo espectro da especulação com as suas “dívidas soberanas” e pela submissão estrangeira ao “feitor” Paul Thomson e a governos submissos, alguns deles sem eleições (Grécia e Itália). Vistas todas estas tendências, percebemos onde é que isto vai parar, mas há sempre a outra pergunta: quando é que isto pára? A resposta é que já parou a 24 de Novembro com a greve geral e que é preciso parar mais. Este ano que se anuncia gravemente anti-popular deverá ser um ano das ruas, um ano de sair à rua, de demonstrar a força popular. A alternativa nasce do protesto. Os direitos que nos são hoje roubados por decretos, foram conquistados com muita luta popular. É da nossa luta que depende o futuro, a resposta está numa luta de milhões de pessoas. Bruno Góis
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A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
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