Nos Estados Unidos, na década de 60, durante uma luta acesa pelos direitos civis, Martin Luther King disse "É nosso dever moral, e obrigação, desobedecer a uma lei injusta."Gostaria de resgatar esta afirmação que, quando analisada de um ponto de vista geral, continua a fazer sentido, fazendo dela intemporal e abrangente a vários setores de luta social. Fazendo a retrospetiva daquilo que têm sido estes 13 anos do séc. XXI podemos observar uma sociedade em declínio, pobreza, fome, conflitos entre outras calamidades sociais. Como em tudo na vida, toda a ação tem uma consequência. E questionar essa ação, esse motivo, é necessário. É necessário para compreender aquilo que nos levou a esta destruição. Resgatar as nossas vidas é um imperativo nos dias de hoje. Durante o século XX, observamos, na Europa, a diferentes modelos desenvolvimento, com resultados claramente diferenciados. Países como a Finlândia, a Noruega e a Suécia mostram índices de desenvolvimento económico e sociais elevados. Porque razão é que na maioria dos países da Zona Euro isto não se verifica? E a resposta está numa palavra que se tem ouvido agora, mais do que nunca nestes últimos anos, o Estado Social. Garantir que o Estado recetor de impostos consegue ser o redistribuidor de riqueza, de forma a que todas as pessoas possam ter acesso à educação, à saúde, à habitação, ao rendimento mesmo em casos de desemprego ou doença é fundamental para que as sociedades evoluam e dita de forma decisiva o desenvolvimento económico e social de um país . É através da boa gestão deste mesmo Estado Social que um país dita o seu triunfo enquanto unidade nacional ou o seu falhanço e todos os problemas adjacentes. Depois da Segunda Grande Guerra, a burguesia soube o que tinham de fazer para responder à enorme revolta social que varria a Europa. Porque já os antigos diziam: "Mais vale um pássaro na mão, do que dois a voar". Permitiu-se assim o desenvolvimento de Estados fortes que garantiam aos povos o acesso aos serviços e aos bens básicos para a sua sobrevivência e desenvolvimento. E como era de esperar a evolução aconteceu. Mas isto chateia quem detêm o poder, isto equilibra a luta de classes e a hierarquia social. Na década de 80 surge o neoliberalismo com o claro intuito de desequilibrar novamente os pratos da balança. Começa a grande propaganda desta máquina doente que vê no ser humano nada mais do que uma força para gerar riqueza; surgem as privatizações desenfreadas, o livre-mercado, a exploração e com isto a balança social volta a desequilibrar-se. Por demasiados anos o povo explorado compactuou com isto, muitas vezes de forma inconsciente, elegendo aqueles que se diziam "amigos do povo". A raposa tomou conta do galinheiro. Vimos a educação pública cair, a saúde a ser afetada e a tornar-se mais cara, o poder de compra a diminuir e por aí fora... Tudo isto engordando as gravatas daqueles que as usam e furando os bolsos do operário na busca de mais um "tostão" para responder a estes interesses económicos que ditam uma era de declínio e miséria. Temos que olhar para a história para compreender o presente, caso contrário, estamos condenados a repeti-la. Não será esta a hora de dizer basta? Não será esta a hora de alimentar a chama da luta de classes, outrora tão viva e ardente, em nome da qualidade de vida? Acima de tudo está na hora de resgatar o nosso dever moral, e combater estas leis injustas, e esta desigualdade que nos impõem.
Pedro Alves
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