A 25 de Abril de 1945, deu-se a queda final do regime fascista em Itália. Mussolini viria a ser morto em praça pública três dias depois, a 28 de Abril. Por terras de Salerno a comemoração foi ténue e decidiu ocupar as ruas apenas de manhã, desde o Largo della Stazione até à Piazza XXIV Maggio (outra data antifascista). De tarde o principal espaço verde desta terra a sul de Nápoles recebeu um convívio organizado por uma Associação antifascista italiana. Esta associação, que conhece gente muito diferente: apartidária, com partido, de movimentos sociais diversos, com ideologias várias discutiu, com todos e todas que se quiseram juntar, o porquê de ainda se festejar esta data. Uma das intervenções clarificou bem o que eu também penso sobre este tipo de comemorações: «nós não queremos festejar este dia como se fosse passado. Nós só o comemoramos porque ele é o início do caminho para uma sociedade mais justa e igualitária. Não é fim da luta antifascista, como muito querem fazer crer. Eu quero aqui discutir o que vou fazer depois desta conversa.» Um dos temas mais discutidos foi a problemática da imigração. Num país como Itália onde entram todos os meses centenas de novos imigrantes vindos do norte de África e Próximo Oriente, as políticas de Berlusconi dos últimos anos estrangularam todos as possibilidades dos imigrantes que trabalham todos os dias e criam riqueza terem uma vida digna, estável e com direitos iguais a qualquer outro cidadão italiano. A ofensiva contra a Constituição não é caso único em Portugal, muito pelo contrário. A direita conservadora italiana faz pouco tempo que lançou na sociedade civil um aviso sobre os direitos dos imigrantes – parecia-lhes excessiva a proteção consagrada na constituição que defendia que filhos de imigrantes que nasçam em território da península itálica sejam italianos. Propõem agora uma alteração que acabe com esse direito. Proposta que o Movimento 5 Estrelas escreveu no seu programa, também. O movimento que se reivindica contra os políticos converte todo o seu discurso populista no escasso e retalhado programa eleitoral que apresentou às últimas eleições. Os constantes ataques às Constituições europeias que formaram o projeto europeu é obra consertada do Partido Popular Europeu. O projeto austeritário é o plano para o empobrecimento dos povos da periferia. É através dessa análise que podemos chegar a uma conclusão: que o que se vive hoje na Europa não é o mesmo acontecimento que antecipou as outras duas guerras mundiais. Não são meramente Estados com interesses diferentes, é antes um modelo económico e financeiro que conflui todo o capital financeiro na Europa central (nos principais bancos franceses e alemães), modelo esse que só é suportado se os governo dos «PIGS» aceitarem e apoiarem esta política centralizante. A Direita europeia não é mais aquela que também lutou contra o nazismo e o fascismo no período da 2ª Grande Guerra, pelo contrário, esta Direita europeia abriu as portas a que o ultraconservadorismo voltasse em força (recordo que Merkel a semana passada defendeu a legalização de um movimento fascista alemão). Nem esta direita é a mesma nem tampouco a social-democracia é reconvertível a um qualquer programa radical capaz de rasgar o memorando e criar políticas de emprego e crescimento económico que defenda o salário e o trabalho. Na mesma semana da comemoração do 25 de Abril, tivemos a certeza do que já todos sabíamos: o PS em palco faz a mesma cena que a Direita fez há dois anos atrás: tem sede de poder, de privatizar, de cumprir o programa de destruição da economia escrito no Memorando e quer honrar todos os compromissos com os agiotas que todos os dias nos vão ao bolso para pagar uma dívida com juros desumanos. Em tempos de crise, em tempos de uma das maiores ofensivas da direita na História da Europa e em tempos da capitulação da social-democracia, é hora de celebrar com esperança e força para o futuro todos os 25 de Abril.
Luís Monteiro
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