E vai ao fundo |
Terça, 07 Fevereiro 2012 | |||
O capitalismo constrói o seu Eldorado à custa de uma crise alimentada pela ditadura da usura, sangrando os estados quase exangues. Assistimos a uma reorganização geopolítica, adulterando a democracia onde a esquerda, apesar de “inculpada” vê a direita e responsável pela crise da europa, a crescer e a dominar sustentada pelo populismo. Alvo fácil dos especuladores, Portugal é o terceiro país mais endividado da Europa e no terceiro trimestre de 2011, o rácio da dívida portuguesa subiu para 110% do PIB, sendo o segundo país que mais aumentou e que ostenta a terceira dívida mais elevada da europa. A Grécia recusou ceder a soberania orçamental e disse não a Merkel. Criou assim, a antecâmara de uma morte anunciada. É a imagem retardada de Portugal onde a “regra de ouro / défice 0,5%”, é o prenúncio da destruição e do colapso do sistema social. A austeridade é estúpida, da mesma forma como Romano Prodi comentou o aspeto "estúpido" do Pacto de Estabilidade e Crescimento por causa da sua excessiva e intransigente rigidez. O importante para inverter este processo, é a mudança de políticas e a rejeição do governo da troika que dá provas de apenas querer salvar bancos, privatizar, descapitalizar e absorver ainda mais os países já fragilizados. Por cá, António José Seguro entrincheirado, qual fantasma de um governo sombra, diz que concorda com a receita, só discorda da quantidade dos ingredientes. Na verdade o prato é o mesmo, mas com mais ou menos condimentos. A retórica verborrágica é uma propaganda envenenada, depois de votar o interior ao ostracismo, Seguro foi a Évora falar dos problemas do interior… Resultado, não tenhamos ilusões o PS pretende continuar a afundar o país, mesmo que a uma velocidade diferente do que o fazem Passos e Paulo Portas. O governo responde à crise pedindo imaginação à troika, recusando admitir o previsível aumento de endividamento. O memorando de entendimento foi assinado pelo PS, com o aval do PSD e CDS, sendo que estes últimos viram neste memorando o seu programa onde assinaram a sentença do interior e dos mais desprotegidos com as consequências dramáticas a que assistimos. Nem para o interior existe a preocupação de uma atenção em nome da coesão nacional e aguarda-se com preocupação a anunciada decapitação da representação democrática mais próxima das populações, as freguesias. O memorando da troika, apenas fala na redução de freguesias, o documento verde sim, é que aponta o número e nomeia as vítimas. Este governo esvaziado de propostas económicas, resume a sua governação assente no assalto dos mercados através da troika. E, à imagem de Monti na Itália e Draghi no BCE, já temos também a representação de um antigo gestor do Goldman Sachs através de António Borges, um destacado defensor da privatização do que é público, incluindo a CGD e que se “notabilizou” por ter defendido o subprime que esteve na origem da crise. Afinal a sua saída do FMI tinha fundamento e Passos Coelho apresenta mais um “laureado partidário” preparado e habilitado para leiloar o país. Esperemos que esta não seja também uma finta para satisfazer um dos desígnios do FMI, que trabalha para muitas multinacionais entre elas a Bechtel na privatização da água. Os jovens sujeitam-se à exploração, os idosos ao abandono e as mulheres assistem ao regresso da violência e da extrema discriminação neste retrocesso civilizacional. Temos assim, um país desgovernado por políticos incapazes de corrigir a economia, mergulhados no mais perverso fundamentalismo económico. A economia cruel afunda as pessoas, as empresas e os estados. De PEC em PEC, de austeridade em austeridade, Portugal navega a reboque da troika e segue o rumo da Grécia que vai ao fundo. Paulo Cardoso Relacionado:
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A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
A Comuna 33 (I semestre 2015) "Feminismo em Ação" | ISSUU | PDF | Revistas anteriores
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