Poderemos estar perante a maior reviravolta política de sempre na União Europeia, a força da hegemonia nem sempre vence a vontade popular. A coligação de esquerda radical está à frente de várias sondagens e quero acreditar que o povo grego vai fazer história apesar de todas chantagens que têm sido alvo.

Claro que esta tem sido uma semana de duras críticas às opções do povo grego, tentando assim coercivamente desconstruir um projeto democrático e anti-austeridade.

Na Alemanha, de Merkel, começou-se por dizer que Grécia não era fundamental à moeda única e que a Europa conseguiria absorver facilmente o impacto causado pela saída da Grécia. No entanto, Merkel foi mais longe e disse mesmo que os gregos deveriam fazer um referendo no dia das eleições no sentido de optarem pela permanência ou na moeda única.

Também Durão Barroso disse que só se poderia esperar que a Grécia tomasse a decisão certa (ou seja a de se submeter às politicas esgotantes de austeridade).

Por outro lado, Alexis Tsipras diz que não será cúmplice dos partidos que se comprometeram em cortar gastos do governo, demitir funcionários públicos, reduzir salários e aposentadorias e flexibilizar os direitos dos trabalhadores, entre outras medidas que têm aumentado a pobreza e o desemprego no país. Alexis, no entanto, mantem uma política europeísta mas com um  projeto de crescimento, uma política que não se baseie apenas no pagamento de juros e a degradação da vida dos cidadãos mas que defenda os direitos sociais e dos trabalhadores.

Em suma, nesta sociedade global o que nos une não é a língua, ao contrário do que muitos defendem, mas sim as ideias. Seremos capazes de apanhar a onda da Grécia e livrarmo-nos do espartilho da austeridade? Para isso teremos que ter a destreza de não cedermos à direita e não sectarizarmos à esquerda.

Ricardo Nunes