Um tiro pela culatra |
Terça, 18 Junho 2013 | |||
Os professores que decidiram não pôr os pés nas escolas, no dia 17, fizeram-no porque precisavam deles para dar uma monumental pateada ao Crato e ao resto do governo. Em protesto pela escola pública. E esta é a mesma luta dos estudantes. Não nos prejudica. É por eles e por nós.
Artigo de António Cucu, estudante do secundário. Os professores que decidiram não pôr os pés nas escolas, no dia 17, fizeram-no porque precisavam deles para dar uma monumental pateada ao Crato e ao resto do governo. Em protesto pela escola pública. E esta é a mesma luta dos estudantes. Não nos prejudica. É por eles e por nós. Contudo, parece difícil a algumas pessoas entender os propósitos desta greve. Para algumas pessoas, os professores são uma classe privilegiada, com pouco trabalho mas muitas regalias. Para algumas pessoas as greves apenas servem para prejudicar. Para algumas pessoas, os professores fazem greve como quem faz uma birra. Muito se fez contestação à greve pelo impacto negativo que esta teria na vida dos estudantes, impedidos de realizar os exames. Todos os alunos têm direito a realizar os exames nas datas marcadas, é verdade. Mas todos os alunos também têm direito à educação e ao usufruto da escola pública. Uma escola que abra portas e que lhes dê formação com a melhor qualidade possível. Todos os alunos tanto têm direito a ter português como educação visual. Infelizmente, tem-se caminhado pelo caminho oposto. O que não dá lucro, corta-se; a educação, assim como a segurança social, foram colocadas sob o jugo da besta neoliberal. A greve também serviu para lutar contra isso. Mas o tiro acabou por sair pela culatra a Nuno Crato. Se por um lado tentou, de todas as formas possíveis, anular os efeitos da greve, sempre em nome dos alunos (e assegurando-lhes que tudo se realizaria com normalidade no dia previsto), acabou por colocá-los numa situação pior. A teimosia de Crato levou à criação de uma situação de desigualdade de circunstâncias entre os alunos: alguns enfiados às centenas em pavilhões desportivos e cantinas, vigiados por um número insuficiente de professores; em algumas escolas todos fizeram exames, noutras escolas ninguém os fez e ainda há escolas em que apenas algumas salas estavam em funcionamento, enquanto os alunos que não foram chamados protestavam: "se não há exames para todos, não há exames para ninguém". A teimosia de Nuno Crato levou ao seu descrédito total por parte dos portugueses, pois viu-se obrigado a ceder, a tomar a decisão do adiamento quando o estrago já estava feito. No dia 17 os professores fizeram greve. Na greve geral já convocada para o dia 27, muitos mais a farão. E aqui há uma hipótese, uma luz que pode levar à implosão do ministério, definitivamente. E se, junto aos professores manifestantes, aderissem os jovens estudantes à greve também, mostrando que não pretendem ser mais um escudo humano do ministério? Que não pretendem mais que brinquem com o seu futuro. Que querem mais educação e menos negócio. Lancemos o apelo, e façamos a luta toda.
Foto de Paulete Matos
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A Comuna 34 (II semestre 2015) "Luta social e crise política no Brasil" | Editorial | ISSUU | PDF
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