A nova Esquerda Europeia: mitos e realidade Versão para impressão
Quarta, 09 Maio 2012

 

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A diabolização da Esquerda é por si só um pró-forma no modus operandi das agências noticiosas nacionais e internacionais. Tal situação agudizou-se, claramente, quando na segunda-feira transacta os mercados, interesses adquiridos e instâncias financeiras acordaram com os ecos do que se passava em França e na Grécia.

São várias as ilações a retirar. Em França, Sarkozy sofreu uma derrota pesadíssima ao ser o primeiro presidente da 5º República francesa a não ser reeleito. Os cidadãos franceses responderam, nas urnas, com um veemente não ao Tratado Orçamental Europeu – apenas mais um conjunto de medidas impostas sem serem submetidas a escrutínio popular. Ainda que não se devam criar ilusões em relação ao que irá Hollande fazer ao encetar as tão amargas negociações com a parte ainda resistente, mas moribunda, do Merkozy, é inegável afirmar que os franceses se insurgiram contra a austeridade. Os resultados de Melénchon na primeira ronda e agora a derrota de Sarkozy evidenciam a necessidade de mudança e o início de uma ruptura com as políticas de austeridade do “Pacto Franco-Alemão”.

Os mercados financeiros agitam-se, as bolsas entram em queda. O anúncio de colapso está já a ser feito pela comunidade internacional. A “extrema-esquerda” pode chegar ao poder na Grécia! As imagens dos gulags da URSS e das filas para senha de refeições já estão a ser preparadas para entrarem em alta rotação nos media. Ora bem, para os conservadores bacocos que querem continuar a veicular a ideia de que todo e qualquer um que se afirme como socialista tem no seu íntimo o desejo de “comer criancinhas ao pequeno-almoço”, desejo as boas vindas ao Socialismo do século XXI.

É de recriminar a existência de “extremistas” que querem realizar uma auditoria à divida e renegociá-la, que querem formar um governo de esquerda alargada contra o governo da troika, que querem cessar a aplicação das medidas de austeridade. Veja-se bem, esses mesmos extremistas não querem sair do Euro e assumem uma postura europeísta! Em suma, estes seres ignóbeis que querem construir uma sociedade mais igualitária e retirar a corda do pescoço do povo grego, alcançaram nada mais, nada menos de 16% dos votos (mais de 1 milhão de votos), sendo o segundo partido mais votado nas legislativas gregas.
Pois bem, atribuam a conotação que quiserem a este movimento mas o povo grego mais uma vez se manifestou. E manifestou-se contra a ditadura da troika, contra verem a sua vidas serem saqueadas por ingerência externa para satisfazer os privilegiados de sempre.
A pergunta impõe-se. Será possível ao Syriza formar Governo? As últimas notícias indiciam que tal não será possível. O sectarismo do Partido Comunista Grego, o compromisso do PASOK com o memorando e a posição dúbia da Esquerda Democrática – ainda que tenham chegado a um acordo – tornam pouco provável a formação de uma coligação.

Há esperança na Europa. As falácias da inevitabilidade e do fatalismo começam, lentamente, a ser descodificadas pelo povo europeu. E talvez, se esta vaga de não conformismo se alastrar pela Europa, possamos um dia efectivamente auto intitular-nos de povo europeu, ao invés de fantoches da troika, da França e da Alemanha.

A Front de Gauche e o Syriza são um exemplo que deveria ser transposto para Portugal. Um alargamento da esquerda, uma rejeição do sectarismo em nome da luta pelos direitos dos portugueses, um consenso que nos permitisse inverter esta situação de submissão. Por cá continuaremos, a lutar por isso. Perceber que um partido da nova Esquerda Europeia conseguiu obter 16% dos votos, é perceber que a troika está pela hora da morte. E no final do dia, somos todos gregos.

Cláudia Ribeiro

 

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