Esquerda e maçonaria Versão para impressão
Quarta, 11 Janeiro 2012

freemasonry

A polémica sobre a maçonaria estalou com a descoberta do conluio que corria entre deputados de vários partidos, serviços secretos e empresas.

A polémica vale dois apontamentos. Porque vários maçons saíram a terreiro proclamando a probidade, ética, filantropia, a elevação do ser e da bondade [o que me fez derreter o coração], da integridade e do carácter dos membros da organização secreta; porque outros centraram sua defesa na inconstitucionalidade de uma obrigatoriedade de declaração pelos deputados.

O primeiro apontamento remete precisamente para esse elogio, em casa própria, que vários maçons sentiram necessidade [presumo que voluntária] de expressar publicamente. Com esses elogios vieram os primeiros equívocos fazendo notar a origem “operativa” da organização, o seu contributo no período pós-medieval e ao iluminismo, o seu papel na revolução francesa (…), até aos dias de hoje em que homens bons – embora de pensamentos diferentes mas livres na pertença político/partidária e acção económica – se reúnem para trocar opiniões apartidárias, apolíticas, e se assim se aperfeiçoam mutuamente no caminho de um espírito superior.

Pelo caminho encontram-se por acaso no café e combinam negócios, jantam inocentemente e distribuem lugares de poder, partilham saberes espirituais e colocam polícias secretas ao serviço de empresas privadas, desenvolvem a filantropia e ganham milhões.

O que, em verdade se nega, é que a maçonaria está hoje para o bem comum como a burguesia está para os pedreiros que gastaram vidas na idade média. Ou seja, acompanhando a evolução histórica parte significativa da maçonaria fez o trajecto constitutivo da burguesia e aí reside o seu conflito com a igreja, as suas ligações com a revolução francesa, as perseguições que lhe moveram, o seu papel de hoje no centro do poder económico burguês. Nada pois a estranhar no facto de destacados dirigentes políticos, nomeadamente do PS e PSD, se entrelaçarem na partilha espiritual.

O segundo apontamento deriva do primeiro. A maçonaria, hoje, não é uma qualquer associação cultural, humanista ou religiosa, é uma associação de lóbi e de agentes económicos que partilham segredos de Estado, informações privilegiadas, controlos de empresas, negócios privados… Como agentes económicos nada têm a temer quanto à transparência da sua acção.

Mais ainda: se a maçonaria só pratica o aperfeiçoamento moral e intelectual dos seus membros, como disse o ex. Grão-mestre António Arnaut, porque precisa de ser secreta? Ainda mais importante: se a democracia rima com transparência porque precisa uma organização de ser opaca? Se em democracia os maçons não são perseguidos porque precisam de se esconder?

Em democracia os democratas só podem optar pela transparência, em democracia os deputados e detentores de cargos políticos devem declarar a sua pertença a organizações deste tipo.

A maçonaria invoca nesta declaração uma violação dos direitos humanos já condenada em Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Extraordinário, os homens bons recusam-se a partilhar a sua bondade e recorrem ao Tribunal invocando a violação do direito à prática da bondade de forma secreta. Trazem ainda à sua defesa o nº 1 do artigo 26º da Constituição: “A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra, à reserva da intimidade da vida privada e familiar e à protecção legal contra quaisquer formas de discriminação”. Mas o que está em causa não é a violação da sua reserva de intimidade e vida privada, é tornar público e transparente aquilo a que homens bons nada tem a recear: tornar públicos os negócios e interesses privados de detentores de cargos políticos – e apenas destes.

O Artigo 46.º da Constituição, Liberdade de associação, diz que “os cidadãos têm o direito de, livremente e sem dependência de qualquer autorização, constituir associações, desde que estas não se destinem a promover a violência e os respectivos fins não sejam contrários à lei penal”. Só que também é verdade que o tráfico de influências tem pena punível até 3 anos de prisão.

O que também seria interessante vir à luz do dia é porque é que só se fala na maçonaria e nunca se fala na Opus Dei? Ou melhor, quais os conflitos económicos e de poder que estão a existir entre estas sociedades?

Nota final. Há quem afirme a ausência de incoerência política de participar simultaneamente na maçonaria e em partidos de esquerda. Que liberdade individual não lhes falte, mas entendo incongruente a defesa desta com rituais de obediência, a defesa do humanismo e da igualdade com o menosprezo da mulher, espíritos livres com ritos iniciáticos, democracia e igualdade com cargos vitalícios, oposição ao culto da personalidade com a “Quinta Ordem” a do “Ilustre e Perfeito Mestre”.

Victor Franco

 

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