Arsenal do Alfeite, parte considerável da minha vida de 1967 a 2009.
Intervenção de Luís Filipe Cruz Pereira
Sr.º Almirante Chefe do Estado Maior da Armada Sr.ª Presidente da Câmara Municipal de Almada Sr.º Vice-Almirante Superintendente dos Serviços do Material Sr.º Contra-Almirante Administrador do Arsenal do Alfeite Sr.º Eng.º Manuel Carlos da Maia Camaradas da Comissão de Trabalhadores do Arsenal do Alfeite Exm.ªs Senhoras convidadas Exm.ºs Senhores convidados Arsenalistas
Quando entrei no Arsenal do Alfeite pela 1ª vez no dia 4 de Setembro de 1967, estava muito longe de vislumbrar o longo percurso que aqui iria percorrer, digo longo mas não penoso. Enquanto Aprendiz, denominação bem definida na estrutura de carreiras do Arsenal do Alfeite, iniciei a minha trajectória profissional no meio das limas, das brocas, dos punções e das puncetas com as quais me ensinaram a dar forma ao material; matéria prima como não se cansava de dizer o velho Luís Monteiro, o meu monitor, que mais tarde eu próprio vim a substituir aquando da sua aposentação. Sinto que alguém como eu, porque estou longe de ser caso único que iniciou a sua vida no mundo do trabalho aos 15 anos de idade no Arsenal e aqui permaneceu ao longo de 40 anos, tem a vida ligada à vida do Estaleiro. Este Arsenal contribuiu para a formação profissional e cívica de milhares de homens e mulheres que engrandeceram e levaram longe o nome do Arsenal do Alfeite, conhecido por muitos como uma Escola de excelente qualidade. Era lugar comum dizer-se que o "Arsenal é uma escola, só não aprende quem não quer" Os velhos Arsenalistas foram responsáveis pela transmissão de sabedoria profissional, pessoas muito dedicadas, e de extrema entrega à profissão. Relembro e inclino-me perante a sua memória. Muitos destes homens já não se encontram entre nós mas ensinaram-me muito e não resisto a citar o nome do Mestre Fernando Filipe que foi o primeiro Mestre com quem contactei no Arsenal. Este é um dos exemplos de homens que nunca morrem na minha memória. Ainda como Aprendiz viajei para as terras do Japão, porque desde muito cedo que participei nos Concursos de Trabalho (que ainda hoje se realizam) e em 1970 tendo obtido a 1ª classificação do Concurso Nacional, que se realizou na Escola Emídio Navarro, fui então representante do Arsenal e de Portugal em Chiba no Japão. Esta foi uma experiência única! Devo-a ao Arsenal e aos seus Mestres. Mas foi também no Arsenal que ainda jovem despertei para as questões sociais e alguns exemplos de velhos operários lutadores anti-fascistas, marcaram em mim uma profunda convicção de ter uma dívida de vida para com a sua memória, porque muitos lutaram em prol da Democracia e infelizmente não chegaram a usufruir da sua Liberdade. No Arsenal fui Aprendiz, Ajudante de Operário, Operário Serralheiro Mecânico, Monitor de Serralharia Mecânica, Monitor Coordenador e presentemente Técnico Industrial. Foi na Formação, que encontrei os verdadeiros desafios, que se colocaram desde logo ao nível de uma maior exigência em relação ao estudo e desse modo consegui em adulto aquilo que não fui capaz de fazer em jovem e ao mesmo tempo que fui avançando, ajudei a crescer tantos jovens, que encontraram no Arsenal uma Universidade dos conhecimentos práticos e tecnológicos. Na passagem do seu 70º Aniversário, ninguém pode ficar indiferente perante o n.º de embarcações que aqui foram construídas; desde o Navio Hidrográfico D. João de Castro em 1941 até ao Salva-Vidas "Atento" em 2008. foram construídos 149 Navios e embarcações diversas, para a Marinha Portuguesa e outras entidades nacionais e estrangeiras". Fica a marca indelével de uma construção naval de excelência, só possível com a conjugação de esforços e saberes de quem trabalhando no Arsenal, coloca empenho e responsabilidade naquilo que faz, de forma a perpetuar a transmissão de conhecimentos que importa preservar. Hoje encontro no Arsenal do Alfeite homens e mulheres com o mesmo espírito, conhecimentos profissionais e vontade de dar o seu melhor, pela continuidade do Arsenal do Alfeite Público, ao serviço da Marinha, do País e de todos os trabalhadores. Viva o Arsenal do Alfeite.
Luís Filipe Cruz Pereira
Arsenal do Alfeite 04 de Maio de 2009
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