Queremos mais, e não menos, democracia no BE |
Terça, 22 Maio 2012 | |||
Nos últimos dias houve duas afirmações interessantes, na imprensa escrita, que suscitam reflexão e debate. Segundo o jornal Sol, 18-05-2012, “o eurodeputado Rui Tavares, figura central do manifesto que pede a libertação da esquerda do sectarismo e do feudalismo político que a paralisa quer primárias no Porto antes que as concelhias partidárias escolham um candidato qualquer”. Por sua vez, Pacheco Pereira, pós-marxista-leninista-maoista-que-precisa-de-espiar-o-pecado, dissertou sobre “a honra perdida dos partidos portugueses” dizendo que “o BE, na sua génese, quer no PSR, quer na UDP, continua a ser um partido com um modelo leninista de controlo(…)”. in Público de 19-05-2012. Primárias abertas ao público, como acontece nos EUA ou Itália, “antes que as concelhias escolham o seu candidato” é quase como querer que os adeptos sportinguistas também possam decidir qual vai ser o ponta-de-lança do Benfica para o jogo do dérbi, como aceitar que o Amorim também possa votar o presidente do sindicato dos trabalhadores da cortiça ou como aceitar que simpatizantes do PSD possam votar os candidatos do Bloco ou do PCP. Como toda a gente sabe, a manipulação da informação e da opinião política mediatizada tenta condicionar a vida interna e as escolhas dos partidos. Primárias significam que a “libertação da esquerda” passa pela substituição das decisões democráticas dos aderentes pelas influências dos senhores feudais que dominam os media como são os senhores Belmiro de Azevedo ou Francisco Pinto Balsemão! Fazer dos aderentes do Bloco, cada partido fale por si, figurantes de um filme com final direcionado ou tutelado só deve merecer a rejeição dos aderentes bloquistas. Primárias são jogos de poder escondidos nas negociações de grupos e a manipulação das opiniões para implantar o dirigismo sobre a base dos aderentes. Primárias são máscara de democracia em versão televisiva de big brother partidário. Fica por se perceber o porquê da diabolização das estruturas de base, as concelhias. Cuidado, “antes que as bases decidam” haja toda a pressão externa, haja toda a manipulação, haja toda a mediatização, haja todo o conflito. Quando as propostas não colhem apoios nos meios a que se destinam é natural que as pessoas mudem de opinião, daí que seja natural que depois surja a defesa de primárias internas a cada partido. Será uma proposta excelente para implantar o caciquismo de personalidades, os “sindicatos de voto” e o grupismo. Há exemplos fartos e tristes no PSD, PS e CDS. É isso que é a libertação da esquerda? Tudo o que seja substituir debate de ideias (com responsabilização de equipas) por conflito de personalidades e pessoalização de escolhas – desprezando a inteligência dos aderentes e o debate político - é regredir nas lições que a esquerda retirou da sua história e dos cultos de personalidade. Um exemplo interessante é o que se passa nas eleições à câmara federal brasileira: os partidos candidatam uma lista mas cada candidato tem o seu nº e faz campanha por si. Assim os eleitores acabam tendo uma campanha de personalidades individuais que, por vezes, entram em conflito com os restantes candidatos do seu próprio partido. O programa e a alternativa do partido são secundarizados pela personalidade do candidato [vota Tiririca], a união interna construída na pluralidade e na diversidade é mandada às ortigas ou é substituída pela guerrilha grupista. A experiência do Brasil mostra como a personalização da candidatura favorece a opção partido barriga de aluguer. E claro, os media e os grupos económicos e de interesse jogam e apostam nos “cavalos” que lhes convêm em cada partido. Por sua vez, Pacheco Pereira objetiva criar confusão sobre a natureza do Bloco. O modelo leninista de partido, foi uma resposta russa para uma situação concreta russa, de clandestinidade e perseguição policial permanente, uma situação de guerra, dificuldades extremas de comunicação e iliteracia geral - tudo bem ressalvado por Lenine. Outra coisa foi a generalização stalinista e dogmática desse modelo, a absolutização do militante que participa ativamente e paga todas as contribuições estabelecidas, o centralismo democrático que impõe controleiros e ordens ou as direções dos partidos que propõem as direções seguintes. Nesse modelo de partido os sindicatos e os movimentos sociais são correias de transmissão do partido, os militantes recebem diretivas sobre o que fazer nesses movimentos, as tendências são proibidas e apelidadas de fracionistas e expulsam-se militantes por divergências políticas. Na alta sabedoria do comité central, ou da sua elite, só este pode propor a tese política ao congresso, teses alternativas são proibidas e os contributos são previamente aprovados ou rejeitados pelo comité central antes de irem à votação naquele que [para mim] deve ser o lugar de todas as decisões: o congresso/convenção. A intenção de Pacheco Pereira não ambiciona dividir o Bloco, ambiciona enganar sobre o Bloco – para que os sectores mais conscientes se afastem do BE temendo o dogmatismo. Os conceitos que menorizam a inteligência e o valor individual e colectivo dos aderentes não interessam ao Bloco. O que nos interessa é aumentar a democracia interna, o debate e a participação, a diversidade, a pluralidade e a transparência das ideias, actos e actores. Victor Franco Outras opiniões minhas sobre correntes, tendências e democracia no Bloco de Esquerda, podem ser lidas no artigo que escrevi em Julho de 2011, no debate público do esquerda.net clicando aqui
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A Comuna 33 e 34
A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
A Comuna 33 (I semestre 2015) "Feminismo em Ação" | ISSUU | PDF | Revistas anteriores
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